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  • Entender a Síndrome do Cuidador
    Iniciado por cepticooucrente
    Lido 1.714 vezes
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Habitualmente cuidar de outra pessoa exige, em certos momentos, uma boa dose de paciência. Se esta dedicação supera certos limites, o estresse e o esgotamento físico e psicológico aparecem e cobram seu preço. É neste contexto que podemos entender a "Síndrome do Cuidador".

A Síndrome do Cuidador

A  Síndrome do Cuidador é um transtorno que afeta aquelas pessoas que tem que exercer essa profissão. Ela se caracteriza pelo agravamento progressivo da sintomatologia negativa. Isso acontece porque o cuidador, pouco a pouco, transforma sua vida na do doente e os problemas dele nos seus.

Cuidar durante 24 horas de uma pessoa que sofre de alguma doença ou apresenta certo tipo de deficiência gera um peso que é preciso eliminar com momentos de folga, de abandono temporário do trabalho, etc. É preciso passar de cuidar para ser cuidado. Tomar conta de alguém implica assumir e desempenhar atividades para as quais, muitas vezes, não estamos preparados e com as quais precisamos nos acostumar. Esta responsabilidade pode, com o tempo, se transformar num transtorno, já que, segundo alguns especialistas, esta síndrome se desenvolve conforme o cuidador vai assumindo tarefas (alimentação, medicação, higiene, etc.) que implicam estar 100% responsável por alguém, o que leva a uma enorme consequência física e psicológica.

A responsabilidade de cuidar do paciente exige uma dedicação quase , restando pouco tempo para se dedicar a outras atividades pessoais e sociais. Esta atenção contínua gera um esgotamento no cuidador, mas também gera angústia e um sentimento de culpa quando ele não está cuidando do paciente. Isso pode acarretar em ansiedade, depressão, isolamento, transtornos de sono e, acima de tudo, cansaço físico e psíquico.

A vida do cuidador muda por completo

Quando uma pessoa exerce o trabalho de cuidar de alguém, sua vida muda completamente. O tempo que ela tinha para se dedicar a si mesma é incrivelmente reduzido, afetando suas relações pessoais e sociais. Seu estado de ânimo muda, tornando-se mais suscetível a alterações e facilmente irritável. Longe de ajudar, isso tudo prejudica tanto o cuidador quanto o paciente.

O segredo está em detectar a aparecimento dessa síndrome e preveni-la. Assumir a tarefa de cuidar de alguém implica em se dedicar completamente a ela. Não precisamos somente adquirir capacidades para os cuidados médicos do paciente, mas também nos organizarmos e dividirmos as tarefas com outras pessoas, para evitar a sobrecarga de funções e, portanto, a  ansiedade.

Outro aspecto fundamental e que os especialistas enfatizam bastante é que é preciso que o cuidador evite, de todas as maneiras possíveis, anular sua vida social. É importante continuar apreciando algumas horas de lazer e de tempo livre, para se desconectar um pouco da dura tarefa que exerce. Isto repercute positivamente no humor do cuidador e, portanto, será mais fácil para ele assumir o trabalho.

Quando a experiência de cuidar de uma outra pessoa se estende por muito tempo, uma das opções mais recomendadas é tentar procurar apoios e recursos externos para dar conta desta complicada situação. Nem sempre essa alternativa está  disposição do cuidador, mas é necessário tentar pedir ajuda para evitar piorar os transtornos emocionais acarretados por este trabalho.

O cuidador precisa encontrar momentos para cuidar de si mesmo, ou para que outras pessoas cuidem dele. Isso é muito importante. Caso não seja assim, aqueles que realizam esse belíssimo trabalho também acabarão doentes. Devemos, então, cuidar do cuidador. Aquele que cuida é, também, aquele que merece mais cuidados.


A Mente é Maravilhosa

Bom tópico. Muitas vezes as pessoas esquecem-se do papel do 'cuidador' e das consequências que traz para ele mesmo.

Na minha vida tenho um bom exemplo de como este texto é credível. O meu avô cuidou da minha avó durante 30 anos, 20 deles ela estava 100% dependente dele. Ele era uma pessoa calma, passou a ser super ansioso e irritável. Andava sempre num stress constante... O máximo que fazia era passar os fins de semana na terra mas mesmo assim não aproveitava porque estava sempre a pensar que tinha de vir embora e ia embora mais cedo do que necessário, etc. Várias vezes foi convidado para ir em excursões, viagens com familiares, jantares de ex-colegas...sempre recusou.
Apertava-me a alma vê-lo a não viver :(
Quando a minha avó morreu, fiquei aliviada por ela não sofrer mais e por ele estar livre. 1 mês depois foi diagnosticado com cancro no cerebro do pior grau possivel. E agora está num estado igual ou pior ao que ela estava :(

Citação de: SaraRS em 28 outubro, 2015, 11:20
Bom tópico. Muitas vezes as pessoas esquecem-se do papel do 'cuidador' e das consequências que traz para ele mesmo.

Na minha vida tenho um bom exemplo de como este texto é credível. O meu avô cuidou da minha avó durante 30 anos, 20 deles ela estava 100% dependente dele. Ele era uma pessoa calma, passou a ser super ansioso e irritável. Andava sempre num stress constante... O máximo que fazia era passar os fins de semana na terra mas mesmo assim não aproveitava porque estava sempre a pensar que tinha de vir embora e ia embora mais cedo do que necessário, etc. Várias vezes foi convidado para ir em excursões, viagens com familiares, jantares de ex-colegas...sempre recusou.
Apertava-me a alma vê-lo a não viver :(
Quando a minha avó morreu, fiquei aliviada por ela não sofrer mais e por ele estar livre. 1 mês depois foi diagnosticado com cancro no cerebro do pior grau possivel. E agora está num estado igual ou pior ao que ela estava :(

Realmente... dá que pensar...  :'(

sofiagov
Excelente Ceptico...obrigado por esta partilha.

#4
Estes dois tópicos sobre o cuidador - profissional/familiar/amigo - constituem acima de tudo um exercício de reflexão sobre os cuidados a ter por aquele que cuida.

O que cuida se não se cuidar acabará em cuidados...

O profissional, ao olhar a tarefa como profissão, com horário, salário, etc., nunca estará tão exposto ao stress e afins a que estará sujeito aquele que o faz por "obrigação" familiar, amizade ou amor. Ao contrário do profissional, este último na maioria das vezes não tem sequer qualquer preparação psicológica para o ajudar a, dentro de cada quadro, encontrar formas de minimizar o desgaste físico mas, muito principalmente, emocional que inevitavelmente vai sofrer.

Então, estes cuidadores voluntários - alguns deles voluntários "à força" - merecem de todos nós respeito e admiração. E a nossa ajuda, porque não?, se tivermos disponibilidade.

Cuidem-se para que possam continuar a cuidar...

Bem-hajam!


PS.: Este tema vai estar na ordem do dia nas próximas décadas atento a evolução demográfica.

PS.1: Sara, provavelmente cumpriu a sua última grande missão.



Citação de: Malik_ em 28 outubro, 2015, 12:21

Cuidem-se para que possam continuar a cuidar...

Esta frase do Malik resume muito bem :)


Muito bom tópico ceptico...:)


Uma coisa é certa, só podemos dar o que temos para dar e se não alimentarmos também o nosso amor não podemos amar ninguém
A verdade doi, mas liberta

Citação de: Malik_ em 28 outubro, 2015, 12:21
(...)
Então, estes cuidadores voluntários - alguns deles voluntários "à força" - merecem de todos nós respeito e admiração. E a nossa ajuda, porque não?, se tivermos disponibilidade.
Cuidem-se para que possam continuar a cuidar...

(...)
PS.1: Sara, provavelmente cumpriu a sua última grande missão.
Malik, bem hajas.

Infelizmente, no caso do meu avô, levava tão a sério o seu papel, que levava a mal qualquer tipo de tentativa de o ajudar / aliviar... Nunca quis enfermeiras em casa, nem queria deixar a minha avó em lado nenhum, nem que fosse só 1 ou 2 dias... Sempre se sobrecarregou e acabou por dar cabo dele fisica e psicologicamente... Por mais que admirasse e respeitasse a sua atitude, só queria que aquela ligação doentia à minha avó acabasse.

O que queres dizer com a sua ultima grande missão?  :)

Citação de: SaraRS em 28 outubro, 2015, 11:20
Quando a minha avó morreu, fiquei aliviada por ela não sofrer mais e por ele estar livre. 1 mês depois foi diagnosticado com cancro no cerebro do pior grau possivel. E agora está num estado igual ou pior ao que ela estava :(

Sara, por acaso já reparaste que na corrida da maratona há imensos atletas que, após mais de 40 Km de prova, desfalecem após cortar a meta e não antes?

O teu avô já deve ter uma certa idade e, após ter cumprido uma missão dessa importância e desgaste durante mais de 20 anos, provavelmente não lhe estará reservada outra de tamanha dimensão.

Era o que pretendia dizer.

As melhoras dele e bem-hajas pela partilha!

Citação de: Malik_ em 28 outubro, 2015, 18:17
O teu avô já deve ter uma certa idade e, após ter cumprido uma missão dessa importância e desgaste durante mais de 20 anos, provavelmente não lhe estará reservada outra de tamanha dimensão.

Obrigada.
Só acho que merecia a simples missão de ser feliz :) a vida não devia ser só sacrifício.
Tem 81 anos... na familia ha pessoas com a idade dele e mais velhas a fazerem a vida normal...
E a ele e à minha avó caiu isto na rifa. Infelizmente não há qualquer possibilidade de melhoras, está 100% dependente.
Enfim, é só um desabafo.