Automático.

Há dias que me sinto automático. Há dias que a inspiração parece que foi pelo cano. São aqueles dias vulgares, mais um no calendário. Levantas-te, lavas-te, vestes-te, comes, sais, trabalhas, regressas, comes, dormes.
Chega o dia ao fim e sabes que apenas trabalhaste para outra pessoa, mas em teu prol pouco fizeste. Se calhar não te riste uma única vez, ou choraste de rir. Se calhar não cometeste uma pequena loucura para te sentires vivo. Se calhar nem viste o Sol a brilhar embora ele te inundasse com a sua luz. Se calhar não paraste no meio da rua e deste aquela inspiração profunda que te leva ar aos pulmões e alivio à alma.
Nem viste o teu colega feliz porque o chefe fez uma boa observação. Nem a empregada do café que te sorria enquanto te atendia. Nem o aceno efusivo do vizinho que ao ver-te parecia genuinamente contente. Nem olhaste as estrelas que começavam a aparecer no céu ainda algo azulado.
E o teu cão quase parece ter molas nas patas ao ver-te chegar a casa. E o novo desenho da miuda no frigorifico nem reparaste sequer, só o abriste para satisfazer a necessidade de comer. E nem reparaste que os lençóis da cama são novos e cheiram tão bem e a tua mulher olha-te com ansiedade para que digas algo...e que o teste de matemática do miúdo está aberto em cima da mesa com uma nota que quase salta do papel para os meus olhos. Mas nada vi hoje. Nada vivi hoje. Apenas estive presente...

Bela descrição de dias que todos temos ou já tivemos... muito bom!

Há dias assim... e acho que esses dias são os que nos fazem alienar de todas as nossas preocupações... a presença física associada com a viagem da "alma".

Boa partilha!