A vida é uma viagem experimental - Bernardo Soares

A vida é uma viagem experimental, feita involuntariamente. É uma viagem do espírito através da matéria, e, como é o espírito que viaja, é nele que se vive. Há, por isso, almas contemplativas que têm vivido mais intensa, mais extensa, mais tumultuariamente do que outras que têm vivido externas.
O resultado é tudo. O que se sentiu foi o que se viveu. Recolhe-se tão cansado de um sonho como de um trabalho visível. Nunca se viveu tanto como quando se pensou muito.
(...)
Estou não só cansado, mas amargurado e a amargura é incógnita também. Estou, de angustiado, à beira de lágrimas - não de lágrimas que se choram, mas que se reprimem, lágrimas de uma doença da alma, que não de uma dor sensível.
Tanto tenho vivido sem ter vivido ! Tanto tenho pensado sem ter pensado ! Pesam sobre mim mundos de violências paradas, de aventuras tidas sem movimento. Estou farto do que nunca tive nem terei. Trago comigo as feridas de todas as batalhas que evitei. Meu corpo muscular está moído do esforço que nem pensei em fazer.

Bernardo Soares, 1932

"A vida é uma viagem experimental, feita involuntariamente. É uma viagem do espírito através da matéria, (...)

Sara...lindo isto! 

"A vida é uma viagem experimental, feita involuntariamente. É uma viagem do espírito através da matéria, e, como é o espírito que viaja, é nele que se vive."

Então não é.... lindo!

Mensagem muito bonita.

Será que é mesmo uma "viagem involuntária"?... ou será uma decisão do próprio espírito?

a vida é um sem fim de questionamentos...

O texto é lindo. Mas na questão da involutariedade tenho duvidas, muitas mesmo.

O texto é lindo. Mas na questão da involuntariedade tenho duvidas, muitas mesmo.

Para o corpo deve ser involuntário até porque passa por um processo biológico que lhe permite "receber" um espírito e acomodá-lo toda a vida.
"e, como é o espírito que viaja, é nele que se vive" - frase muito bonita e que consegue de forma simples explicar a nossa viagem.
A alma, em permanente evolução, habita um corpo nesta passagem fugaz pela vida e tenta chegar a um patamar mais evolutivo na sua essência. Poderíamos começar uma dissertação da Alma por aqui mas temos vários factores a considerar:
Eu não tenho consciência dos estados anteriores da minha alma. Porquê? Por ela estar presa ao corpo deixo de ter noção disso? então tenho duas consciências... a da alma em si, que não me apercebo porque senão saberia o que aconteceu nas "viagens" anteriores e a do corpo, que é esta de onde vos escrevo agora.
Esta consciência do corpo é meramente física? Mas se é como consegue questionar os estados evolutivos da alma? Meramente física trabalharia apenas em prol do corpo e da sua sobrevivência (que já faz) e não se interrogaria sobre o espírito.
Na minha opinião as duas formam uma simbiose onde aproveitam uma da outra os recursos que cada uma disponibiliza até se separarem no fim do corpo. Aí a consciência física termina e continua a da alma. No entanto este desespero que sentimos ao pensar na morte é perante a morte da parte física porque não temos compreensão do que é viver no modo alma.
São questões muito profundas do ser humano que gostaria de abordar mais num novo tópico brevemente.