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  • Choped Literário - Maio '15
    Iniciado por Gawen
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Choped Literário - Maio '15

Por esta altura já todos sabem, mas...
...o que se pretende com este desafio é que os participantes escrevam um texto de sua autoria incluindo os 3 elementos apresentados.

Existe uma regra de ouro:
Os 3 elementos apresentados têm que ter um papel importante na história.

Por exemplo, uma enfermeira, um cotonete e um caixote. Os 3 elementos não podem ser logo descartados:

Era uma tarde de Verão e a Enfermeira Zuleica terminava o seu turno. Uma comichão atroz no ouvido atormentava-a desde essa manhã. Foi até ao vestiário, pegou num cotonete e limpou o ouvido. "Devo estar a fazer uma otite", pensou ela. Deitou o cotonete no caixote do lixo e começou a despir a farda. Só depois se apercebeu que estava mais alguém no vestiário, rapidamente parou o que estava a fazer e foi espreitar, dando de caras com o Dr Ramiro...

Podem acrescentar-se elementos (o Dr Ramiro pode existir) mas os restantes elementos têm que existir ao longo da história ou ter um papel importante para a mesma.
Os elementos podem ser utilizados em qualquer ordem, independentemente da apresentada no enunciado do desafio.

Vencerá a história com maior número de gostos do sistema de gostos do fórum.

Dados e informação necessária para este desafio:
ELEMENTOS:
Príncipe
Pergaminho
Cabana

Data limite: 13 de Junho de 2015
Resultados: Sai vencedora a história com maior número de gostos até à data limite, portanto, apressa-te a participar!

Regras:
- Texto em Português e sem erros ortográficos.
- Texto original; não são permitidas cópias de textos existentes.
- Apenas um conto por utilizador.


Importante:
- Cada participante deverá submeter o seu conto neste tópico até às 23h59 do dia 13 de Junho.
- Será eleito vencedor o participante cujo conto seja o mais votado pelo sistema de gostos do fórum até à data limite do desafio, em caso de empate, será um dos moderadores do Cantinho das Artes a desempatar.
- Será atribuído o "Prémio Choped do Mês" ao conto vencedor, este prémio consiste para já num pequeno ícone de mérito junto ao vosso nome no fórum.

Qualquer dúvida, questão, crítica, sugestão, etc, apresenta-a aqui ou directamente por mensagem privada.

Boa sorte e, acima de tudo, esperamos que se divirtam e que apreciem os trabalhos que serão aqui apresentados.
E já sabem, sempre que tiverem alguma ideia entrem em contacto, todas as sugestões são bem vindas!  ;)

P.S. Os participantes são responsáveis pelo respeito às leis dos direitos de autor!

Eu ca acho que o sr. Gawen devia começar a escrever a historia tambem. Ele é tao engraçado e escreve tao bem. :-)
O atrevido do Dr. Ramiro que andaria a fazer no balneário das ladys? rsrsrsrsrsrsrsrs

Numa de brincadeira ainda hei de dar continuidade á tua historia eheheheheheh

Ahah Super Dragona, estás à vontade para continuar as aventuras da senhora enfermeira Zuleica e do Dr. Ramiro ;D
Eu não participo por uma questão de ética e, sendo eu quem lança as 'palavras-chave' acabaria sempre por ser tendencioso. No entanto, olha, divirto-me a escrever os exemplos para cada desafio e a ler as vossas histórias! :D

Citação de: Gawen em 14 maio, 2015, 15:00
Ahah Super Dragona, estás à vontade para continuar as aventuras da senhora enfermeira Zuleica e do Dr. Ramiro ;D
Eu não participo por uma questão de ética e, sendo eu quem lança as 'palavras-chave' acabaria sempre por ser tendencioso. No entanto, olha, divirto-me a escrever os exemplos para cada desafio e a ler as vossas histórias! :D

Acho que podias participar na mesma, mesmo que os teus votos nao contem... Descansa que nao vai sair uma cena de "anatomia de grey", vai sair uma cena mais à meu estilo... à dragona :-)

Sim, teria que ser nesses moldes naturalmente  :)
Ahah e é mesmo por ser "à Dragona" que desperta ainda mais curiosidade!

#5
          Príncipe – pergaminho – cabana

Uffa, finalmente acabaram as aulas, já estava cansada de me levantar cedo! – Disse Sara num tom bastante alegre.
Já somos duas – disse a Susana
Três! – Exclamou Zé – também já estava farto da faculdade
Onde vamos passar as férias? – Perguntou o Humberto juntando ao resto do grupo.
Berto! – Como te correu o exame? – Perguntou Sara
Fixe, como sempre – respondeu Berto. E então e as ferias, onde vamos? 
¬Sabem o que eu acho? Que seria fixe irmos para cabana assombrada. Uuuuuuuhhhhhhhhh! Eu sou um espirito de um estudante e venho ca para vos assombrar.
Pará com isso estupido – retorquiu Susana visivelmente chateada.
Tu és sempre a mesma medricas pah, quando se fala em fantasmas tu ficas logo alterada, como se ele existissem – riu-se Berto – eu voto na cabana também, podíamos jogar o jogo do copo e tudo como para ter mais piada. Que me dizem meninas?
Eu não vou! – Respondeu Susana
Por mim pode ser – respondeu Sara que apesar de ter receio, não quis dar parte fraca.
Va la Susaninha – pediu Zé com uma delicadeza irresistível – não sejas cortes, só faltas tu, já não é a primeira vez que vamos para la.
Mas é a primeira vez que vamos para la depois da tragedia que aconteceu mas pronto, esta bem – respondeu Susana embora contrariada.
Assim se aparecer o fantasma da cabana a Susana é a única que sabe o que fazer. Leva alhos e uma cruz e manda embora o demónio - continuou a brincar o Berto
Isso são os vampiros – disse Sara relaxando e entrando na brincadeira.
Chega de brincadeiras – disse o Zé – vamos para a cabana e vamos divertir-nos.
Então 11h em ponto na entrada da floresta. Entraremos juntos. – Combinou Zé
Certo – concordaram os restantes.
A história da cabana resume-se a uns estudantes que nas férias de natal foram para la jogar o jogo do copo e 3 dos 5 participantes morreram nos 15 dias seguintes, dizem as bocas do povo que as almas dos três estudantes ficaram presas naquela cabana e desde então Susana nunca mais lá quis ir.
O dia amanheceu cedo, eram finais de Julho e os dias eram maiores do que as noites. Escusado dizer que Susana não dormiu nada essa noite. Não sabia explicar mas não se sentia bem naquela cabana desde que aconteceu aquela tragédia. Porem, mesmo assim, concordou ir com os amigos.
11h da manhã e estavam la todos, prontos para aquela aventura.
Caminharam cerca de 8 minutos e la estava a cabana. Quando entraram tudo estava no seu lugar de costume. Ninguém sabia a quem pertencia a cabana, nunca ninguém chegou a reclama-la e por isso todos os estudantes utilizavam para ferias, passar um fim-de-semana, ou ate mesmo para estudar, longe de tudo e de todos. A cabana estava la desde sempre, ja os pais deles haviam ido para a cabana em tempos de adolescentes e os avós também, mas os avós nunca quiseram que os seus filhos frequentassem a cabana mas nunca disseram o porquê. Por isso os pais da Susana nao viam mal em a filha ir para la, uma vez que eles próprios também foram e passaram la bons momentos. Era uma cabana com muitos, muitos anos e ninguém percebia como durava tanto tempo a cabana em pé. Era um mistério. 
Arrumaram as suas coisas no lugar e deram uma limpeza geral à casa. Tal como Susana, muitos outros estudantes frequentadores da cabana deixaram de a frequentar.
O primeiro dia passou-se sem incidentes e bastante rápido, entre limpezas, cozinhar, ver tv, jogar cartas e todos estavam demasiado cansados para “brincar com os espíritos”.
Deviam ser cerca de 2h da manhã quando Susana sem saber como ou porquê foi violentamente empurrada da cama. O ambiente do quarto estava pesado e Susana acordou assustada e sobressaltada. De repente sentiu o cheiro intenso a gás. Mas o que isto? De onde vem este cheiro? Levantou-se rapidamente do chão e foi ver de onde vinha o cheiro. Ao chegar à cozinha não quis acreditar no que os seus olhos viam…
Um bico do fogão estava acesso e outro bico embora sem fogo, estava a soltar gás. Susana correu e desligou os dois bicos. Mas quem é que ligou o fogão? Não estava ninguém na cozinha. Quem atirou a Susana da cama? Estaria ela doida? Teria sido um sonho? Um pesadelo? Bem, pelo menos o fogão não foi um pesadelo pois o cheiro intenso a gás ainda se sentia. Susana abriu as janelas e o ar quente de verão entrou na cozinha. Decidiu ir ver os companheiros, talvez um dele se levantou e meteu alguma coisa a fazer no fogão e se esqueceu dele ligado.
Nada, todos os colegas dormiam profundamente. Voltou para a cama e decidiu não contar nada a ninguém. Sabia que ninguém se iria acreditar. O zé iria gozar com certeza, o Berto ainda pior e a Sara iria ficar assustada. Foi para a cama e nada mais aconteceu naquela noite.
Mais um dia passou e aparentemente ninguém reparou na noite passada no cheiro a gás. Susana também não disse nada!
Ao chegar a noite, já menos cansados que na noite anterior decidiram jogar o jogo do copo. Susana como seria de esperar estava apreensiva.
- Esta alguém aí?
- Sim – mexeu-se o copo
Todos riram pois pensavam que qualquer um deles poderiam estar a mexer no copo, menos Susana. Essa não estava a gostar da brincadeira.
- Em que dia eu faço anos? – Perguntou Berto
- 20
- Que 20 que quê? Faço a 15. Opa troquem la o espirito que este está meio avariado.
E a brincadeira continuou…
- Tu és feio?
- Não responderei a isso – continuou o copo
- Puxa que deve ser mesmo horroroso
- Devo ter medo de ti?
- Sim
- Pudera, com a tua beleza não admira que me queira pôr a milhas.
- Cuidado com as perguntas – mexeu o copo
- Posso sair? – Perguntou Susana
- Não
- Porquê?
- Estou muito perto
- Tu mandas em mim por acaso? – Continuou Sara na brincadeira
- Vou importunar o teu sono
- Olha-me esta - riu-se Sara – vocês são mesmo para rir. Porquê deveria ficar?
- Vejo coisas – respondeu o copo.
Ó Berto tu é que vês coisas!
Eu não – respondeu o Berto – o Zé é que vê.
- Como te chamas espirito?
- Tem alguém ai com vocês!
Pois tem - brincou o Berto – tem o Zé, a Su e a Sara, ah e mais tu, mas tu es meio avariado.
- Não, uma entidade.
- Quando vou morrer?
- Estou com medo de responder.
- E tu à quanto tempo morreste?
- Não quero responder.
- És um demónio servindo o diabo?
- Não quero responder a isso!
- Deus me ama?
- Sim
- Você tem odio dos filhos de Deus?
- Sim
- Você me vai assombrar?
- Sim
- Tenho alguém me protegendo?
- Sim
Olha avariou – respondeu Zé – só sabe dizer que sim.
- Você é um dos estudantes que jogou o jogo do copo aqui?
- Não!
Este jogo é uma seca, estou farto, vou fumar um cigarro – disse Zé
Não! Não podes sair sem autorização – replicou Susana
E quem disse? – Perguntou Berto – Bora la fumar um cigarrinho e beber uma.
E assim ficou o jogo, por terminar.
E então, as coisas estranhas começaram a acontecer.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH – ouviu um berro estridente da Sara!
- Que foi? Que aconteceu?
- Estava um homem junto ao lava loiças. Juro que estava!
- Um homem? Não será um estudante? Mas nós chegamos primeiro, ele vai ter de sair.
- Não, não era um homem de verdade. Era um homem meio transparente!
Transparente? – Zé e Berto riam-se às gargalhas – Homem transparente! Não vês que isso é tudo fruto da tua imaginação? Foi do jogo de certeza.
- Não! Era um fantasma… tenho a certeza!
- Fantasma! Ah ah ah ah Tu é que pareces um fantasma de tao branca que estas. Vamos la à cozinha ver o tal fantasma.
Todos se dirigiram à cozinha e não queriam acreditar no que os seus olhos viam… estavam todos a ver o mesmo.
O que é isto? – Perguntou Zé
Estas parva Sara? - Concordou Berto
A cozinha tinha as portas dos armários todas abertas.
Não fui eu – defendeu-se Sara
- Não, foi o gato do vizinho se calhar!
- A serio que não fui.
- Ta bem… Não vale a pena!
Viraram costas e voltaram la para fora, apenas Susana subiu ao andar de cima.
Ao subir as escadas reparou numa claridade vindo do quarto dela.
Fogo – pensou ela – o quarto esta a arder. Ao chegar à porta viu grandes labaredas no quarto, no centro estava uma mulher que lhe parecia bastante familiar pedindo ajuda. Susana não sabia o que fazer. Apesar de o quarto estar em chamas não havia o cheiro a fumo, na verdade, não havia fumo nenhum, só chamas. Numa fracção de um segundo apareceu um homem que correu para ajudar a mulher.
Tapou-a para a ajudar a atravessar as chamas e quando se dirigiam à saída uma viga vinda do telhado caiu matando assim o homem.
- Não – gritou a mulher – Acorda, eu não saio daqui sem ti.
Entretanto apareceram outras pessoas atraídas pelo fogo que puxando a mulher resgatando-a são e salva.
- Não – continuou a mulher tendo soltar-se em prantos entre choros e gritos de dor – ele esta la dentro. Eu não quero viver sem ele. Deixem-me ir busca-lo.
Susana pode ver claramente a cara do homem, já sem vida estendido do chão.
De repente uma bola salta nas escadas, assustando Susana e todo o fogo, e pessoas que estavam no quarto desapareceram, ficando um quarto escuro e frio.
Que tas a fazer ai especada a olhar para o quarto? – Perguntou Zé – Não me digas que já estas como a maluca da Sara e me vais dizer que viste um fantasma!
Não, não foi nada – mentiu Susana
Susana estava confusa e sem saber o que pensar… Estaria a ficar doida? E aquela conversa no jogo do copo? Teria alguma consequência? Estava assustada mas não queria dizer nada a ninguém, Bem viu os rapazes a gozar com a Sara.
Como não conseguia dormir pegou num livro para ler. Não tinha passado ainda meia hora quando lhe apareceu um fantasma. Era o homem que tinha morrido no incendio, e usava uma coroa na cabeça. Susana não sabia porquê mas não tinha medo do fantasma. O mesmo lhe transferia uma paz, uma calma e uma serenidade incrível.
Olá! O meu nome é Susana – decidiu-se ela apresentar.
O fantasma sorriu, transferindo ainda mais tranquilidade.
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh – ouviu-se um grito de horror vindo do andar de baixo.
Num pulo Susana se levantou e o fantasma se desvaneceu. Mas o que teria acontecido agora?
Sara e Zé que ainda jogavam cartas descontraidamente ca fora também se levantaram num pulo e foram dentro de casa ver o que se passava.
Então Berto, que foi? – perguntou o Zé.
Estava… Estava aqui um fantasma mesmo à minha frente e quando eu me aproximei, ele berrou e saiu uma rajada de vento que ate deixei cair o copo.
Outro maluco – retorquiu Zé – mas afinal vocês estão a perder a sanidade mental?
Vês? Eu disse-te – disse Sara com um ar triunfante
Disseste o quê? – Insistiu Zé – Que ele é um gozão ou que estão a ficar todos totós da cabeça?
No fundo Zé sabia que o Berto não estava a brincar, conhecia-o bem demais e sabia quando ele brincava ou quando falava a serio. Suspeitava ainda que Susana sabia de algo, mas que não lhe queria contar.
Já Susana estava confusa nos seus pensamentos. Não podia ser o mesmo fantasma. Como é que alguém que lhe transmitia tanta paz podia fazer mal a alguém?
Já ninguém se sentia bem naquela cabana, porem ninguém queria dar parte fraca.
Todos decidiram ir dormir. Já chegava de brincadeiras para aquela noite.
Susana voltou para a cama para ler o seu livro e quando la chegou as portas do armário estavam abertas para tras. Sem pensar nisso Susana fechou as portas e sentou-se a ler o seu livro. Ainda estava a ler a primeira frase quando as portas se abriram novamente. Só ai raciocinou. As portas do armário estavam fechadas quando ela saiu. Olhou para a janela mas estava fechada e não havia corrente de ar. Levantou-se e fechou as portas novamente. Ainda não tinha chegado à cama quando as portas se abriram novamente. Susana estava perplexa. Afinal que se passava com o armário que não fechava as portas. Aproximou-se lentamente e a medo… Mas o que estaria la dentro?
Espreitou e não viu la nada de anormal a não ser as suas coisas, ate de uma batida seca no fundo do armário lhe chamou à atenção. No fundo do armário havia um alçapão.


(continua ja a seguir)


Susana retirou cuidadosamente e a medo o alçapão pois não sabia o que poderia encontrar. La de dentro, saiu uma caixa bastante antiga mas muito bonita em ouro. Dentro dessa caixa tinha fotografias mas... nao poderia ser. Na fotografias Susana reconheceu imediatamente a mulher que estava no incêndio. Essa mulher era sua avó!!!!!!!!!!!!!!!!! Mas de certeza que o homem que a acompanhava nas fotografias, o homem que a salvou do fogo e que apareceu a Susana, ela não conhecia, nem lhe era familiar.
Mas que raio se passa aqui? - pensou ela - Que faz fotografias da minha avó aqui? E quem é este homem?
Dentro da caixa tinha ainda cartas de amor escritas em pergaminhos dirigidas à sua avó, um lindo anel de noivado. Num desses pergaminhos dizia ainda que todo o reino do principie Artur, apos a sua morte seria para Lucília, a sua amada!
Príncipe Artur? Mas quem seria esse príncipe Artur? O reino era da avó? Mas que confusão. Susana tinha a cabeça a mil à hora e decidiu partilhar o que descobriu com todos os outros colegas.
Mas afinal tu es princesa? - Perguntou Zé
É - respondeu Berto - e eu sou o rei do Ku de Judas
- Achas que sou princesa? Claro que nao! Mas amanha tenho de tirar isto a limpo com a minha avó. Isto não é normal.
Ninguem dormiu nessa noite, e todos ficaram na sala a especular o que poderia ser. Estranhamente quando se falava nesse assunto a casa parecia ficar mais leve e apesar de estar escuro como breu la fora, a casa parecia estar mais iluminada...
Assim no dia seguinte bem cedo todos se dirigiram à cidade pois a curiosidade era muita.
Truz truz truz - bateram á porta o grupo de jovens.
- Entre Sr. padeiro, a porta esta aberta.
Dona Lucília ficou espantada de ver a sua neta com tantos jovens logo ali pela manha.
Então que se passa? - Perguntou ela

Ó vó, nós precisamos de falar consigo sobre um assunto - disse Susana estendendo-lhe as fotos.
Quando Dona Lucília as viu teve de sentar pois ficou branca como cal e perdeu as forças.
Onde estava isto? - Perguntou ela
- Estava na cabana.
- Mas isto sao assuntos meus e ninguém tem nada haver com isso.
- Mas vó? Afinal você foi princesa? Que reino é esse que falam ai? E quem é o príncipe Artur?
- Ja disse que sao problemas meus e que vocês nao tem nada haver com isso.
Foi ai que Susana abriu o jogo e partilhou tudo o que tinha vivenciado. Disse inclusive o que os colegas nao sabiam na noite anterior pois Susana apenas partilhou a descoberta da caixa e nao dos fantasmas.
Quanto mais Susana contava, mais as lagrimas da Dona Lucilia caiam. Ja ninguém brincava com a situação e toda a gente acreditava no que Susana contava.
Contaram ainda das maldades que aconteceram mas Dona Lucilia nem os deixou acabar dizendo que aquele nao era o seu Artur. O seu Artur era um homem bom e nao fazia mal a ninguem.
Seu Artur? - perguntou Susana - Mas "seu" como?
Dona Lucilia nao teve como esconder mais e contou que em tempos namorou com o príncipe de outra terra, que foi o seu único e verdadeiro amor mas que morreu, da maneira que Susana tinha explicado. Contou ainda que estava gravida nessa altura da mãe de Susana e que esse príncipe era seu pai.
Mas entao voce é rica - disse Berto - voce tem reinos, terras.
Nao filho, nao tenho nada disso - replicou ela - quando ele faleceu eu nao quis bens nem riqueza nenhuma dele. Ele tinha outros irmãos a quem o reino também pertencia e nao queria entrar em guerra. Para alem disso bens e riqueza nao trazia o meu Artur de volta.

Susana entregou o anel de noivado à sua avó pois era a ela que pertencia. A avó aceitou a caixa com as fotos, anel e pergaminho, ao menos sempre tinha qualquer coisa para se recordar do seu Artur.
Os jovens saíram deixando Dona Lucília nas suas lembranças.
Ja na rua a conversa continuou...
- Uauuuu, isto é uma historia e tanto
- Então e tu vivencias aquela cena dos fantasmas e nao dizes nada?
Para quê? - respondeu Susana - Para pensarem que estou doida tambem?
- Mas então a cabana é tua ne?
- Podíamos fazer uma reportagem para o jornal sobre esta trágica historia de amor
  Sim - respondeu Susana -  mas sem usarmos os nomes verdadeiros. Se a vó nao quis partilhar esta historia com ninguem, nao devemos ser nós a faze-lo. Devemos respeitar a sua vontade.
A conversa corria alegremente enquanto se dirigiam de novo à cabana. Agora que os pertences estavam entregues á sua dona, os estudantes acreditavam quem a atividade paranormal iria parar.
Mas como eles se enganavam... o pior ainda estava para vir!

Ao chegarem à cabana começaram a fazer o almoço. Ninguem tinha conseguido comer nada ate aquela historia estar esclarecida e agora estavam todos esfomeados.
Susana nao sabia explicar porquê mas nao se sentia em paz naquela cabana, mas mais uma vez optou por nao dizer nada para nao ouvir comentários ou para nao assustar Sara.
Enquanto Susana e Zé faziam o almoço, Sara foi à lavandaria. A lavandaria ficava no fundo da cabana onde chegava pouca luz. Sara iria descontraída com cesto da roupa mas quando la chegou viu um fantasma a olhar para ela. O fantasma era arrepiante. Cara muito palida, cabelo curto branco, nariz grande triangular, sorriso trocista e maléfico e os seus grandes olhos esbugalhados, negros em redor dos olhos destacando-se da sua cara pálida.
Sara tremeu de medo e o fantasma ao aperceber-se que Sara o temia, ainda mais gozo lhe dava. Deixou cair o cesto no chao e fugiu para junto dos colegas.
Vi o teu avó outra vez - disse Sara - ele nao saiu desta casa. E sem ofensa Susana, mas ele é assustador. Tem um olhar cortante e um sorriso arrepiante.
Todos se dirigiram à lavandaria para ver o fantasma que permanecia la, no mesmo sitio onde estava.

Continua ja a seguir...

Principe, pergaminho e cabana.

Estooouuuu no iiiiirrrr...
Chegasteis até aqui,
Não chegarás mais além.

Antes de mais, conceitos básicos para entender o que vou escrever:
-Fogo de Aivandur: Uma terra no oriente, fora inicialmente governada por Aivandur, daí o nome.
- Ukay's: São os "estados" dessa terra. São governados por uma espécie de governador.
- Aramatéli: O sítio principal da ação, envolve mais lugares para além do Fogo de Aivandur.
- Aranglusno: A terra em si mesma, o mundo, envolve Aramatéli e outros lugares.
- Eternidade do Conflito: Uma época longa na qual duas forças antagónicas lutam. Uma que quer evolução, outra que quer a ignorância por assim dizer. É esse confronto que mantém o mundo a funcionar.
- Impasse, o período de mudança no qual pode-se estar eras, até se atingir a evolução.
- Arbanul: Personagem principal do meu livro. O nome significa aquele que vem, tem como intuito libertar as pessoas da Eternidade do Conflito. Se o conseguir, entra-se no Impasse.
- A história passa-se um bocado antes daquela que eu escrevi no choped literário do mês passado, mas à frente da ação do livro.
- Del Alek Navah. -  Cumprimento respeitoso
- Navah Alek Daveh. - Resposta imediata ao cumprimento


E como óbvio, isto vai ser também um conto dentro do universo do meu livro, mas fora e interligada à história principal. É longo! E chama-se "O Príncipe"

O céu estava tempestuoso e os pinheiros agitavam-se freneticamente com um vento que ameaçava arrancar a mais forte das raízes. Nuvens negras tapavam o céu estrelado com os heróis de antigamente e relâmpagos iluminavam a noite em tons arroxeados. Os seus estrondos soavam por toda a região e os cavalos relinchavam assustados.
Mas o cavaleiro, tapado por um manto preto, escondendo a sua face dos olhos sinistros nas negras florestas do Ukay de Yahn. Os seus olhos azuis por vezes brilhavam intensamente e os trovões faziam neles recair uma vontade poderosa que assustava os que o vissem.
Os cavalos a galope levavam-no numa intensidade abismal. Aquela carta tinha de ser entregue. Viera desde o passado de Aranglusno, desde um outro plano antes da Indagação. Era fulcral ela chegar ao seu destino e fazer surtir o seu efeito. Não podia haver só um Arbanul, mas vários. Só aí se poderia sair da Eternidade do Conflito rumo ao Impasse.
E na sétima noite do terceiro mês, a carta chegou ao seu destino. Também numa noite de tempestade. O cavaleiro trazia sempre a tempestade consigo. E numa casa ele a deixou. E num sonho assombrou Al-Zanur, o príncipe de Yahn.
Na manhã seguinte, com o sol que raiava, limpando as terras purificadas pela chuva, o príncipe levantou-se. Os seus olhos verdes, os seus antigos olhos verdes, procuravam algo que sabia ter acontecido. Procuravam algo que o assombrara.
Ele viu-se a si mesmo. Não agora, não depois. Mas antes. Viu-se a si. Antes. Antes de ter nascido e existido, antes do cavaleiro errante e da mulher perdida. Antes das almas se separarem numa multitude delas.
Era confuso para a sua mente o percecionar. Como poderia ele ter visto a si mesmo, enviar uma carta antes do tempo para si mesmo?
- Del Alek Navah.
- Navah Alek Daveh.
- Príncipe, Zhandur já partiu com a Guarda Avançada para as terras ermas.¬¬ Juntar-se-á a El-Later e terminará a resistência em Amad-Nûl em poucos dias.
- Bom. E do avanço das criaturas em Urakrat. Já mostraram intuito de virar para as ruínas de Alaket?
- Sim. E em breve virão para nós e nem a Imortalidade nos poderá salvar. Essa também será morta e Malthanud e Últimos para sempre perdidos, como o seu irmão.
O príncipe parou um bocado. Era complicado o que se passava. Os Exilados tinham seguido os Fenrodi para as  terras de Laraef e em breve embarcariam para lá do mar, na bênção dos Antigos. E os que cá ficaram ainda não perceberam o que viera a leste. Algo para lá da força do Fogo de Aivandur.
- Não vamos ficar parados. Manda mensageiros aos Ukays de Layhan, Xhey e Caiun para as suas populações partirem. Instalar-nos-emos nas cidades de Droin. Por esta altura já devem estar reconstruídas.
- Que o fogo arda.
- Em Aivandur, em Aranglusno.
- Para sempre.
Posto a sua frase final, o subdito partiu e o príncipe ficou sozinho. Voltou a pensar no sonho e decidiu cavalgar para um local místico na sua terra. A cabana do velho errante. Paliankuh, o mago, primo do ocidental Andvarkor.
Foram três dias de viagem. Sob as florestas de Yahn. O Ukay na costa tinha a benção de ter um clima refrescante e húmido, ainda por melhor, longe dos selvagens Lai-Caram.
E encontrou a cabana. Também numa noite de tempestade. Assim como a sensação exata de que deveria estar ali. Um acaso certo mundo. Abriu a carta e leu-a. Sentiu a miríade de mãos que ali tocaram. Todas as suas mãos, as mãos de Al-Zanur, as mãos do príncipe, a terceira alma inicial para além da do cavaleiro e da mulher.
"No grande mar eu vi o meu reflexo. Não o meu reflexo, mas sim o Meu reflexo. Quem eu sou, quem eu era e quem serei. É que a Aranglusno vieram aqueles belos navegantes dos céus vestindos nas Shinji. E lá acordaram os Terreynur, os Elenur, os Anun e os homens. E todos os outros. E agora que escrevo isto percebo. Já, nunca mais, poderei ver o céu prateado. Já nunca mais Uriphiel e Ûrsa-phiel poderão descer a Ukush-Khûban. Nunca mais. Se calhar por culpa minha, que pensei, se calhar por culpa de Cyania e Joinu em Devirnar nas alturas que perderam a sua segunda oportunidade. Mas agora que vi o meu reflexo, vi-me, e a quem esta carta chegar. Que escreva o que escrever. Eu sou quem aqui vier. E quem aqui vier, será eu. As peças unidas. Não imitando o erro."
E as páginas seguintes todas estavam escritas. E as datas, as datas era o mais misterioso. A carta era atemporal. Tinha ido a uma era para lá da época do príncipe, a uma era antes do primeiro. Era a carta reconstrutora. Era a união, a consciência, a perceção do Eu daquele ser. Visto inicialmente por aquele Anun, percebido por outros tantos depois dele, e agora finalmente pelo príncipe. A última peça. O príncipe, na cabana do errante, não mais errante mas ali, num só.
Levantou então a pena. Escreveu a primeira letra e o mundo tremeu. A segunda e já não era o mundo que tremia, mas ele, e a sua ideia do mundo. E em seu redor o mundo desabava a cada palavra. Mas no mundo, ele desabava.  Fundia-se no ambiente, e perante ele, o mundo fundia-se em si mesmo. Absorvia tudo, era absorvido por tudo. A dualidade.
E por fim, acabou.
A sua frase era nada mais que uma palavra. Não era egoísta, não era carregada de ego de si mesmo. Mas atemporal, sem espaço, sem época, sem lugar. Algo que se adaptaria a tudo.
"Sou"
Posto isto tornou-se em Si mesmo. A sua alma ficou reconstruída e Aranglusno elevou-se mais ainda. Não no caminho para o Caos, mas dentro do Impasse. A influência de Arbanul surtia os seus efeitos e o caminho para o Impasse começara. Lento e gradual, mas firme e calmo.
É que na cabana do errante, o príncipe, viu a carta. E na carta viu quem era e quem era, nele se tornou.




"To have faith is to trust yourself to the water. When you swim you don't grab hold of the water, because if you do you will sink and drown. Instead you relax, and float." - Alan Watts

Bom pessoal, aqui está mais um escrito meu :) Destá vez será  uma história um pouco diferente, espero que gostem, ela traz muito do que acontece no mundo, esse senso realístico, mas também com toques de ficção como vocês verão lá pro final. Espero que tenham paciência pra ler tudo :) Boa leitura.

    Eram 7 da manhã em Bagdá, o dia mal estava começando e o calor já tomava conta do ambiente. Este lugar era uma terra rica, rica em história, rica em cultura e rica nos seus mais diversos âmbitos. Porém agora enfrentava um período turbulento qual nunca se tinha registrado atividades tão intensas quantos estas.
    Lá Maeda cultivava seu sonho de um dia ser uma violinista destacada no mundo. Com apenas 17 anos de idade, Maeda já tinha enfrentado a dor de viver a invasão americana em 2003. Na época, Maeda tinha apenas 13 anos e agora em 2007 enfrenta um outro episódio turbulento. Apesar de bastante jovem ainda, ela já exercia o papel de professora em Al Resaf, periferia do lado oriental do rio Tigres. Lá, se reunia com suas melhores amigas, Asmaa, Wafaa e Huda. Todas as quatro tinha o sonho de ver o seu país finalmente seguro, longe de toda essa confusão que acontecera.
    Bem distante dali vivia Zakhariya, que apesar de ser iraquiano, teve que deixar seu país muito novo, quando ainda era um bebê. Seus pais já prevendo o caos que seria o Iraque, viajaram e foram viver de forma legal no Reino Unido. Agora, em 2007, Zakhariya tem apenas 7 anos de idade. Apesar de ser uma criança, ele ainda terá um papel importante em nossa história. Por enquanto, sua única preocupação no momento é se divertir como a criança que é, e como se diverte! Passa o dia a explorar o jardim de casa com seu primo Abu Walid.
    No Iraque, Maeda se dirige ao seu local de trabalho. Como mora em Al Resaf, não costuma pegar ônibus ou táxi, já que a escola fica bem próxima de sua casa. Enquanto caminha, é impossível pra ela não imaginar como serão as coisas no futuro.
- Não sei o que há de acontecer, mas lutarei para conquistar meus sonhos - Diz Maeda enquanto faz um gesto de determinação com as mãos. Com poucos metros de distância da escola, Maeda sofre uma abordagem inesperada. Era um cachorro que por alguma razão se pendurou em sua bolsa e não lhe quer largar mais.
- Ei! Solte-me agora! Já estou bastante atrasada, não me deixes zangada! - Apesar dos seus gritos, o cachorro continua a morder a alça da bolsa no que parece ser apenas uma brincadeira dele. De repente, a alça do bolsa é rompida e o cachorro brincalhão parte em fuga com a bolsa da jovem.
- Volte aqui com minha bolsa! - Grita Maeda correndo desesperada atrás do cachorro. Boa parte dos metros percorrido por ela em direção à escola, agora estão sendo percorridos na direção contrária. Já bem distante de onde estava, Maeda consegue enfim recuperar sua bolsa. Quando de repente ela sente um tremor, poucos segundos depois ouve-se gritos. Ela então assustada e curiosa se vira para ver o que acontecera e se depara com uma enorme coluna de fogo que ainda sobe ao céu. Impactada com aquela cena e muito assustada, Maeda acaba ficando no chão sem saber o que fazer ou pra onde ir agora. O cachorro então se aproxima dela e lambe-lhe o rosto. Ainda atônita, agora olhando pro cachorro, ela percebe o que aconteceu.
-Você foi enviado por Allah para me salvar? - Diz ela olhando o cachorro e já se jogando em seu pescoço num abraço de gratidão.
- Obrigada! Obrigada por me livrar deste mal que poderia ter me acontecido. Alhamdulillah (graças a Deus) que você apareceu, veio na hora certa. Vamos, venha! Temos que ver como estão as pessoas ali.
Junto com o cachorro, os dois se dirigem agora em direção àquela coluna de fumaça que agora emana de onde a pouco houvera aquela explosão. Ao virar a esquina, Maeda fica impactada com o que vê. Sangue, corpos, cabeças, mãos, pernas e intestinos espalhados pra todo lado da avenida. Ainda petrificada com aquela cena horrenda, Maeda ouve uma voz dirigir-se a ela.
- Como você está?! Já estava preocupada com seu sumiço! Faz tempo que a gente está te esperando! - Ao se virar, Maeda percebe que se trata de Huda, sua melhor amiga.
- Como estão os alunos? Como estão todos? - Pergunta Maeda num tom de desespero e preocupação.
-Alhamdulillah estão todos bem, venha, não é seguro ficar aqui agora. As duas então andam em direção à escola quando Huda nota a estranha presença do cachorro que insiste em seguir Maeda.
- O que este cachorro está fazendo? Você nunca gostou de cachorros. - Diz Huda.
- Sim, eu sei, mas agora gosto. E este a partir de hoje será meu fiel amigo.
    As duas caminham em direção à escola, passando por toda aquela destruição. Maeda, não consegue disfarçar sua indignação ao ver tudo aquilo. Vidas que foram perdidas, sem sequer terem chance de fugir. De toda aquela destruição, a cena que mais lhe chocara é a imagem de uma criança, um bebê de colo. Uma bebezinha que estava agora partida ao meio.
    Os anos seguintes foram os mais turbulentos em Bagdá, por conta de uma guerra civil que se instaurou por questões também religiosas, pois eram Xiitas contra Sunitas. Em 2009 Maeda conseguiu uma bolsa numa escola de musica na França e desde então passou a viver em Montpellier, onde sua vida se tornou completamente diferente. Seu cachorro, Hamzah, não podendo viajar junto com ela, ficou sob os cuidados das irmãs Huda e Wafaa.
    Na França, Maeda começou a descobrir um mundo diferente do qual ela estava acostumada a viver. Ela que sempre usava o Hijab, o véu tradicional islâmico, agora por conta de certas leis francesas, ficava restringida ao uso deste objeto. Pouco depois de entrar para a escola de musica, Maeda conheceu Jean, um jovem metido a galanteador, mas que se demonstrava agora apaixonado pela jovem iraquiana de cabelos longos e negros. Ela não sabia bem como se comportar em meio a essa sociedade ocidental e quase sempre usava jargões comuns às comunidades islâmicas. Embora buscasse não demonstrar, por dentro, Maeda se derretia de amores por Jean.
    Em Montpellier Maeda não fez só amizades com pessoas de costumes ocidentais, mas fez também com pessoas de hábitos comuns aos dela. A Partir de 2010 Maeda passou a frequentar um grupo de estudos corânicos, onde conheceu Aisha, uma bela jovem francesa que havia revertido ao Islam poucos meses antes. Maeda não sabia, mas ali nasceria uma amizade que faria sua vida mudar totalmente.
    Em Giza no Egito, um jovem chamado Ahmed, estava indignado com o governo de seu país, governo este que ele julgava ser corrupto e que não merecia estar ainda regendo seu país. Hosni Mubarak era o presidente, e segundo Ahmed, ele era um tremendo idiota. Ahmed que é um jovem astuto, buscava sempre uma maneira de fazer esse governo cair, sempre estava conversando com seus amigos sobre isso. Sua esposa, Mena, como jornalista que é, divulgava sempre em seus artigos na internet um tom de menosprezo total ao governo.
    O ano de 2011 tinha acabado de chegar e Ahmed já via que este ano seria um ano bastante importante para mudanças acontecerem em seu país. Ele acompanhara os protestos na Tunísia que estavam se estendendo desde meados de 2010 e que se intensificaram agora depois do sacrifício de um jovem visando um governo melhor. Os protestos chegaram a tal ponto que Ben Ali, presidente da Tunísia resolveu renunciar ao cargo em 14 de Janeiro. Era o que Ahmed esperava, um motivo grande para chamar a atenção do povo e tentar derrubar assim o governo de seu país. Juntos, ele e alguns amigos começaram a marcar eventos no facebook e twitter, além de se organizarem na deep web.
    Mena, apesar de apoiar as ideias de seu marido, temia pela segurança dele. Como ela era cristã, não tinha o costume das orações que seu marido seguia. Então, ela se refugiava em local um pouco distante de sua casa. Uma pequena cabana, onde ela se sentia em paz falando com Deus. Ela estava muito angustiada, pois sentia que coisas muito ruins começariam a partir dali.
    Nos dias seguintes protestos aconteceram em vários lugares ao longo do país. Protestos que muitas das vezes foram reprimidos com muita violência. Num destes protestos, Ahmed e Mena estavam na praça Tahrir, quando simpatizantes de Mubarak apareceram em cavalos e camelos, batendo em todos. Mena, cumprindo seu papel de jornalista, começou a tirar fotos e não percebeu que seue marido se distanciara para também se aplicar ao que amava fazer, protestar por seus ideais. Atravessando a rua que circunda a praça, Ahmed se reúne rapidamente com alguns de seus amigos. Mas eles não esperavam que ali também estariam policiais escondidos no alto de prédios, os quais começaram a disparar.
- Ahmed, vem pra cá! - Grita um de seus amigos que tinha se escondido por detrás de uma parede num beco estreito. Cada um correu pra um lado e Ahmed viu o beco onde seu amigo estava como a única alternativa de escape. Olhando para um lado e para o outro, Ahmed corre com todas as forças que tem e tenta atravessar a rua. Perto da calçada, Ahmed sente um calor diferente em si, além do calor suas pernas parecem mais pesadas, ele não as consegue mexer como antes. A cada passo que ele tenta dar sua respiração também começa a ficar pesada. Ahmed estava morrendo, tinha sido alvo fácil de um dos atiradores e agora estava em seus últimos segundos, caindo na rua com um tiro que entrou em seu corpo pelo lado esquerdo do corpo no sentido de trás pra frente, atingindo assim seu pulmão e seu fígado. Desesperados, seu amigos gritam, mas nada podem fazer, Ahmed morrera, ali, no meio da rua no dia 2 de Fevereiro.
    Em meio a toda aquela confusão, Mena teve que se ausentar da praça e tentou ir para sua casa. Procurou então por Ahmed, mas não o encontrou. Para sua segurança ela se dirigiu até uma lanchonete que ainda estava com as portas abertas, e ali ficou até os ânimos se acalmarem um pouco. Por volta das sete da noite, as coisas ainda estavam quentes nas ruas próximas à praça Tahrir, mas Mena, mesmo assim resolveu sair e procurar seu marido. Foi então que ela viu, o corpo de seu marido, ainda ali no meio da rua.
    Em Montpellier, na França, Maeda, Aisha e seus amigos acompanhavam através da TV e da internet tudo o que estava acontecendo no Médio Oriente, o que passava a ser chamado de Primavera Árabe. Maeda ficava muito triste ao ver as cenas de barbárie acontecendo no Egito, o que lhe fazia lembrar das violências que presenciava em Bagdá.
    O tempo passou e o mundo agora estava mudando, no Egito Mubarak já tinha caído e quem imperava agora era Mohamed Morsi. E as ondas de protestos só se espalhava pelo Médio Oriente. A Síria também passou a ser afetada pelos protestos e agora em 2013 vivia uma guerra civil. Mena continuou no Egito, agora muito mais focada no seu trabalho como jornalista. Na França, Maeda estava terminando o seu estudo de musica, e fazendo planos de voltar ao Iraque.
    No Iraque, Mahmoud tinha estado preso por ter cometido vários crimes. Ele que é de Bagdá, foi para Tikrit durante a guerra civil de 2007 e desde então nunca mais viu Maeda, garota que o fascinava desde sua infância. Agora ele fazia parte de um grupo que conheceu ainda dentro da prisão, grupo este que com ideologias fortes alimentou Mahmoud e o fez ficar com muita vontade de se vingar de todos, pelos males que sofrera.
     Quando ainda estava na prisão em 2012, Mahmoud tornou-se bastante amigo de Al-Fahdawi, homem bastante cruel que havia sido condenado a morte.
- Está chegando a hora de virar o jogo irmão - Diz Al-Fahdawi para Mahmoud. Ambos, mesmo presos mantinham contato com alguns grupos do lado de fora. Dentre esses grupos se destaca o antigo AQI (Al Qaeda do Iraque) Que era liderado por Abu Mussab, mas que agora, sob nova direção passou a chamar-se EII (Estado Islâmico do Iraque).
- Insha'Allah (se Deus quiser) vamos trazer a honra e a glória para todos - Fala com um tom de voz emocionado Mahmoud.
    Poucas semanas depois, acontece o que eles tanto esperavam. Um dos grupo com o qual eles tinham contato lança uma ofensiva contra a prisão e provocam a fuga de vários presos, dentre eles Mahmoud e Al-Fahdawi. E desde então os dois se tornaram amigos inseparáveis até mesmo no servir do grupo ao qual faziam parte. Dentro de pouco tempo, Al-Fahdawi junto com Mahmoud viajam para a província de Anbar obedecendo ordens de expansão do grupo e criam o Ussud Al-Anbar (Leões de Al-Anbar) uma brigada que passa a aterrorizar aqueles que não obedecem as ordens do grupo. Por também ser conhecido de Ibrahim, o líder do EII Al-Fahdawi passa a ser agora Emir de Anbar, o príncipe desta província e adota o nome de guerra de Abu Waheeb. Juntos, ele, Mahmoud e o grupo do qual fazem parte começa a aterrorizar todo o território Iraquiano.
    Maeda agora em Junho de 2013 está em suas últimas semanas de aula e já planeja sua volta para Bagdá.
- Ah, não vai agora Maeda, fica mais tempo aqui - Fala Aisha tentando persuadir a amiga.
- Não dá! Tô com muita saudades das minhas amigas e do meu cachorrinho. Já até comprei a passagem.
- Mas e o Jean? Você gosta dele, vai deixar ele aqui?
- Não seria algo sábio levar ele comigo. - Conclui Maeda num tom humorado.
    Mena, depois de sofrer a perda de seu marido, já não liga muito pra sua vida e passou a focar bastante no seu trabalho. Agora com foco em investigação e cobertura de áreas em conflito, ela planeja ir pra Síria, afim de cobrir a guerra civil que acontece por lá. Sem se importar muito com os perigos que possa enfrentar, ela prepara suas malas e se dirige à uma cidade síria chamada Ar-Raqqa. Não foi muito difícil achar um meio de chegar até lá, graças a contatos que ela conseguiu através do twitter e posteriormente no kik. Com esses contatos, Mena conseguiu chegar em Raqqa em meados de Agosto e o que viu não foi nada agradável.
    Ao chegar lá, a Síria já estava bastante fragmentada em vários grupos terroristas, tais como Jabhat al Nusra e o FSA que são alimentados com armamentos pelos Estados Unidos. Mas a situação de Raqqa, cidade que Mena escolheu, era bem pior, pois estava sendo travada uma batalha lá entre vários destes grupos, o exército e o EII que agora por estar também na Síria passou a chamar-se EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante).
- Abu Taruuf, onde a gente vai ficar? - Pergunta Mena a Abu Taruuf, um dos jovens que ela contactou pelo kik. Abu Taruuf, tinha se juntado ao EIIL poucos meses antes e era o responsável por levar os jovens para essa Hijrah (imigração). Mena agora mantinha contato com esse grupo terrorista, mas nem imaginava as coisas que lhe esperavam.
- Quando a gente chegar, você e as meninas vão ficar numa casa especial somente entre as irmãs e vocês - Apontando para os homens - Vão para um campo onde aprenderão os cuidados pela causa de Allah. - Desta maneira Abu Taruuf passa alguns dos métodos e da maneira como todos devem se comportar na cidade.
- Isso tudo que está acontecendo é muito grandioso, por que tudo isso? - Pergunta Mena.
- Nós vamos restaura o califado, insha'Allah - Diz Taruuf
- Tempos de glória virão! Allahu Akbar! - Deus é grande, gritam todos.
    Mena junto com algumas pessoas, consegue chegar em Raqqa no momento em que a cidade tem sido conquistada pelo EIIL e agora Mena passa a viver ali em busca de mostrar ao mundo as consequências de uma guerra através de seus artigos. Artigos estes que passam a chamar a atenção na internet por conta das filmagens sempre internas. Cenas de execuções e desfiles após conquistas do grupo. Mena só não esperava começar a gostar de um combatente de lá, seu nome era Khattab e ele com seu charme acabou conquistando o coração da jovem egípcia.
    Uma noite, enquanto Mena dormia, Abu Taruuf entrou em seus aposentos e viu Mena a dormir. Sem pensar muito, Taruuf partiu para cima dela, que na hora acordou e tentou gritar, mas Taruuf com um punhal forçou Mena a calar a boca. No dia seguinte, Khattab foi fazer uma visita àquela garota que ele estava começando a gostar. Mas naquela visita ele notou algo diferente. Ela estava séria, seu olhar já não tinha aquele brilho encantador. Então Khattab nota um corte no pescoço de Mena.
- Quem fez isso? - Pergunta num tom agressivo.
- Ninguém, eu que acabei machucando-me. - Diz Mena tentando esconder o corte.
- Não minta pra mim, sei que você está mentindo. Quem fez isso?
Sem ter como esconder, Mena conta tudo o que aconteceu na noite anterior, em detalhes. Neste momento Khattab silencia-se, olha pro vazio por alguns segundos e então levanta-se saindo do quarto. Naquela tarde uma criança aparece correndo e desesperada a bater na porta da casa onde Mena está.
- O que aconteceu? - Pergunta Mena
- Khattab te chama, ele está perto do poço junto com os irmão. Tens que ir agora!
Rapidamente Mena se dirige até o local onde a criança disse que Khattab estaria. E lá ela o vê junto com outros amigos dele. Ela vê também um homem de joelhos, não sabe quem é, mas ao aproximar-se percebe que se trata de Abu Taruuf. Tinha sido espancado, estava todo roxo de socos e chutes.
- Mena, foi este porco que te desonrou? - Pergunta Khattab puxando Taruuf pelos cabelos.
- Te fiz uma pergunta Mena, responde-me! - Mena permanece em silêncio por mais alguns segundo, até afirmar com a cabeça.
- Você sabe qual a punição para este crime Taruuf - Diz Khattab olhando fixo nos olhos de Taruuf que é seu melhor amigo.
Neste momento todos se afastam, alguns pegam seu telemóveis para filmar o que vai acontecer. Khattab se posicionar atrás de Taruuf e com um punhal, sem piedade, corta-lhe a cabeça. Mena não aguentar ver esta cena e desata a chorar. Desde quando Ahmed morreu que ela não chorava como agora. Khattab conduz então Mena para casa, enquanto o corpo de Taruuf continua no chão e sua cabeça, sendo erguida por alguns membros do grupo é jogada no chão e serve agora de diversão para as crianças pobres de lá jogarem "futebol".
    O tempo passou voando e Mena continua vivendo em Raqqa, agora não consegue mais fazer suas publicações de artigos e nem consegue seguir sua religião, o cristianismo. Mahmoud e Abu Waheeb continuam a expandir os domínios do grupo que agora já dominam boa parte do Iraque e da Síria e já criaram um califado próprio, o Estado Islâmico. Maeda voltou para Bagdá que mesmo estando bem perto dessa confusão, ainda segue numa certa "calma". Tudo ia desta maneira até que em 2017, depois de uma invasão por terra na Síria causando uma grande derrota do EI, conflitos na Arábia Saudita que já estavam intensos, ficaram ainda mais ferozes causando conflitos também com o Irã e fazendo uma explosão acontecer no mundo. Uma explosão que mudou tudo para sempre.
    Em 2417 um jovem arqueólogo escavando as ruínas de Raqqa, encontrou um pergaminho. Este pergaminho intitulado "Conflito de Jovens", foi escrito por um jovem inglês, chamado Zakhariya, que segundo ele próprio conta, era um coletor de histórias em regiões de conflito. Na época da grande guerra Zakhariya foi até a Síria onde conheceu vários jovens de vários grupos e colocou cada um com seus sonhos e seus medos neste pergaminho. Nele também se encontra o relato de uma mulher idosa sobre o dia que foi estuprada e todos os dramas de sua vida. Além de ter dados sobre o próprio escritor que fala sobre sua cunhada chamada Aisha e das histórias de uma menina que mudou a vida dela, uma menina chamada Maeda, que segundo o pergaminho conta, infelizmente viu toda sua família morrer durante a queda de Bagdá. Esta e muitas outras histórias podem ser vistas no Pergaminho de Zakhariya, que se encontra no museu de Artlochka, no Império Sóxia.
Cada pessoa é uma pessoa para cada pessoa

 Luiza? Luiza? Estás bem?
- Sim, desculpa estava distraída!
- Pareces-me cansada! devias tirar umas férias.
- Ahhh férias! Suspirou luiza.
Luiza e Sara trabalhavam juntas, Luiza era arquitecta e ao contrário de Sara, só pensava em trabalho e entre tantas reuniões e viagens, ficava para traz a vontade de constituir uma família. Sara era decoradora, estava casada há cinco anos com Fernando. Não tinham filhos, o seu sonho era ser mãe e desde então que tentava engravidar, mas sem sucesso.
- Luiza? Luiza?
- Hã? Desculpa! Hoje não estou nos meus dias! Respondeu Luiza com ar abatido.
- Está na hora do almoço! Almoças comigo?
- Não sara! Vou ficar por aqui, ainda tenho algumas coisas para colocar em ordem.
- Está bem! Até já então!
Era Outono, lá fora chovia, as árvores já não tinham folhas. Luiza olhava pela janela e lembrara-se de quando era criança. Adorava brincar na chuva, de saltar em cima das poças. Sorriu ao lembrar-se dos raspanetes que a mãe costumava lhe dar, quando chegava suja em casa. Sempre fora maria rapaz, na escola era boa aluna e tirava notas exemplares, notas essas que lhe asseguraram um futuro promissor.
Após mais um dia de trabalho, Luiza preparava-se para ir dormir. O telefone toca, era Sara.
- Luiza! Desculpa estar a ligar a esta hora, mas queria te pedir um favor! Amanhã não vou poder estar com aquele cliente que te falei, o Sr Andrade, importas-te de ir no meu lugar?
- Claro que não Sara!
- Óptimo, fico-te a dever esta! Brincou Sara.
- Não te preocupes, depois ligo-te para te dizer como correu! Respondeu Luiza.
Pouco passava das oito horas da manhã, Luiza tomava o seu banho matinal.  Estava entusiasmada, hoje ia conhecer a propriedade do Sr Andrade que ficava no alto da serra, pois era nestas ocasiões que aproveitava o trabalho para viajar e conhecer lugares novos. O Sr Andrade tinha contratado a empresa porque queria transformar a propriedade numa pousada.
Luiza tomou o pequeno almoço apressadamente, até chegar à serra ainda eram três horas de viagem, por isso queria partir cedo, pois detestava aglomerosas filas de trânsito.
O dia estava calmo, o sol teimava em não aparecer.
- Espero que não chova! Pensou.
Luiza estava agora a menos de uma hora de chegar à serra, ia contemplando a paisagem verde e brilhante.
Era a primeira vez que ia para lá, Sara contara-lhe que a propriedade ficava numa zona isolada da cidade e para lá chegar tinha que ter atenção a um pequeno desvio que ficava no cimo da estrada. Luiza já conseguia avistar a serra ao longe, percorria uma estrada longa e estreita, com imensas árvores ao seu redor, formando um túnel de folhas que arqueavam a estrada. Era uma paisagem muito bonita, o ar puro que emananava, deixava Luiza mais relaxada.
- Lá esta ele! Não tinha sido difícil encontrar o desvio.
Finalmente chegou, a  partir dali já não havia saída. Uns metros mais à frente, havia um enorme muro que estava cercado de belas trepadeiras. Não tinha portão, era uma entrada arqueada, toda trabalhada em pedra. Luiza estacionou o carro e decidiu percorrer o resto a pé. Aproximou-se da propriedade e entrou.
- Uauuuuu! Exclamou.
Estava diante de um belíssimo palacete do séc xviii, rodeado de um jardim de espécies botânicas. Luiza estava maravilhada. Olhou à volta e não viu ninguém.
- Onde teria se metido o Sr Andrade?
Enquanto esperava, decidiu dar uma vista de olhos pela propriedade. Aquele lugar era fascinante, ao passear pelo jardim, reparou num pequeno lago que ficava por traz da casa. Luiza aproximou-se, era um lago com carpas de variadíssimas cores. Mais uma vez, deu por si a lembrar-se do tempo que era criança. Lembrança essa que foi interrompida por um barulho, vindo do lado de lá do lago. Luiza foi ver o que era.
- Sr Andrade?, Sr Andrade?
Mas ninguém respondia. Decidiu avançar mais. À sua frente, estava um poço de água e ao lado do poço, existia uma velha cabana. Ouviu novamente o barulho e percebeu que vinha de dentro da cabana.
- Sr Andrade? Insistiu mais uma vez.
A porta estava entreaberta, movida pela curiosidade, decidiu entrar. Parecia estar abandonada e estava cheia de pó. Alguém fizera daquilo  uma arrecadaçã, onde foram guardando velharias. Derrepente ouviu risos. Luiza assustou-se, eram risos de uma criança, espreitou pela janela, mas não viu ninguém. Começou a sentir um arrepio frio. Agora ouvia o som bem atrás de si e virou-se. Luiza empalideceu, viu uma espécie de névoa a pairar no ar.
- O que é isto?
Queria correr dali para fora, mas o corpo não reagia. A névoa, começara a ganhar forma, conseguia ver nítidamente uma criança com cerca de 4 ou 5 anos de idade, tinha umas vestes antigas e sorria para ela.
- Quem és tu? O que queres?
A criança nada dizia, apenas apontava em direção a um velho baú que ali se encontrava. Luiza olhou para lá e quando se virou novamente, a criança tinha desaparecido. Luiza nem queria acreditar no que acabara de presenciar, o seu coração batia a mil. Mais uma vez olhou para o baú e a sua mão trémula tentou abri-lo.
Havia imensas fotos e alguns objectos, reparou num papel e ao pegar-lhe, viu que se tratava de um pergaminho com algo escrito, mas Luiza não conseguia decifrar. As letras estavam sumidas pelo tempo.
- Não devia estar aqui!
Luiza assustada deixou cair o pergaminho.
- Desculpe eu estava só...!!! Mal conseguia falar.
- Este lugar é mágico e desperta muita curiosidade de quem cá aparece! Disse sorrindo.
- É o Sr Andrade?
- Sim, muito prazer e você deve de ser a menina Luiza?
- Sim sou, andava a sua procura!
- Vi um carro ali fora estacionado e percebi que já tinha chegado!
- Sim é o meu! Respondeu Luiza.
- Então? pronta para conhecer a casa?
- Sim claro! Foi para isso que aqui vim! Respondeu agora mais relaxada.
O Sr Andrade, era um homem de estatura média, aparentava ter uns 70 anos e tinha um ar amigável.
O palacete era deslumbrante, era um edifício com cinco pisos, treze quartos e sete casas de banho. Destacava-se um belíssimo salão de pintura.
- O Sr Andrade vive aqui?
- Oh não, a minha casa fica mais em baixo, dentro desta propriedade.
O Sr Andrade contara-lhe que tinha herdado aquela propriedade da sua família que tinha adquirido há muitos anos. Um dos quadros que ali se encontrava, chamou a atenção de Luiza, era um quadro grande que se destacava dos outros todos. Luiza reconheceu de imediato a criança que estava pintada
- É ela! Exclamou.
- É uma bela pintura, não acha? Disse o Sr Andrade.
- Sim é, quem é esta criança do quadro?
- Ah menina Luiza, este é o príncipe Francisco Luís D'ávila! Bem na verdade esta casa pertenceu ao Rei Augusto D'avila, que mandou construi-la para viver aqui com a sua família, a rainha Cecília D'avila e os seus três filhos. O príncipe Francisco Luís D'avila, era o mais novo, mas morreu de tuberculose aos 4 anos de idade. A rainha Cecília ficou devastada e acabaram por se desfazer da propriedade. Depois disso, todos os que a adquiriram permaneceram por pouco tempo, dizem que está assombrada.
- E está mesmo assombrada?
- Ahhhhh eu não creio nisso, menina Luiza!
Luiza, sabia o que tinha visto, mas era inútil falar quando alguém não acredita em nós. O Sr Andrade poderia pensar que era maluquinha ou até mesmo poderia comprometer o seu trabalho. Preferiu ficar em silêncio.
- Bom, vamos então acertar os pormenores das alterações na propriedade?
- Vamos sim, mas convido-a a vir primeiro conhecer a minha casa e provar a famosa torta de caramelo, que é a especialidade da minha Graciete.
A D. graciete, era uma senhora muito simpática e fazia a melhor torta de caramelo que alguma vez comera. Depois de ter acertado tudo com o Sr Andrade, Luiza despedira-se daquele casal amigável.
- Então já vai? Disse a D. Graciete.
- Tem de ser, ainda me vou pôr à estrada e olhe que ainda são uns bons quilómetros.
- Então espere, vai levar umas fatias de torta para a viagem.
Luiza agradeceu enternecida com o gesto.
Já tinha escurecido, mil coisas passavam pela sua cabeça.
- Estarei a eloquecer? O que aquela criança queria de mim? Interrogava-se.
Percorreu a viagem sempre pensativa. Luiza chegou a casa exausta, no seu atendedor de chamadas estavam varias mensagens de Sara. Queria saber como tinha corrido o trabalho, pois não tinha lhe telefonado como prometera. Estava demasiado cansada para fazer fosse o que fosse, tomou um banho rápido e caiu no sono.
Três meses se passaram, Luiza nunca mais tinha voltado à propriedade, o Sr Andrade costumava telefonar para lhe pôr a par dos andamentos do trabalho. Também nunca comentara nada com Sara sobre o que lá tinha acontecido. Achara que ela era demasiado cetica para acreditar numa historia daquelas e poderia até adivinhar o que Sara lhe diria, que era fruto do excesso de trabalho. Desde aquele dia, luiza passou a ter sonhos estranhos com aquela criança. O último sonho que tivera, Luiza via não só um, mas dois príncipes iguaizinhos aquela pintura. Estavam de mãos dadas e riam tão alto que Luiza acordara sobressaltada.
Era uma Quarta Feira, Luiza acabara de chegar a casa, depois de mais um longo dia de trabalho. Meteu uma música para relaxar e foi tomar um banho. Já estava dentro da banheira quando de súbito a música parou, o que a deixou irritada.
- Deve ter avariado! Pensou.
A música voltou pouco tempo depois, a seguir ouviu um ruído, pareceu-lhe ouvir pessoas a correr,
acompanhado de risos.
- CHEGA! Gritou Luiza completamente fora de si.
Levantou-se e vestiu o roupão. Estava tudo tranquilo, a música continuava a tocar. Pegou no telefone e ligou para o Sr Andrade. A conversa demorou cerca de uma hora, mas parecera que fora rápida.
Luiza contou tudo ao Sr Andrade, desde o dia que tinha ido à propriedade. Os sons, as aparições, os sonhos, tudo...! Para seu espanto o Sr Andrade começou a rir, não que ele estivesse a duvidar, mas de como já soubesse de tudo.
- Oh menina Luiza, não se preocupe, o príncipe não faz mal nenhum, deve de ser mais uma das suas partidas!
- Então também já o viu?
- Poucas! Umas duas ou três vezes, mas ouço-o sempre. Quando vêm alguém estranho cá a casa, fica mais agitado e nota-se mais a sua presença.
- Mas, então porque disse que não acreditava? Perguntou Luiza.
- Ah menina Luiza, não a queria assustar e depois quem é que iria acreditar num pobre velho como eu? Brincou. O Sr Andrade explicou que aquele pergaminho era o registo de nascimento do príncipe Francisco Luís D'avila datado de 1745, tendo nascido a 14 de Maio desse ano. Luiza continuava sem saber porquê que o príncipe a atormentava.
O tempo foi passando, a convite do Sr Andrade, Luiza voltara à propriedade para passar o fim de semana e ver como andava a "nova pousada". O tempo que lá esteve, por incrível que pareça não houve incidentes e Luiza pôde gozar ao máximo a sua estadia. Aproveitou para conhecer as redondezas, travou amizade com um casal inglês, que também lá estava hospedado e os serões eram passados a ouvir as histórias que o Sr Andrade contava. Chegara o dia da partida, Luiza arrumava as malas no carro, emocionada, despediu-se do Sr Andrade e da D Graciete, que já segurava a sua torta de caramelo para a viagem. Sentia um carinho maternal por eles, e já estava rendida àquele adorável casal.
- A menina venha sempre que quiser, gostamos muito de a ter por cá! Disse D. Graciete
- Virei sempre que poder! Respondeu.
- Aliás, já nem consigo ficar tanto tempo sem comer a sua torta! Brincou Luiza.
O Sr Andrade, também estava emocionado, podia se ver uma lagrimita no canto do olho, que ele teimava em disfarçar. A viagem correu bem, Luiza chegou a casa bem disposta, já nem se lembrava do príncipe. Pela primeira vez, Luiza dormiu sem nenhum sobressalto.
Ao chegar ao trabalho, Sara já se encontrava lá.
- Que cara ótima! Disse Sara.
- Aquele sítio é maravilhoso, poderia ficar por lá mais tempo se podesse! Disse Luiza com um brilho nos olhos.
- Olha quem fala, a Sra ocupadissima! Brincou Sara.
Riram as duas, Sara percebera que a amiga estava diferente, mais alegre e mais descontraída.
- Luiza podes almoçar comigo hoje?
- Claro que sim! respondeu Luiza, surpreendendo Sara.
Raras foram as vezes que fizeram uma refeição juntas, pois luiza preferia sempre ficar no escritório.
O restaurante era muito agradavel e ficava virado para o mar, tinha uma vista incrível e a comida era deliciosa.
- Uauuuu! este restaurante é espectacular, nunca tinha vindo cá!
- Claro que não! Estás sempre enfiada naquele escritório! Riu Sara.
- É verdade! Concordou Luiza.
- Este restaurante é um dos meus sítios preferidos, venho sempre cá, principalmente em dias especiais!
- Humm! Então hoje é algum dia especial? Perguntou Luiza curiosa.
- Exactamente, por isso trouxe-te aqui hoje. Tenho uma novidade para te contar!
- Ai Sara! Estás-me a deixar curiosa, conta lá!
- Está bem, eu digo! Eu estou gravida!
- Saraaaaa!!! Oh minha querida, parabéns, que notícia maravilhosa.
- Sim! Mas não é tudo! Eu estou grávida de gémeos e são dois meninos! Disse Sara.
- O quê??? Estás a falar a serio?
Luiza estava boquiaberta, por esta não esperava. Finalmente o desejo da sua amiga Sara tinha se concretizado.
- Mas como? Quando? Conta-me tudo! Perguntava Luiza.
- Então em Maio, fui àquela clínica que te falei e fiz a inseminação artificial no dia 14. Nem queria acreditar quando fiz o teste e deu positivo! E ontem recebi o teste da sexagem fetal, são dois meninos, dois principezinhos.
De repente, fez- se luz na cabeça de Luiza e tudo começara a fazer sentido, os gémeos, as datas, tudo coincidira. Agora percebia o que aquela criança lhe queria transmitir. Era o seu regresso, regresso esse, que a vida lhe tinha porporcionado, depois de ter partido tão precocemente.
- Luísa, quero-te convidar para seres a madrinha, aceitas?
- Mas é claro que aceito! Estou tão feliz por ti e pelo Fernando! mas diz-me já escolhes- te os nomes?
- Sim já, mas queria saber a tua opinião! Estava a pensar em Francisco e Luis! O que achas? Luiza??? Luiza???
                                                           
                                                                                          Fim

Peço desculpa pelo atraso na colocação dos resultados, não volto a estabelecer uma data limite de um passatempo que coincida com os Santos Populares! :laugh:

Assim chegou ao fim mais um Choped Literário!

O conto vencedor é o do membro Super Dragona

Podem ler o conto vencedor aqui

Muitos Parabéns! :D

Segue abaixo a classificação geral de todos os participantes:

Super Dragona - 6
Fingarfan - 4
Jedson F - 3
Batseba - 3

Muito obrigado pela vossa participação!  :)

Citação de: Gawen em 14 junho, 2015, 20:21
Peço desculpa pelo atraso na colocação dos resultados, não volto a estabelecer uma data limite de um passatempo que coincida com os Santos Populares! :laugh:
Eu te perdoo Gawen ;D
Parabéns Super Dragona  ;)
Cada pessoa é uma pessoa para cada pessoa

..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

Parabéns, Super Dragona!!!

O Homem é do tamanho do seu Sonho!