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  • Maria Professora
    Iniciado por cepticooucrente
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"A Maria foi para mim

Uma grande, grande amiga,

Nos momentos bons e maus,

Da vida...".


Fraca, a estrofe, não é? Também acho (embora ainda alimente a vaga esperança de a vender ao André Sardet). Mas temos de a analisar à luz do seu contexto. Tínhamos nove anos. Estávamos a terminar a quarta classe. E resolvemos escrever uma nova letra para o "That's Why " dos Michael Learn to Rock. Sim, é embaraçoso, eu sei, mas há uma razão para estar a partilhar isto! Uma pessoa não revela um passado que envolva bandas dinamarquesas duvidosas assim, em vão, sem um forte motivo. E o forte motivo chama-se Maria.

Maria Professora, era assim que lhe chamávamos na altura. Como se "Professora" fosse apelido. E é de facto o mais imponente dos apelidos, melhor que muitos nomes de família com consoantes repetidas. Lembro-me daquele dia como se fosse ontem. "O drama, o horror", como diria Artur Albarran. Chorámos baba e ranho. Era o último dia. A despedida da quarta classe, do colégio, dos amigos, mas sobretudo da Maria Professora, a quem dedicámos a música. Para agradecer os quatro anos em que nos acompanhou, todos os dias. E nessa altura os anos pareciam séculos, não passavam num instante como agora, em menos de um fósforo – expressão que se usava na época em livros de aventuras – e que agora teria de ser substituída por "em menos de um like no Facebook".

Felizmente não sou do tempo (ou do local) das professoras primárias severas, que davam gritos e reguadas. Sou do tempo de uma professora incrível, de paciência infinita e serenidade inabalável.  De sorriso aberto, sempre. E com capacidade para ensinar tudo, a toda a gente. Na altura, até eu percebia matemática! Havia truques, mnemónicas, soluções para tudo e todos.

Eu olhava, olhávamos todos, para a Maria Professora com um encantamento indescritível: o que ela dizia era lei. Ela sabia tudo. Pensávamos nós. Na verdade, a Maria Professora devia estar cheia de dúvidas: aquela sumidade que víamos na altura, era uma miúda nova, estreante a dar aulas, éramos a sua primeira turma, e ela não estaria assim tão longe da idade dos porquês. Mas para nós, era uma autoridade em qualquer matéria. Sinto que, muitas vezes, os professores primários são subestimados. Não têm a visibilidade dos professores do secundário, e muito menos o prestígio dos docentes universitários. Mas têm mais importância que todos eles.

Há quem veja a "primária" (agora é 1º ciclo, modernices!) como isso mesmo: uma coisa primária, básica, elementar, que não apresenta grande dificuldade. Para mim, primário têm um outro sentido. O sentido de fundamental. As primeiras coisas aprendem-se ali. Não há uma segunda oportunidade. Ou corre bem, ou corremos para sempre atrás do prejuízo. Lembro-me de chegar à faculdade e me impressionar com alguns erros de colegas meus, que me faziam pensar: "não andaram na primária?". Há por aí taxistas que defendem "um Salazar em cada esquina", eu, fundamentalista da saudade, sou apologista de "uma Maria Professora em cada escola".

"À Maria e só a ela,

Queremos nós agradecer,

Pois nunca a vamos esquecer".


A letra mantém-se pouco brilhante, mas continua actual. Não a vou esquecer, mesmo. Na altura, chamava-lhe Maria Professora. Hoje chamo-lhe Maria Capaz. Obrigada!


por Joana Marques


Eu tenho muitas saudades da minha Maria Professora. Quem mais tem? :)

Citação de: cepticooucrente em 22 abril, 2015, 09:42
Felizmente não sou do tempo (ou do local) das professoras primárias severas, que davam gritos e reguadas.

Eu, apesar de jovem, infelizmente sou desse tempo  >:(

Muitas réguas ajudei a roubar para não termos que levarmos com elas :( bastava um erro num ditado já dava direito a aquecimento central nas mãos

E cada vez que via o Dartação e aparecia este vilão da imagem abaixo, lembrava-me do raio da mulher, porque ela era rechunchuda com o boneca e estava sempre a pintar-se, ficando super parecida com ele  ;D

Se um rema e outro cruza os braços ou rema para outro lado... mais vale abandonar o barco e seguir sozinho.

A minha professora era de dar uns estalos e uns puxões de orelhas, embora eu nunca tenha levado uma única vez. Por isso para mim ela era uma querida. :)

Tive uma professora na primária que também tinha lá a régua para quem se porta se mal, no entanto acho que nunca a chegou a usar com ninguém e ainda bem.
Sou apologista que uma boa conversa resolve mais do que palmadas :)
Obrigada,

Weimar

A minha professora da primária tinha uma régua grande e autorização dos pais para bater nos filhos se estes se portassem mal. Se levei algumas vezes, não me recordo e isso é bom sinal. Mas lembro-me que quando ela batia em alguém, todos fechávamos os olhos e dizíamos "uiiiiii" :(

O mais triste, não eram as reguadas, mas sim as orelhas de burro. Como eu detestava isto. Se alguém se portasse mal, era colocado no canto da sala com essas orelhas, para sentir-se envergonhado :(

Acho que a minha Maria Professora já não está cá. Na altura ela era já uma professora com alguma idade. Eu gostava muito dela e sempre achei que ela era uma excelente professora: exigente, rigorosa, mas ao mesmo tempo querida. Daquelas que educava a sério. Era impossível não gostarmos dela.

Obrigada cepticooucrente por me proporcionares este momento para recordar!
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

#5
Eu levei muita porradinha da minha Maria professora. Muita mesmo. Regua, estalada..
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

Muito embora não lhe dêem o valor que merecem são os professores que nos ensinaram as primeiras letras, aqueles que também lançaram os primeiros "caboucos" para a construção do que somos hoje. Abrangendo todas as principais matérias, ensinaram-nos a amar ou odiar esta ou aquela. Deram-nos a primeiras noções do amor: à família, aos amigos, à Pátria.
Contaram-nos a nossa História e ensinaram-nos a amar as nossas raízes. Tentaram educar-nos para que não fossemos um peso na sociedade. Também nos deram umas valentes réguadas e hoje ninguém é capaz de dizer que nos fizeram mal. Hoje, recorda-mo-los com saudade e com a sensação que na altura não lhes demos o valor que mereciam.

Não podia estar mais de acordo, oculto. :)

Eu ainda sou do tempo das reguadas. E tive sempre bons professores, daqueles que gostavam de ensinar.
Iei Or (faça-se luz)
Shalom Aleichem

A minha adormecia sempre de tarde,já era tão velhinha,sempre de lenço na cabeça:-D,mas quando tinha que dar reguadas,lá estava ela,coitados dos meus colegas,especialmente os rapazes,que eram os cristos
;)aify

sofiagov
Citação de: KENKA em 23 abril, 2015, 16:46
A minha adormecia sempre de tarde,já era tão velhinha,sempre de lenço na cabeça:-D,mas quando tinha que dar reguadas,lá estava ela,coitados dos meus colegas,especialmente os rapazes,que eram os cristos

;D ;D ;D ;D