Sonhar com episódios de mortes e sentir-se vazio

Olá a todos, pela segunda vez estou a utilizar este forum porque tento procurar uma explicação para estes acontecimentos e ainda não consegui, então vou começar.
Em primeiro lugar quero dizer que quase todas as noites tenho pesadelos, e a maioria são com mortes de pessoas que não conheço de lado nenhum(por vezes acordo e lembro-me e outras não) mas entre esses sonhos/pesadelos quero destacar dois: O primeiro foi uma vez que sonhei com uma casa ao pé do com uma familia que tinha duas gemeas, e os pais gostavam mais de uma do que outra, um dia num incêndio a filha que os pais gostavam mais morreu para salvar a irmã. Posso dizer que neste sonho consegui sentir a dor, o momento do incendio da filha que tinha morrido mas tambem da sobrevivente, acordei e tive imenso tempo para consciencializar e acalmar-me de que estava tudo bem e era apenas um sonho, e tive de luz acesa pois parecia que alguém estava ali. Outro sonho/pesadelo que destaco é um sonho que tive dias antes de ser internada com um rapaz que supostamente tinha morrido mas continuava presente e queria fazer muito mal aos pais, dias depois sou internada e vejo esse rapaz no hospital(fiquei muito assustada).

A outra coisa, e por fim também, é que desde que passei por uma experiência de quase morte que me sinto vazia, olho-me ao espelho e não me reconheço, pareço simplesmente um corpo oco sem nada dentro de si, de facto eu olho e fico imenso tempo a olhar para os meu rosto, mais propriamente olhos, pois não vejo nada em mim, é como se fosse um estranho, apenas uma pessoa sem nada dentro de si(não consigo explicar muito bem esta sensação) e parece que estou mais fria, que não tenho sentimento, que nada me ''toca''.

Peço desculpa pelo testamento e pelos assuntos extensos mas precisava mesmo de expor isto a alguém que perceba destas coisas que para mim são estranhas, agradecia imenso a vossa opinião. Obrigado 

Olá ClarissaSalazar

Antes de mais obrigada pela sua partilha.

Gostaria de lhe colocar algumas questões, pois sinto que elas serão importantes para se realizar uma interpretação coerente dos seus sonhos.

Questões:
Estes dois sonhos que relata ocorreram antes ou depois da sua experiência quase morte?
Os seus pesadelos noturnos estão mais frequentes após a sua experiência quase morte?
Já alguma vez consultou algum médico para lhe falar do seu sentimento de "vazio"?
Quer partilhar connosco a sua experiência quase morte?

Bem-haja!

Esses sonhos foram antes da experiência, continuo a ter pesadelos sim mas não me recordo muito bem deles portanto não sei explicar bem pois ando a tomar medicação para dormir. Ainda não consultei nenhum médico sobre esse ''vazio'' .
Não me sinto muito à vontade ainda para falar dessa experiência, peço desculpa. Se puder ajudar em algo mais estou aqui

ClarissaSalazar não tem que partilhar uma experiência sua se não se sente confortável em fazê-lo, ok? E não tem que pedir desculpa sequer, porque eu compreendo! Eu apenas fiz estas questões para compreender melhor se o que aqui relatou poderia estar, de alguma forma, associado ao episódio de quase morte, entende? Isto porque os processos da mente inconsciente são muito complexos e mascarados.

Então vejamos, o seu primeiro sonho, parece-me que se encontra associado com alguma vida passada. No sonho, você esteve como "observadora" da família, o que até foi bom, pois não se conseguiu identificar com nenhum dos personagens em particular. No entanto, o episódio foi cruel, devido ao incêndio que ocorreu, sendo que você acaba por transferir a dor sentida pelas gémeas (a sobrevivente e a que morreu) para si própria. Daqui podemos levantar duas hipóteses:

1) você ser uma das gémeas, mesmo sendo observadora no seu sonho. Isto explicaria a razão pela qual você "sentiu a dor delas". Também porque entre gémeas há sempre uma ligação forte e, diz-se que se elas forem verdadeiras (monozigóticas) que o que uma sente a outra também sentirá.

2) você ter sido a pessoa causadora do incêndio. O que acaba também por justificar a "dor" sentida, pois se efetivamente se considerou como "culpada", quando desencarnou e tomou consciência da sua ação, você teve que "sentir" na pele a dor que perpetrou às vítimas e às pessoas que sofreram com o incidente.

O seu sonho, não tem indicadores palpáveis que possamos aceitar que se trate da primeira ou da segunda hipótese. No entanto, quer seja a primeira, quer a segunda, justificam a "sensação" de estar "ali alguém" quando você acorda. Se aceitarmos a primeira hipótese, esse alguém poderia ser um dos personagens afetados; se aceitarmos a segunda hipótese, esse alguém poderá ter sido um "mentor de Luz" que veio protege-la da experiência, compreende?

O segundo sonho, não compreendi muito bem. Você sonhou antes de ser internada certo? E sonhou com um rapaz que tinha morrido mas que continuava presente e queria fazer mal aos pais. Depois, já acordada, você é internada e vê esse rapaz no hospital o que a deixa assustada. Foi isso? Não entendi muito bem o que era o sonho e o que aconteceu sem ser sonho, entende? Clarifique-me, por favor, para lhe poder dar a minha opinião sobre este sonho.

Por fim, relativamente à sua última pergunta, esta é a minha opinião e vale o que vale, ok? Cabe a si decidir o que irá ou não fazer.

Em primeiro lugar, o facto de ter sempre pesadelos ou sonhos com mortos não é, por si só, um indicador positivo. Parece-me que há qualquer coisa a "perturbar" o seu espírito. E efetivamente, parece-me, também, que se prende com vidas passadas. Quando sonhamos repetidamente com alguma coisa, significa que há uma aprendizagem que deveria ter sido realizada e que ainda não aconteceu. Relativamente a este assunto, creio que deverá procurar ajuda. A minha recomendação, em função do seu estado emocional obviamente, será encontrar alguém sério que a possa ajudar a resolver esse "bloqueio espiritual", através, por exemplo de uma terapia de vidas passadas.

Clinicamente, se você consultar um médico para o efeito, nenhuma conclusão chegarão e lhe darão medicamentos para dormir e não se lembrar de nada. Isto não é solução. Para além das vidas passadas há outras terapias que "desbloqueiam" energias que afetam a vida atual, como por exemplo, a Emotional Freedom Technique (EFT, técnica de libertação da emoção), entre outras. É uma questão de procurar alguém sério, profissional e credenciado para o fazer. 

Em segundo lugar, relativamente à experiência quase morte, posso dizer-lhe que um dos "sintomas" após a experiência é precisamente esse "vazio" que sente. Não sei há quanto tempo aconteceu o episódio, mas a sensação de "dissociação" é uma resposta adaptativa ao trauma vivenciado. Deduzo, portanto, que a experiência foi muito intensa, sob o ponto de vista emocional, o que a leva a não se "identificar" com nada daquilo que vê em si, enquanto pessoa. Como me referiu que ainda não consultou um médico, eu sugiro vivamente que o faça.

Sabe porquê? Essa "sensação" é um sinal de alerta do seu corpo que algo não está bem. É como se ainda estivesse em "estado de choque" e o problema, se não procura uma ajuda médica especializada, é o facto de essa "sensação" evoluir para uma perturbação de stress pós-traumático, compreende isto?

Por isso, a mim faz-me todo o sentido que consulte um médico especialista, nomeadamente em Psiquiatria e que conte o que está a sentir. Sei também que não será fácil para si ter que falar sobre o episódio com outras pessoas ou revivê-lo novamente para que possa ser ajudada. Há técnicas de dessensibilização e de relaxamento que a irão ajudar a partilhar a experiência, caso seja demasiadamente intenso para si.

Desejo-lhe tudo de bom e cuide de si!
(se me quiser clarificar o segundo sonho, talvez possa apresentar a minha interpretação).

Bem-haja!

Hey, eu não sei nada sobre experiências paranormais e só estou aqui por curiosidade, mas ao ler o seu post achei que devesse dizer algo porque conheço bem essa sensação de vazio que descreveu! Não me reconhecer ao espelho, parecer que tudo é irreal e que não estou 100% em contacto com o resto do mundo - chama-se despersonalização e desrealização, são dois sintomas muito comuns da ansiedade mas que poucas pessoas conhecem por serem tao difíceis de descrever. Pelo seu post, presumo que talvez os seus sonhos a deixem nesse estado de ansiedade que induzem a esses sintomas.

Apenas para clarificar os conceitos.

A despersonalização, no contexto da experiência quase morte, é um sentimento de estranhamento ou de irrealidade, que imita o estado de morte e que sacrifica uma parte da personalidade para evitar a morte real, muito embora a despersonalização não esclareça a ampliação da agilidade mental nem a consciência mística, que se observam nessas experiências. O aspeto central da despersonalização é a sensação de estar desligado do mundo como se, na verdade, estivesse sonhando. O indivíduo que experimenta a despersonalização tem a impressão de estar num mundo fictício, irreal, mas a convicção da realidade não se altera.

A desrealização é uma sensação e não uma alteração do pensamento, como acontece nas psicoses onde o indivíduo não diferencia realidade da "fantasia". Na despersonalização o indivíduo tem preservado o sentido de realidade apesar de ter uma sensação de que o que está vendo não é real. É comum a sensação de ser o observador de si próprio e até sentir o "movimento" de saída de dentro do próprio corpo de onde se observa a si mesmo de um lugar de fora do próprio corpo.

Enquanto a despersonalização é tida como uma fantasia, uma fuga da realidade, o fenómeno de dissociação tem sido comparado com a separação de pensamentos, sentimentos ou experiências do curso normal da consciência e da memória, o que é uma resposta de adaptação ao trauma, comum em pessoas sem outras alterações patológicas que sofreram uma experiência quase morte.

Muitas pessoas que passaram por esta experiência compartilham de uma dissociação posterior ao evento, descrita como uma desconexão da perceção, cognição, emoção e identidade do fluxo predominante de consciência do indivíduo (que é exatamente aquilo que refere quando diz que se olha no espelho e não se reconhece, parece que tem um corpo oco, sensação de que é um estranho, sensação de estar mais fria, ausência de sentimento, pois o evento já aconteceu).