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    Iniciado por cepticooucrente
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A conversa arranca hesitante, lentamente, como o comboio onde acabam de se conhecer, que vai ganhando ritmo e velocidade.

• Tenho 36 anos, sou engenheiro electrotécnico, gosto de fazer surf e passei grande parte dos meus tempos livres da adolescência a ir a casamentos à penetra. Não casei mas pode ser que um dia... Dos tempos de faculdade, em que vim sozinho do Porto para Lisboa, guardei uma irritante mania de ser independente que me tem dificultado bastante a vida. Acho complicada essa história de partilhar tudo, de dar explicações, de ter o futuro todo previsto. E além disso sou um romântico incurável que ama as mulheres acima de tudo.

• Sobre mim que queres tu que te diga? Sou uma mulher como as outras. Nasci em Oeiras, vou a caminho dos quarenta, casada, com uma filha de oito anos. Trabalho muito, divirto-me pouco e ganho menos do que mereço. Passo o tempo todo a correr, não me sobra tempo para nada que me dê verdadeiro gozo e às vezes, como agora, só me dá vontade de fugir.

• Eh! Estou a ver que o ânimo está pelas ruas da amargura. Que é que se passa?

• Passa-se tudo. Não interessa. Não te conheço de parte nenhuma.

• Por isso mesmo. Aproveita. Não nos conhecemos, não nos julgamos. Podemos ser sinceros à nossa vontade, já viste? Se calhar nem tu nem eu voltaremos a ter uma hipótese destas de nos confessarmos e pode ser bastante compensador.

• Não nos conhecemos mas podemos vir a conhecer-nos em qualquer altura. Tu moras em Lisboa, eu em Oeiras, temos a mesma idade, provavelmente até conhecemos muita gente em comum e só nunca nos encontrámos por mero acaso. Mas essa é uma realidade que se pode alterar a qualquer momento. E depois, se isso acontecer, com que cara é que ficamos?

• Com uma cara divertida e sorridente, suponho. Aproveita. Exorciza-te. Nada disso aconteceu ainda. Gostava de viver em Oeiras. Gostas?

• Se gosto? De quê, concretamente? Do preço exorbitante dos supermercados, da falta de escolas públicas decentes ou do trânsito que apanho para ir trabalhar? Dava tudo para viver em Lisboa.

• E não vives porquê?

• Porque o meu marido é advogado e vai trabalhar de moto. Como não apanha trânsito viver noutro sítio é uma hipótese que ele nem coloca. Tem uma qualidade de vida, diz ele, que faz inveja a toda a gente. E já agora, sabes porquê? Porque sou eu que levo a minha filha à escola e sou eu que vou buscá-la todos os dias. Porque sou eu que ando para trás e para a frente, que faço as compras, que a levo à natação, ao ballet e que faço tudo o resto.
Aposto que estás a perguntar porquê? Porque o senhor doutor é uma pessoa muito ocupada. Uma pessoa muito ocupada que anda de moto e nunca pode. Nunca pode nada.

• Se calhar estás a ser injusta. Se ele não pode mesmo e tu até tens um horário melhor...

• Claro, lá vem o macho defender o outro macho. Eu sabia que não devia ter esta conversa.

• Nada disso, só estou a colocar a conversa em perspetiva. Às vezes ajuda.

• Pois sim, mas o meu horário melhor tem-me custado muito profissionalmente falando. Muitas bocas. Muitas más avaliações, muitas acusações de falta de disponibilidade. Já ele tem uma vida muito complicada, entre o escritório, o tribunal e o golf com os clientes e com o chefe e nem coloca a hipótese de dizer que não. Não pode faltar nunca, seria uma desfeita imperdoável. Tem uma carreira, sabes? E eu? E a minha carreira?

• E como é que ele pode resolver isso?

• Ele? Ele pode começar por dizer a essa cambada de chupistas que ainda tem uma família que precisa dele. Ainda, mas por pouco tempo, parece-me. Ou agora ter mulher e filhos passou a ser uma vergonha? Um empecilho?

• Para mim não seria, certamente.

• Sim, sim. Por isso é que não tens.

• Eu não tenho família porque ainda não encontrei a pessoa certa. Não quero que o meu casamento seja como o teu. Não quero que a minha mulher diga mal de mim a ninguém. Quero chegar a casa feliz e encontrar a minha mulher feliz, cumprimentá-la com um abraço e recebê-lo de volta, fazer amor com ela com vontade e frequência. Quero criar uma família bonita, brincar com os meus filhos, vê-los crescer. Quero namorar a vida toda. E é isso que não consigo encontrar. A mulher que me dê vontade de namorar com ela para sempre.

• Tal e qual! Queres chegar a casa e encontrar lá a tua mulher, vês? E se por acaso ela quiser ter uma carreira, perseguir os sonhos dela? Queres brincar com os teus filhos, vê-los crescer. E se chegares a casa e ela não estiver lá e tu tiveres de ir às compras, fazer o jantar, dar-lhes banho, dar-lhes o jantar, brincar com eles num instante, ler-lhes uma história a correr e deitá-los já com peso na consciência porque é tardíssimo e a seguir, enquanto esperas pela tua mulher para jantarem juntos ainda passares roupa a ferro até desistires e finalmente comeres qualquer coisa sozinho? E se tiveres de fazer isto todos os dias?
E se ainda arrumares a cozinha e deixares tudo impecável para ela chegar e não ter de fazer nada a não ser comer e ela chega, arrasada e de trombas, sem vontade de conversar e come num instante, sem sequer saborear, ofendida por não teres esperado por ela e depois deixa tudo espalhado e vai para a cama e deixa-te sozinho com a tua inacreditável vontade de fazer amor?

Pois, bem me queria parecer. Vai lá para outra carruagem, vai. Idiota.



Marta Elias

Mais uma que não assume o seu papel :)

Por isso eles fogem delas   8)
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

Citação de: Faty Lee em 16 março, 2015, 17:13
Mais uma que não assume o seu papel :)

Por isso eles fogem delas   8)

ai o que voce foi dizer...  ::) ...assim vai já arranjar mais uma guerra de sexos...  :P

...a culpa nem é dele, nem é dela... é da sociedade no geral...

...e até vou deixar uma musiquinha para "dar ambiente"...

http://www.youtube.com/watch?v=ihSxQfI_NAs
a minha religião é a verdade...

hehehehe vai ser giro... ;D

Eu "assomo" aquilo que escrevo, lol ;D
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

BlackMiau
Vejo tantos e tantas a queixarem-se dos respectivos... quando pergunto porque continuam com uma vida que não os deixa feliz, respondem que "dá jeito".

Err... ficar com alguém porque "dá jeito"? Para mim não faz sentido algum...

Acho que gosto demasiado da liberdade que tenho para pensar sequer em ficar com alguém só "porque sim". Felizmente tenho alguém que me aceita assim e me atura as doidices ;)

Citação de: BlackMiau em 16 março, 2015, 22:51
Vejo tantos e tantas a queixarem-se dos respectivos... quando pergunto porque continuam com uma vida que não os deixa feliz, respondem que "dá jeito".

Err... ficar com alguém porque "dá jeito"? Para mim não faz sentido algum...

Acho que gosto demasiado da liberdade que tenho para pensar sequer em ficar com alguém só "porque sim". Felizmente tenho alguém que me aceita assim e me atura as doidices ;)

O mais grave não é reclamar dos "respetivos", mas da vida. Neste caso nota-se que há uma grande frustração dela enquanto profissional. O certo seria perguntar-lhe o que é que ela já fez para dar o grito de Ipiranga?  :-\
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

Citação de: Faty Lee em 17 março, 2015, 09:13
O mais grave não é reclamar dos "respetivos", mas da vida. Neste caso nota-se que há uma grande frustração dela enquanto profissional. O certo seria perguntar-lhe o que é que ela já fez para dar o grito de Ipiranga?  :-\

Muitas vezes o lamento é mais fácil do que a luta...  :-\

Em 2009 tive uma professora de Economia, com quem tive grandes debates relacionados com política e economia, que dizia que cada vez mais as mulheres se iam emanecipar e quererem seguir carreiras e que nós, homens, iamos cada vez mais estar em casa a fazer o trabalho doméstico e a servir de objeto sexual.
Se um rema e outro cruza os braços ou rema para outro lado... mais vale abandonar o barco e seguir sozinho.

BlackMiau
#9
Eu penso nas minhas vizinhas que só se queixavam da casa, do marido, dos filhos, do trabalho... Uma delas, quando não tinha mais nada que se queixar, ia à GNR fazer queixa de mim por estar a ouvir música às cinco da tarde, por não cumprimentar nas escadas, por vestir preto ou outra parvoíce qualquer.

Citação de: cepticooucrente em 17 março, 2015, 09:21
Muitas vezes o lamento é mais fácil do que a luta...  :-\
Sim, é mais fácil acomodar-se, porque sabem que têm as coisas garantidas, até uma vida sem interesse...

Citação de: BlackMiau em 17 março, 2015, 11:33
Sim, é mais fácil acomodar-se, porque sabem que têm as coisas garantidas, até uma vida sem interesse...

Tenho muita dificuldade em compreender os casais que se mantêm juntos apenas e só por comodismo. Claro que cada um sabe de si e sabemos lá nós muitas vezes o que vai entre 4 paredes... ::)
Acho que aí são apenas colegas de casa... e empatam a vida um do outros... mas amigo não empata amigo! Pelo menos podiam pensar nisso! :P

BlackMiau
Tenho amigos assim, estão com os parceiros só "porque sim". Mas eu não sou ninguém para dar bitaites, até porque nem conheço os parceiros.

mais um texto feminazi? vou já imprimir para quando me faltar papel higiénico! (não estou a falar do post mas sim do texto em si)

ela queixa-se mas se ela está na situação que está é porque se sujeitou e deixou as coisas acontecerem. ela queixa-se da vida que leva mas se calhar o dinheirinho que ela e o marido ganham ao fim do mês dá muito jeito para ir comprar roupinha de marca e ter uma vida estável e com luxos que a maior parte das pessoas não tem.
quer andar na vida loka ou construir uma carreira? então não se casasse, não tivesse filhos ou arranjasse uma pessoa que o permitia ter.
há pessoas que se enfiam na m*rd* e depois queixam-se que estão sujas, olha azar, pensassem nisso antes de se la enfiarem.

BlackMiau
#13
Quem fala assim não é gago, Bullit :)