Lembras-te?

Lembras-te como nos vimos pela primeira vez?

Foi através daquelas paredes de vidro. Estavas do lado de fora, rodeada de senhores e senhoras, e algumas crianças. Vestias de preto. Sempre te vi vestida de preto. Luto pelo teu marido.

E quando saímos pela porta, acabadinhos de chegar do outro lado do oceano, e fomos ter contigo e com todos esses senhores e senhoras e algumas crianças, fiquei a saber que a minha família era muito maior do que eu julgava. Aqueles eram os meus tios e tias, e a miudagem era apenas uma parte dos meus primos. E eu bem queria meter conversa com eles, mas aquele sotaque deles... Ou seria o meu sotaque?

E tu... Começou ali um amor que não se define, apenas se sente. E eu não sabia disso, só tomei consciência desse amor muito mais tarde.

Lembras-te quando vinhas aqui a casa, e eu e os meus irmãos escondíamos a tua bengala? O teu ar de avó ternurenta zangada era divinal. Tu não te zangavas com ninguém, muito menos com os teus netos.

Lembras-te quando o meu pai pediu-me um palito, e tu disseste: "dá-lhe um palhito"? O que nos rimos na altura! Ainda hoje rio-me com o "palhito"!

Lembras-te de jogarmos à cabra cega na casa da tia? Era um fartote de rir! E o estanderete? Eu bem quero lembrar, avó, mas não consigo... Ajuda-me...

Lembras-te de ficares a passar uns dias connosco, e eu cedia-te o meu quarto, e tu comias bolachinhas às escondidas? Andavas sempre com a bolachinha no bolso, caso te desse a fome. Quantas migalhinhas encontrei na minha cama, e eu apenas sorria...

Lembras-te há 20 anos, quando tiveste duas festas de aniversário? Eu fiz-te um bolo, acho que de ananás, e na hora dos parabéns, escondeste a cara com as mãos. Parecias uma criança, envergonhada e feliz. Foi numa sexta-feira. No domingo, o tio apareceu com outro bolo, e tiveste direito a outra festa. Mal podíamos imaginar que seria a última...

Deixaste-nos uns meses depois. O toque daquele sino ainda hoje fura-me a alma. É a vida, eu sei, mas o tempo entre avós e netos deveria ser muito maior. Ter avós é uma bênção, é uma das relações mais sagradas que eu conheço.

E hoje, quem me dera fazer-te outra festa. Fazia um bolinho de chocolate. E cantávamos os parabéns, e desta vez terias os teus bisnetos a rodearem-te. Se cá estivesses... Terias a respeitável idade de 102 anos, e eu andaria de peito inchado por ter uma avó muito querida, meiga, gordinha como as avós ternurentas devem ser, e velhinha. Porque as avós são sempre velhinhas...

... porque um amor entre neta e avó não dá para descrever, e estou cheia de saudades tuas...

Parabéns, avó!!

Uma pessoa sem lembrança é o mesmo que uma folha sem palavras.

fantástico  Littlelight.

Linda homenagem...

Parabéns avó da Littlelight! Está cheia de orgulho!

Palavras para quê, bem lhe disse, basta deixar a alma e o coração fazer o seu trabalho e fará algo incrível como tal, está aí a prova.

Muito lindo mesmo, senti cada palavra, senti a parte do sino como uma bala a perfurar-me a carne, os ossos e alma, senti cada sentimento, alegria e tristeza, uma linda ternura... senti o sentimento, de saudade.

Parabéns à sua querida avó.

Simplesmente fantástico.

Obrigada, lindos!! Obrigada pelas vossas palavras, sei que a avozinha está a adorar! 

Um beijinho!

Beijinho enorme para a sua avó, por tudo aquilo que ela representa e pela neta maravilhosa que tem!

Um beijinho à tua avó!!!!!

Obrigada, meus queridos!! 

Um beijinho também para vocês!

Uma ternura, Era bom que todos os netos fossem assim.


Gostei muito, abraço

Obrigada, linda!

Tive que reler o meu texto e fiquei de novo com lágrimas no olhos... Ai as saudades...