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  • Sem sexo também há sexo
    Iniciado por cepticooucrente
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Luís Miguel procurou uma mesa ao sol e sentou-se. Descontraído, pousou a carteira, passou as mãos pelo cabelo e acendeu um cigarro. Olhou à volta. Apesar de estar fresco, a esplanada estava quase cheia – um velho de chapéu a ler um livro, uma família ruidosa, uma miúda de óculos a falar ao telemóvel, um par de namorados peganhentos... nada de muito interessante. Preparava-se para abrir o jornal quando reparou numa mesa ao fundo, ocupada por duas mulheres que conversavam. Naquele momento, a que se encontrava de frente para ele escutava com interesse a outra, de costas, que falava e gesticulava animadamente.

Contemplou a primeira com o despudor de quem não teme ser notado. De onde estava conseguia vê-la bem: trinta e poucos, blusa preta bem recheada, cabelos compridos, lábios grossos.

Chamou o empregado um par de decibéis acima do necessário, o que teve o efeito desejado de atrair também a atenção dela. Sustentou o olhar, disposto a tentar a sorte. Ela ignorou-o, concentrando-se de novo na conversa com a companheira. O empregado aproximou-se e ele pediu uma caipirinha. Fixou-se de novo na mulher, tão intensamente que ela acabou por reparar, e sorriu-lhe o seu melhor sorriso. Ela continuou séria, indiferente. Ficaram nisto durante um bocado. A presença dele a saturar o espaço dela, ela a fazer que não reparava.

Absorto nos seus devaneios, ele deu por si a sorver o gelo do fundo do copo. Chamou o empregado e pediu outra bebida. Recostado na cadeira, beberricando sedutor e confiante, sempre sem desviar os olhos dela, fumou mais um cigarro. De novo o empregado, outra bebida, outro cigarro. A insistência.

A dada altura, a cabeça da amiga voltou-se para trás, ela riu e ele percebeu que falavam dele.

Sentiu um fulgor nas entranhas.

Ela pegou no maço que se encontrava sobre a mesa e tirou um cigarro, mas em lugar de o acender, levantou-se e começou a caminhar na direção dele.

Luís Miguel sorriu para o seu ego, satisfeito.

Ela chegou perto dele e parou. Com o cigarro na mão direita, inclinou-se para a frente de forma a brindá-lo com uma visão despudorada das curvas generosas dos seios suavemente aconchegados num soutien de renda negro. Sedutora, perguntou-lhe:

– Tem lume?

Ele não respondeu logo. A sua atenção encontrava-se descaradamente refém do decote que ela não fazia o menor esforço para compor. Perfeitamente consciente do efeito conseguido, ela prendeu o cabelo comprido com a mão esquerda e continuou à espera.

Desconcertado, ele atabalhoou-se à procura do isqueiro.

Ela pareceu levemente aborrecida e olhou em redor, talvez em busca de algum outro fumador. Ele comentou:

– Ainda agora acendi um, o isqueiro tem de andar por aqui algures...

Ela encarou-o novamente e sorriu, não tanto por simpatia, antes condescendente pelo nervosismo que ele não conseguia dissimular e que, pelo facto de ele ter consciência disso mesmo, aumentava a cada segundo.

Ela olhou para o peito dele, ao qual a camisa branca começava desagradavelmente a colar-se, e apontou para o bolso da frente, onde ele ainda não tinha procurado.

Ele retirou o isqueiro e aproximou-o do cigarro dela, mas tinha as mãos transpiradas e não foi capaz de o acender.

Ela avançou a mão como que a pedir para deixá-la tentar. Não tirou os olhos dos dele.

Ele ofereceu-lho, ela roçou a mão na dele. O toque da pele dela na sua detonou-lhe o auto domínio e ele sentiu-se tomado pelo calor intenso da antecipação.

Ela reparou e deu-lho a entender com um breve sorriso atrevido, enquanto acendia o cigarro. Inspirou com força certificando-se de que estava bem aceso e avançou para lhe devolver o isqueiro, mas antes de ele conseguir segurá-lo, ela deixou-o cair no chão.

Num impulso, ele acocorou-se para o apanhar. Ela só reagiu um terço de segundo mais tarde. Curvou-se para a frente, para simular a intenção de ser ela, já ele se levantava. A blusa preta roçou no rosto dele e, naquela fração de tempo em que se encararam, uma golfada de perfume, calor e excitação embriagou-o, toldou-lhe a razão, embruteceu-lhe os sentidos, enfim, deixou-o desorientado.

Ela agradeceu com uma discreta inclinação da cabeça e voltou-se lentamente para regressar ao seu lugar.

Ele continuava extasiado, ainda incapaz de compreender o que tinha acontecido ali, e ficou-se, ébrio de feromonas, a vê-la afastar-se, hipnotizado pelo movimento convidativo das ancas dela.

Até muito tempo depois, sempre que recordava aquele dia, Luís Miguel tentava compreender em que momento, de que maneira, como diabo teria ela conseguido levar-lhe a carteira.

Marta Elias

Isto é a verdadeira hipnose do dia-a-dia  ;D  ;D
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

Ahahah. Muito bom! :D.

Lá está... O físico... Apenas e só :).
DeepGirl

Altamente.
É a mania de despejar os bolsos pra cima da mesa onde se vai ficar por alguns minutos.
Não me trates por VOCÊ!!!
Respeito mais tratando-te por TU do que tu a tratares-me por VOCÊ!

I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"