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  • O Lado da Razão
    Iniciado por Arghallad
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Lisboa, 08:02


  Pedro estava chateado. Estava no trabalho, de frente para o computador a verificar os seus email, quando um em especial lhe chamou a atenção:


"Ganhou 2 semanas para aprender Inglês gratuitamente                                                                                              Inbox

Noémia Infante <noemiainfante@sapo.pt>                                              2:05 PM (17 hours ago)

to me

Bom dia Detective Pedro Simões. Gostaria de o convidar a vir a minha casa, de forma a que eu lhe possa expor uma situação, na qual a sua experiência será sem dúvida bem vinda. No fim da nossa conversa, terei uma proposta a fazer-lhe que creio, achará bastante aliciante e do seu agrado.

Espero por si amanhã, na minha residência, na Avenida Dom Carlos I, mesmo por cima do restaurante Foral da Vila, em Cascais, por volta das 15 horas.

Atenciosamente

Noémia Infante.

   
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  Após ler o email, o detective recostou-se na sua cadeira de executivo e pôs-se a pensar. Já havia algum tempo que não tinha nenhum caso em mãos. Muito menos, um que viesse de Cascais. Esses pagavam bem, e um detective privado recebia conforme os casos que tivesse. Provavelmente seria algo relacionado com algum roubo de jóias. Mas não interessava. Isso já lhe melhorara muito o dia, e deixara-lhe um sorriso nos lábios. Preferia casos diferentes, mas o dinheiro era bem vindo. Tinha contas para pagar. Endireitou-se na cadeira, aproximou-se da sua secretária de carvalho, uma imitação de uma secretária dos anos 80, daquelas utilizadas pelos grandes senhores da máfia, e carregou num botão do seu telefone. Do outro lado, atendeu a sua secretária.
  - Sim, detective Pedro?
  - Patrícia, o Sérgio já chegou?
  - Não senhor, o detective Sérgio ainda não chegou. Mas ligou á pouco e pediu para lhe deixar um recado. Ele disse que tinha uns assuntos a tratar no caso do desaparecimento das duas jovens ucranianas, e ia chegar mais tarde.
  - Não há problema. Obrigado. - E desligou. Ficou ainda no seu gabinete a pensar, e de repente levantou-se, foi ao seu cabide de pé alto em madeira, retirou o seu casaco e deixou o gabinete. Ao passar pela secretária disse-lhe:
  - Patrícia, vou sair. Tenho um caso para verificar. Se o Sérgio chegar antes de mim, diga-lhe que estou em Cascais.
  - Deseja que ele o vá encontrar lá, senhor detective?
  - Não, não vale a pena. Ele já tem muito com que se preocupar, e isto deve ser mais algum caso de jóias roubadas, que acabo por descobrir que estão em África ou assim, e que a dona nuca mais as volta a ver. Mas pelo menos, sempre recebemos - terminou, com um sorriso.
A secretária sorriu-lhe de volta:
  - Sim, sr. detective. É verdade. Os casos que vêm de Cascais, por norma, pagam bem!
  - Pagam, sim senhor. Pagam, sim senhor... - murmurou o detective, enquanto atravessava a porta da rua.

***

  Estava a conduzir pela Linha de Cascais, em direcção á capital do Concelho, enquanto ouvia as notícias da Rádio Renascença. Uma notícia em particular fê-lo aumentar o volume do auto-rádio:

  " Notícia de última hora. Foi encontrado mais um corpo de uma jovem em Cascais, desta feita, no paredão dos pescadores, onde estes armazenam o seu material de pesca, em frente ao Hotel Baía, na zona ribeirinha conhecida como Rio da Mula. O corpo da jovem de vinte anos, foi encontrado esta manhã por pescadores, quando foram buscar as suas armadilhas, completamente desprovido de roupas ou identificação. A PSP foi chamada ao local, mas o caso foi entregue ao Departamento de Crimes Violentos da Polícia Judiciária. Até agora ainda não foi possível falar com o porta-voz da PJ, mas sabe-se apenas que a jovem ainda se encontra por identificar."

Depois de ouvir a notícia, o detective baixou novamente o volume. O Hotel Baía ficava no Passeio Dom Luís I, e ligava á Av. Dom Carlos I. A rapariga provavelmente fora encontrada no paredão mesmo em frente á casa da sua possível cliente. Provavelmente a senhora assistira ao aparato todo, e deve ter percebido do que se tratava. Isso ia fazer com que provavelmente hoje, já não estivesse em condições de conversar. Mas não havia como tentar. Como era quase meio-dia, decidiu ir almoçar antes do encontro com a senhora. Decidiu ir almoçar no restaurante John Bull. Depois do almoço, talvez fosse dar um passeio. Saiu do restaurante era uma e meia da tarde, pelo que ainda tinha hora e meia antes da visita. Logo ao sair do restaurante virou á direita e desceu o que restava do Passeio Dom Luís I, em direcção ao Hotel. Ia absorto nos seus pensamentos, pelo que sem sequer se aperceber, caminhara até ao paredão que servia de armazém dos pescadores, até ao local onde o corpo da jovem havia sido encontrado, e pusera-se a estudá-lo. Era um local aberto, com vários locais onde se podia esconder um corpo, devido á quantidade de armadilhas, mas para lá chegar só a pé, através da praia, ou atirando o corpo por cima do pequeno muro, que impedia que os transeuntes caíssem do passeio da Avenida Dom Carlos I, para o meio das armadilhas. Tanto de uma forma, como da outra, o presumível assassino ficaria demasiado exposto. Voltou para trás, a pensar nas possibilidades do assassino ter sido visto por alguém, de um dos edifícios, e lembrou-se de perguntar á sra. dona Noémia, assim que tivesse oportunidade, se ela havia visto algo ontem durante a noite. Foi ao bar Baluarte, que ficava mesmo ao lado do prédio da sua possível cliente, e ficou na esplanada a beber o seu café, enquanto fumava o seu cigarro, de forma a ocupar a última meia hora que lhe faltava, para a visita.

(CONTINUA)
Chegasteis até aqui,
Não chegarás mais além.

Continuo há espera da continuação, please  ::)
Queria viver tudo numa noite...<br />Isis

Estou a trabalhar nisso. Está para breve. Este continho é dedicado a uma pessoa... e quero que fique bastante próximo da pessoa...
Chegasteis até aqui,
Não chegarás mais além.

Estou em pulgas :)

Venha de lá a continuação!
"A ciência não só é compatível com a espiritualidade; é uma profunda fonte de espiritualidade" - Carl Sagan

Citação de: Filipa84 em 18 julho, 2014, 18:19
Estou em pulgas :)

Venha de lá a continuação!

Mas até agora gostaste???? É que também quero algo coerente...
Chegasteis até aqui,
Não chegarás mais além.

Não se faz! Está uma pessoa entretida a ler e quando a coisa começa a aquecer (CONTINUA)!!! :laugh:
Venha de lá essa continuação, eu estou a gostar! ;D

#6
   Ainda não havia passado a meia hora final, e o detective já se encontrava a tocar á campainha da Sr. Dona Noémia. Aguardou alguns segundos, até a própria Dona Noémia vir abrir a porta. O queixo quase lhe caiu ao ver a mulher que lhe abrira a porta. A Dona Noémia não era, nada mais, nada menos, que uma mulher com cerca de 30 anos, extremamente atraente, de cabelo ruivo comprido, grande olhos verde claros, e um sorriso capaz de derreter o continente Árctico e provocar uma inundação mundial. Alta, e de corpo esbelto, usava uma simples roupa de cor preta, que mais não era que umas calças de sarja e um top, justos ao corpo, realçando as curvas perfeitas da qual era possuidora, e que quase faziam os olhos do detective saltarem das órbitas. Mas que bela peça que lhe tinha caído á frente. Perguntou-se de quem seria viúva, e entrou na casa da sua cliente após o seu convite. Foi convidado a sentar-se no sofá enquanto ela preparava um chá, e assim fez. Ela regressou minutos depois com um tabuleiro nas mãos, com um bule e duas chávenas, e sentou-se na poltrona, de frente para ele.
  - Muito bem Dona Noémia. Recebi um email seu esta manhã. A senhora dizia ter uma proposta para me fazer. Vamos lá então ouvir essa proposta.
  - Sim, de facto tenho. Antes de mais, gostaria de lhe agradecer o facto de ter vindo, mesmo sem receber mais informações. Mas veja, não confio na internet. Cada vez se houve falar mais em hackers e contas pirateadas, e como tal, preferi não dizer nada através do email que lhe enviei. E agora, o assunto que o trouxe cá.
  - Sou todo ouvidos. - disse o detective, num tom profissional.
  - Pois bem. Eu sei quem anda a raptar e assassinar estas jovens raparigas.
  - Sabe? Como assim, sabe? Porque é que ainda não foi á polícia?
  - Sei, e hoje á noite confirmei-o. Por isso é que lhe enviei o email. E não fui á polícia, porque eles estão no meio da polícia.
  - Eles? Mas eles quem Dona Noémia? Vamos lá a fazer sentido, e a tratar as coisas pelos seus nomes por favor.
  - Você vai achar que sou louca se lhe disser tudo de caras. Por isso primeiro, quero explicar-lhe um pouco mais de mim, e do que faço.
  - Então por favor, explique. - disse o detective, meio interessado, meio indeciso.
  - Como já sabe, o meu nome é Noémia Infante. Tenho 31 anos, sou viúva e sou investigadora espacial na Universidade de Lisboa. Muito basicamente, estudo a existência de vida extra-terrestre.
  - Perdão, desculpe interrompê-la Dra., mas a senhora não quer dizer, possível existência de vida extra-terrestre?
  - Não, não. Eu estudo a existência de vida extra-terrestre. Eu consegui comprovar que existe vida para além da nossa existência, no Universo. E agora, tenho estado de licença em casa após a repetina morte do meu esposo, Dr. Carlos Infante, professor de história e ciências no ensino básico. No entanto, tenho continuado a investigar, e consegui confirmar a existência de vida extra-terrestre no nosso planeta. - Ela fez uma pausa, na qual observou o detective, tentando perceber a forma como este estava a reagir ao que ela acabara de lhe dizer. O detective, aproveitando a pausa da senhora, decidiu intervir, de forma a desconcentrá-la do seu vão esforço de o estudar.
   - Por favor, Sra Dona Noémia. Continue.
   - Por favor, chame-me Noémia. Ainda sou uma jovem. - ela respondeu-lhe com um sensual e atrevido sorriso. - Pois bem, como lhe estava a dizer, consegui confirmar a existência de vida extra-terrestre no nosso planeta. Ao fim de muitos anos de investigação, consegui perceber os meios nos quais se movimentam e as suas razões. No entanto, nunca tinha conseguido entender como faziam para sobreviverem uma vez que, através dos meus estudos, pude confirmar que eles não respiram oxigénio como nós.
   - E como conseguiu confirmar isso, Dra?
   - Através de um espécimen que foi encontrado na Serra do Monsanto há uns anos atrás, e o qual tive o prazer de estudar. O espécimen em questão estava morto há já alguns dias e fora encontrado por um grupo de jovens que para ali fora fazer sabe-se lá o quê, e que chamou a polícia. A PSP, chegada ao local, deparou-se com um corpo humanóide, e chamaram-nos para investigar. Na altura fui eu e o meu ex-colega, Dr. Aurélio Sampaio. Levámos o corpo para a Universidade, para o departamento, e investigámo-lo incessantemente durante vários anos. Conseguimos as mais variadas e valiosíssimas informações do cadáver, até ao dia em que já não o pudemos manter, e nos desfizemos do corpo.
   - E como foi isso feito?
   - Cremação. - respondeu a Dra prontamente.
   - Você mencionou o seu ex-colega, Dr. Aurélio Sampaio. Ex-colega porquê? Ele abandonou a investigação?
   - Não propriamente. O Dr. Aurélio faleceu pouco depois da investigação ao cadáver terminar, precisamente quando eu havia descoberto como os seres sobrevivem no nosso planeta.
   - Faleceu? Mas já era idoso? Encontrava-se sob efeito de algum malefício?
   - Não. O Dr. Aurélio foi encontrado assassinado na sua residência de férias em Sintra.
   - Ah, estou a ver. O caso foi investigado, chegaram a alguma conclusão? - perguntou o investigador, fazendo uma nota mental para si mesmo, em como deveria investigar mais a fundo a sua cliente. Não era normal uma pessoa ter duas mortes associadas a si, de forma directa ou indirecta. Teria de se lembrar também de investigar os contornos da morte do Dr. Aurélio e do falecido esposo da Dra.
   - Sim, foi investigado na altura. Acabaram por chegar á conclusão que foi um assalto que correu mal. Não levaram nada, mas acabaram a matar quem se encontrava na casa. Felizmente, só lá estava ele, pois a esposa encontrava-se na residência oficial aqui em Cascais.

(CONTINUA)
Chegasteis até aqui,
Não chegarás mais além.

Ai a ruiva!!!! Estou a ver que não sou o único fã de ruivas por aqui.. ;D
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

muito bom ... continua
Iei Or (faça-se luz)
Shalom Aleichem

#9
Citação de: cleopatra em 08 setembro, 2014, 18:04
muito bom ... continua
Obrigado Cleopatra. E sim, para quem se estiver a perguntar, eu voltei.  :laugh: :D ;)
Citação de: cody sweets em 08 setembro, 2014, 16:19
Ai a ruiva!!!! Estou a ver que não sou o único fã de ruivas por aqui.. ;D
Nem fazes ideia. Sou louco por ruivas...  ;D ::)
Chegasteis até aqui,
Não chegarás mais além.

Citação de: Arghallad em 09 setembro, 2014, 07:16
)Nem fazes ideia. Sou louco por ruivas...  ;D ::)

Diz-me lá quem não é?  ::) ;)
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

Venha de lá essa continuação! ;) gosto!

   - Muito bem. Por favor, continue Noémia. A senhora disse-me saber quem anda a raptar e assassinar as todas estas jovens. Deduzo, através do que me contou, que esteja ligado aos extra-terrestres? – ele perguntou com seriedade.
   - Sim, de facto. Sabe senhor detective, na verdade não esperava que me levasse tão a sério, mas sim. Tenho quase a certeza absoluta de que são eles. Claro que, para ter a certeza concreta, teria de analisar um dos cadáveres. Se de facto tiverem sido estes espécimens, os cadáveres terão em falta alguns órgãos vitais.
   - Como assim? Está a falar de pulmões, fígado e por aí?
   - Sim. A razão da presença destes seres no nosso planeta é apenas o estudo. Eles pretendem estudar-nos, da mesma forma que eu e o meu ex-colega os estudámos. Mas como você deve imaginar, ninguém no seu perfeito juízo se deixaria ser estudado. Aliás, convém a estes seres que não se saiba da sua existência. Eles devem fazer tudo da forma mais secreta possível, caso contrário, serão perseguidos, aprisionados e estudados. E eles sabem disso.
   - Mas que razões têm eles para nos estudar?
   - Isso não sei. Pode ser apenas para fins académicos, como é o meu caso, ou talvez para arranjarem forma de viverem e procriarem no seio da nossa comunidade mundial. Pode ser até, quem sabe, para procurarem uma forma de viverem entre nós, respirando o mesmo ar que nós. Lembre-se de que estes seres não respiram oxigénio. Através do estudos que fiz, e das experiências que levei a cabo, pude descobrir que eles respiram hélio.
   - Peço perdão pela minha pergunta, poderá soar-lhe estúpida, mas tanto quanto sei, existe hélio na nossa atmosfera, não é verdade?
   - Sim, de facto existo, mas em pequenas doses. E para se encontrar hélio com facilidade no nosso planeta, teríamos de subir acima da estratosfera, uma vez que o hélio é mais leve que o oxigénio.
   - Mas então, e o hélio engarrafado que se encontra em festas de aniversário, para encher os balões das crianças?
   - Esse é criado em laboratório. É fácil criar hélio e mantê-lo engarrafado. Mais difícil é encontra-lo de forma a que o possamos respirar. E como deve imaginar, pode ser um grande incómodo andar para todo o lado enquanto se arrasta uma garrafa de hélio connosco. Imagine algo como andar na rua, com garrafas de oxigénio ás costas, como os mergulhadores. É possível, mas a pessoa cansar-se-ia mais depressa devido ao peso da garrafa, e a mesma não daria para o dia inteiro. Seria esse o resultado.
   - Estou a ver. Muito bem don... quero dizer, Noémia. Já tenho suspeitos, e uma razão. Agora, como é que os apanho?
   - Isso, senhor detective, foi a razão pela qual o chamei. Desejo contratá-lo para que possa apanhar estes seres e terminar com esta onda de assassinatos. E, se pelo caminho, puder guardar um corpo de um destes seres para mim, recompensá-lo-ei generosamente pelo seu trabalho.
   - Não prometo nada. No entanto, tentarei. – ele respondeu, enquanto se levantava do cadeirão. Apertou a mão da sua cliente, prometeu contactá-la assim que tivesse novidades e abandonou a residência.
   No caminho de volta para o seu carro, verificou o seu telemóvel e constatou que tinha várias chamadas não atendidas. Uma era da sua secretária, três do seu sócio e algumas da sua ex-mulher. Esta última, enviara-lhe também duas sms. Foi até um café e sentou-se na esplanada. Voltou ao seu telemóvel e decidiu-se a ligar para o seu sócio em primeiro lugar. Era um assunto relacionado com o caso que estava a seguir. Uma das jovens de nacionalidade ucraniana que tinham desaparecido havia sido encontrada. O seu corpo fora encontrado num local ermo em Odivelas. Mas o que mais o impressionara, era que o corpo sem vida da moça tinha em falta um órgão vital e que o mesmo lhe havia sido retirado de forma cirúrgica. O detective Pedro falou mais alguns minutos com o sócio e explicou-lhe o caso que tinha agora em mãos. Depois de mais alguma conversa, chegaram á conclusão de que ambos os casos poderiam estar ligados. Depois de desligar, ligou para a sua secretária. Havia sido apenas para informar de que tinha chegado uma encomenda para si, e que a mesma se encontrava na sua secretária. A ultima chamada, ele efectuou-a com algum desagrado. "Mas o que é que ela quer desta vez?" ele perguntou a si mesmo mentalmente, antes de ligar para a sua ex-mulher. Ouviu o sinal de chamada duas vezes, até ouvir a voz da sua ex-mulher do outro lado da linha.
   - O que raio é que andaste a fazer para não me atenderes as chamadas nem responderes ás mensagens, posso saber?
   - A trabalhar. Alguns de nós, pobres plebeus, temos de trabalhar para sobreviver.
   - Tens muita piada. Enviei para o teu escritório as tuas coisas num caixote e mandei também os papéis do advogado para assinares. Espero ter isso amanhã no meu escritório assinado.
   - Terás os papéis assinados assim que me for possível e apenas, se o que lá estiver escrito me agradar.
   - Deixa-te de coisas Pedro. Perdeste direito a tudo o que estava naquela casa a partir do momento em que saíste porta fora e me abandonaste. Muito boazinha fui eu ao devolver-te as tuas coisas.
   - Eu não perdi direito a porcaria nenhuma. E muito menos te abandonei. Saí, porque decidiste que enquanto eu trabalhava, era muito bom teres outro fulano enfiado na cama entre as tuas pernas. Se houve alguém a abandonar alguém, foste tu que me abandonaste quando decidiste trair-me.
   - Já te pedi desculpa, jurei que nunca mais isto voltaria a acontecer e mesmo assim saíste de casa. Já te disse o quanto te amo e que estou arrependida. Foste tu quem meteu os papéis do divórcio e que me atirou a aliança à cara.
   - Desculpas não se pedem Sara. Evitam-se. E também prometeste ser-me fiel, amar-me e respeitar-me até que a morte nos separasse. Se conseguiste quebrar essa promessa, não és digna da minha confiança para manter qualquer outra promessa. Estamos conversados.
   - Pedro, não me desligu... - foi a ultima coisa que ele ouvira. Ainda amava a ex-mulher, mas depois daquela noite, o nojo, a repugnância e a raiva que sentia por ela, sobrepunha-se ao amor que ainda nutria por ela. E a imagem do que viu naquela noite, teimava em não lhe sair da cabeça. Ele a ligar a dizer que ia chegar mais tarde a casa, porque estava ocupado com um caso. Ele a ir á florista comprar rosas brancas, que ela adorava. Ele a passar no supermercado e a sair minutos mais tarde com uma caixa de bombons, que ela mais gostava. Ele a conduzir em direcção a casa, a pensar na surpresa que lhe ia fazer. Ele a meter a chave á porta e a entrar, sem sequer reparar no casaco de homem pendurado no cabide por trás da porta, que não lhe pertencia. O silêncio que se fazia na casa. Ele a ir á sala e a encontrar uma garrafa de vinho tinto aberta e dois cálices, um deles ainda com vinho. Ele a subir as escadas. Ele a ir até á porta do quarto. Ele a ouvir os sons que de lá vinham. Ele a abrir a porta de rompante e a encontrar Sara na cama com um dos colegas dela, enrolados nos lençóis. Ele a virar as costas e a sair porta fora, de volta para o carro. Ele a entrar no carro, a colocar a chave na ignição e a virá-la, ele a arrancar com o carro a toda a velocidade. Ele a conduzir como um louco por uma estrada apertada. Ele a não ver o cão a tempo. Ele a guinar o volante para a esquerda e a embater contra uma parede de frente. E depois, nada. Escuridão. Tudo negro. Vozes. Sirenes. Ele a acordar no hospital. Ela sentada ao seu lado na cama, a cara lavada em lágrimas. Ele a chamar-lhe porca. Ele a gritar com ela. Ela a sair a chorar. Já haviam passado três meses, desde que tudo isto havia acontecido. A memória ainda era demasiado fresca na mente dele. Não. Ele não a podia perdoar, não interessava quantas vezes ela lho rogasse e prometesse nunca mais o fazer. Não interessava a quantidade de vezes que ela lhe implorara que a perdoasse, e que ela lhe dissera que era a ele que amava e que não conseguia viver sem ele. Não. Ele não era capaz. Esse capítulo estava encerrado.

(CONTINUA)
Chegasteis até aqui,
Não chegarás mais além.

Muito bom! Continua! :laugh:

Gostei e estou interessada no caso dos extra-terrestres !!
Mas...porque raio sou a ex-mulher?  ;D  ;D   ninguém merece  :-\