Bem-vindo ao Portugal Paranormal. Por favor, faça o login ou registe-se.
Total de membros
19.507
Total de mensagens
369.621
Total de tópicos
26.965
  • Nazismo, o que é?
    Iniciado por Lunática
    Lido 7.675 vezes
0 Membros e 1 Visitante estão a ver este tópico.
Lunática


Etimologia

O nome do Partido Nazista era "National Sozialistische Deutsche Arbeiterpartei" (N.S.D.A.P.) ou em português, Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. O nome socialista era usado embora, tomando como referência o nosso actual entendimento de socialismo, o nazismo seria radicalmente anti-socialista ou anticomunista. O termo "National Sozialistische", que em alemão dá origem a "Nazismo" era utilizado como forma de se contrapor ao termo comunismo, ou internacional Socialista no sentido utilizado pelo marxismo. O nazismo pode ser considerado uma forma extrema de fascismo, muitas vezes chamado de nazifascismo. Os vários tipos de fascismos identificam-se como anti-socialistas.

Hitler dizia que o termo "socialista" era uma palavra de origem alemã, correspondente a um modelo ideal de terras semi-colectivas, semi-privadas, que existia entre os antigos povos germânicos do 1º Reich, e afirmava que Karl Marx, um Judeu, tinha "roubado" esta palavra para a sua teoria subversiva, o comunismo. Foi justamente para diferenciar a sua proposta de novo modelo de sociedade do socialismo primitivo, que Marx criou o termo comunismo (enquanto estágio pós-socialista). Hitler defendia o retorno ao "socialismo" germânico do 1o Reich. Assim, na Alemanha, havia uma disputa retórica e linguístico-formal entre nazistas e comunistas em torno do uso e do significado do termo "socialismo" na língua alemã.

Quando questionado o porquê de usar a palavra socialismo como parte do nome do seu partido, Adolf Hitler disse: "Porque iria eu forçar essas criaturas a se submeterem a uma disciplina rígida, da qual não conseguem escapar? Eles podem ter tantas terras ou usinas quanto querem, o importante é que o estado, por intermédio do partido, decida quanto às acções e atitudes, pouco importando, assim, que sejam proprietários ou operários. Compreendem, agora, que tudo isso não significa mais nada? O nosso socialismo tem uma forma de agir mais profunda. Não modifica a ordem das coisas, não faz senão mudar as relações dos homens com o estado (...) Que significado têm a partir de agora as expressões 'propriedade' e 'renda'? Porque teremos a necessidade de socializar os bancos e as usinas? Nós socializamos os homens!"

Definição

Segundo o Dicionário de Política: "O sistema totalitário com um partido único e com um único líder foi definitivamente implantado no verão de 1934, quando Hitler, através de expurgos sangrentos dentro do partido (e das organizações militares do partido, as SA), conseguiu o apoio total do exército e nomeou-se, após a morte do presidente Hindenburg, chefe do Estado, chanceler, líder do partido e da nação, ditador único da Alemanha." (BOBBIO; MATTEUCCI & PASQUINO, 1998, p. 811)

Segundo o Dicionário de Política de BOBBIO; MATTEUCCI & PASQUINO (1998, p. 1061), o racismo, no Nazismo alcança um patamar nunca alcançado na história, torna-se uma Política de Estado para eliminar outros povos considerados biologicamente inferiores. Isto porque Hitler "julga que só a raça ariana é depositária do progresso da civilização" e, portanto, como um povo de senhores, tem de conquistar e submeter as raças inferiores." (idem, p. 1061)

O Nazismo consistia assim num movimento que defendia a superioridade da raça ariana e a doutrina do "espaço vital" nacional necessário aos alemães (BOBBIO; MATTEUCCI & PASQUINO, 1998, p. 808), um espaço territorial mínimo que, para um povo desta grandeza, siginificava controlar toda a Europa.

A essência do Nazismo: totalitarismo e racismo

A essência do fascismo e do nazismo está no totalitarismo, especificamente na noção de controle totalitário, ou seja, na idéia de que o Estado e, em última instância, o chefe-de-Estado (no caso da Alemanha: o Führer), deveria controlar tudo e todos. Para isso a homogeinização da sociedade é fundamental. As formas de controle social em regimes totalitários geralmente envolvem o uso e exacerbação do medo a um grau extremo. Todos passam a vigiar todos e todos se sentem vigiados e intimidados. Cada indivíduo passa a ser "os olhos e ouvidos" do Führer no processo de construção de uma sociedade totalitária. Neste processo de homogeinização totalitária, os inúmeros festivais, actividades cívicas, com mobilização das massas nas ruas foram determinantes.

Para controlar tudo e todos, o nazismo instigava e exacerbava ao extremo o nacionalista, geralmente associado às rivalidades com outros países suposta ou realmente ameaçadores. A ideia de um inimigo externo extremamente poderoso é funcional para unir a sociedade contra o "inimigo comum". O medo de um inimigo externo é funcional para aglutinar socialmente povos que até pouco tempo não se identificavam enquanto uma só nação, como foram os casos de países unificados apenas no século XIX (Alemanha e Itália). Como Freud tinha demonstrado, a necessidade da criação artificial da identidade em grupos sociais pode levar à homogeinização forçada destes, e a existência de membros diferentes no grupo é destabilizadora, o que leva o grupo a tentar eliminá-lo. Tão relevante é esta explicação para entender o fenómeno do fascismo e do nazismo, que as obras de Freud estiveram entre as primeiras a serem queimadas nas famosas queimas de livros organizadas pelo Partido Nazista em 1933 e 1934.

Entretanto, era necessário mais do que apenas o medo de um inimigo externo para conseguir atingir o ultra-nacionalismo e o totalitarismo. Para isso era funcional criar "inimigos" internos, sorrateiros, subterrâneos, conspiratórios. Este papel de inimigo sorrateiro é destinado ao Comunismo e aos Comunistas como um todo na ideologia do fascismo. O Nazismo acrescenta ao rol de "inimigos", em que já estava o Comunismo, minorias étnico-religiosas como "inimigas": os Judeus, num primeiro momento, depois Ciganos e povos Eslavos (já durante a II Guerra Mundial). A partir disto é que se torna central o segundo pilar do nazismo, a ideologia da superioridade racial ariana.

Raça Ariana

O conceito de raça ariana teve o seu auge do século XIX até a primeira metade do século XX, uma noção inspirada pela descoberta da família de línguas indo-europeias.

Os etnólogos do século XIX propuseram que todos os povos europeus de raça branca eram descendentes do antigo povo ariano.

Diversas correntes europeias, de carácter nacionalista e colonialista da época abraçaram esta ideia, mas nenhuma outra com a ênfase e alcance emprestado pelo Partido Nazista da Alemanha. Estes aliaram ao conceito de raça ariana o de sua suposta superioridade, procurando deste modo justificar os seus postulados racistas e militaristas.

Segundo as ideias nazistas, a Raça ariana possuiria as seguintes sub-divisões:

Raça Nórdica (dolicocéfala loira);
Raça Alpina (braquicéfala morena);
Raça Báltica Oriental (braquicéfala loira, nariz pequeno, pômulos salientes) e
Raça Mediterrânea (dolicocéfala morena).

É necessário notar que o conceito racial adoptado pela doutrina Nacional Socialista transcede a mera aparência física, já que há a crença de que os germânicos possuem uma unidade racial não só sob o aspecto físico, mas também psicológico e relativo aos atributos de carácter da pessoa.

O mito, muitas vezes divulgado, de que os olhos e cabelos claros seriam necessariamente factores definitivos na definição de uma pessoa ser ou não ariana é falso. Eis alguns textos nesse sentido:

a) Do livro "Voz de Nossos Ancestrais" escrito por Heinrich Himmler sob o pseudônimo de Wülf Sörensen: "...Por isso que rostos nos enganam tanto hoje em dia. Muitas pessoas cuja cor dos cabelos e olhos vêm do sul, ainda possuem a maior parte de seu sangue de ancestrais Nórdicos. E muitos... carregam seus cabelos claros e olhos cinzentos ou azuis apenas como uma máscara enganadora, pois seu sangue não possui traço algum de seus ancestrais do Norte. O primeiro possui apenas a aparência do estranho e reteve seu sangue Nórdico. O outro é possuidor do sangue estranho e mantém sua face Nórdica como uma máscara ilusória. Qual é melhor?...";

b) De um manual da Juventude Hitlerista: "... O principal ingrediente de nosso povo, é portanto, a raça Nórdica. Isto não quer dizer que metade de nosso povo seja puramente Nórdico. Todas as mencionadas raças aparecem, de fato, em misturas em todas as partes de nossa pátria mãe...";

c) Do livro "Glauben und Kämpfen" publicado pela SS, mais especificamente no capítulo sobre raça: "...O povo alemão não é a soma de 85 milhões de pessoas, mas sim uma grande unidade, uma comunidade, na qual a genética Nórdica predomina. Esta genética se demonstra não somente na forma física e aparência, mas também se expressa acima de tudo em uma alma racial com uma direção comum. Não são decisivas as características Nórdicas físicas do indivíduo por si só. Ao contrário, seus traços psicológicos e de caráter é que o são."

Diante disto, o parâmetro de cor dos olhos/cabelos cai por terra na definição nacional-socialista de ariano, todavia eis apenas alguns indivíduos que não se encaixavam nesta descrição física: Adolf Hitler, possuía olhos azuis, porém cabelos escuros; Josef Mengele, possuía olhos e cabelos escuros; Joseph Goebbels, estava longe de ser um exemplo do físico Nórdico em todos os sentidos.

Nazismo e religião

As relações iniciais entre o nazismo e o cristianismo podem ser descritas como complexas e controversas. Nas igrejas protestantes a revolução nazista foi no início acolhida com "benévola simpatia". Tendo o nazismo procurado identificar-se com o patriotismo alemão, algumas personalidades protestantes, como o Dr. Martin Niemöller, votaram inicialmente a favor dos nacionais socialistas. Em julho de 1933, os representantes das igrejas protestantes alemães escreveram uma constituição para a criação de uma Igreja do Reich, criada a partir da fusão das 28 igrejas luteranas e reformistas alemães, que englobavam em torno de 48 milhões de adeptos e era considerada a "igreja oficial" do regime.

Desde o início, foi diferente a atitude dos católicos, alarmados pelo conteúdo racista dos livros "Minha Luta" de Adolf Hitler e "O Mito do Século XX" de Alfred Rosenberg. Nesses livros, os arianos surgem como os elementos superiores da humanidade, defendendo-se a pureza racial ariana como a primeira necessidade dos alemães. Contrapunham os católicos que a destruição de barreiras entre judeus e gentílicos pertence à própria essência do Evangelho e que o racismo não tem cabimento na igreja cristã. Quando Hitler aceitou uma Concordata com o Vaticano, houve alguns católicos que ainda hesitaram. Os três inimigos mortais da Alemanha, tal como os nazistas afirmavam na sua propaganda interna, eram porém claramente identificados: marxismo, judaísmo, e cristianismo. A "incompatibilidade fundamental do nacional-socialismo com a religião cristã era manifesta", passando todos os cristãos, tanto protestantes como católicos, ao ataque sistemático ao nazismo.

Apesar disso, as relações do Partido Nazista com a Igreja Católica tem sido apresentada por alguns autores como controversa. Argumentam não saber se Hitler se considerava, ou não, cristão, e que a hierarquia da Igreja, representada pelo Papa Pio XI, se teria mantido basicamente silenciosa. A existência de um Ministério de Assuntos da Igreja, instituído em 1935 e liderado por Hanns Kerrl, teria sido quase ignorada por ideólogos como Alfred Rosenberg e por outros políticos.

Hitler e os outros líderes nazistas procuraram utilizar o simbolismo e a emoção cristã para propaganda junto do público alemão, esmagadoramente cristão. Enquanto que autores não-cristãos puseram ênfase na utilização externa da doutrina cristã, sem dar importância ao que poderia ter sido a mitologia interna do partido, os cristãos, baseando-se nos livros dos chefes nazis, e nos folhetos de propaganda que estes lançavam contra o cristianismo, tipificaram Hitler como ateu ou ocultista — ou mesmo um satanista.

Declarações públicas e oficiais produzidas por autoridades católicas sobre o nazismo, existem pelo menos desde o ano de 1930, bem antes da chegada de Hitler ao poder, quando o Ordinário de Mogúncia, em nome do seu bispo, declarou: "O que acabamos de dizer (sobre o nazismo), responde às três perguntas que nos foram postas: a) Pode um católico ser membro do partido hitleriano? b) Está um sacerdote católico autorizado a consentir que os adeptos desse partido tomem parte em cerimónias eclesiásticas, incluindo funerais? c) Pode um católico fiel aos princípios do partido ser abrangido pelos sacramentos? Devemos responder "Não" a tais perguntas".

O Papa Pio XI sabia o que se passava na Alemanha e escreveu vários documentos condenando o nazismo, com destaque para a encíclica de condenação do Nazismo - Mit brennender sorge ("Com viva preocupação"). Muitos padres e líderes católicos opuseram-se com todo o vigor ao nazismo, dizendo que ele era incompatível com a moral e a fé cristã. Tal como aconteceu com muitos opositores políticos, muitos destes padres foram condenados aos campos de concentração pela sua oposição. O próprio Dr. Martin Niemöller, que a princípio lhes dera apoio, foi enviado para Dachau.

O ano de 1938 ficou assinalado pela anexação da Áustria, imediatamente seguida pelo assalto aos bens e à influência da Igreja; os cardeais Innitzer e Faulhaber, bem como o arcebispo Grober e o bispo Sproll foram vítimas de violências organizadas pelas "kochende Volksseele".

No mesmo ano de 1938, o neo-paganismo romântico gerado pela acção dos responsáveis e órgãos nazis, vai entrar abertamente em ruptura com as igrejas cristãs, protestante e católica.

Nazismo e Paganismo

Foi por intermédio do nazismo que se deu no século XX a mais importante manifestação do paganismo.

Uma denuncia da componente pagã do nazismo surgiu nos Estados Unidos da América, em 1934, logo após a vitória eleitoral e a subida ao poder de Adolf Hitler, como o livro "Nazismo: um assalto à civilização". Neste livro chamava-se a atenção para algo que se considerava inquietante: no dia 30 de Julho de 1933 mais de cem mil nazistas tinham-se reunido em Eisenach para declarar querer tornar "a origem germânica a realidade divina", restaurando Odin, Baldur, Freia, e os outros deuses teutónicos nos altares da Alemanha - Wotan deveria estar no lugar de Deus, Siegfried no lugar de Cristo.

Durante o ano de 1936, os líderes nazis começam a abandonar a "cristandade alemã" ou o que também se designava por "cristianismo positivo". É então que Goebbels apresenta o Nazismo como se fosse uma religião a ser respeitada - havia uma nova fé alemã a defender. Enquanto von Schirach tentava imbuir na Juventude Hitleriana a admiração pelas antigas tribos pagãs, o Movimento da Fé Germânica (Deutsche Glaubensbewegung, DGB) fazia o grosso da propaganda. O DGB tinha como profeta Jakob Wilhelm Hauer (1881-1962), professor de Teologia em Tübingen, que pregava a ideia de uma fé ariana dos alemães. No livro Deutsche Gottschau, Hauer defendia que a história da Alemanha era mais do que mera sequência de factos, havendo na sua base uma Divindade que encarnava o espírito da raça ariana.

A Páscoa de 1936 já foi preparada na Alemanha como se de um grande festival pagão se tratasse. As livrarias encheram-se de literatura pagã e a bandeira azul com o disco solar dourado do "Movimento da Fé Germânica" (DGB) chegou às mais recônditas zonas rurais. Uma grande manifestação foi organizada em Burg Hunxe, na Renânia.

Em 1937, o Papa Pio XI publica uma Carta Encíclica de condenação do Nazismo - Mit brennender sorge ("Com viva preocupação"), onde diz: Damos graças, veneráveis irmãos, a vós, aos vossos sacerdotes e a todos os fieis que, defendendo os direitos da Divina Majestade contra um provocador neopaganismo, apoiado, desgraçadamente com frequência, por personalidades influentes, haveis cumprido e cumpris o vosso dever de cristãos.

No Congresso de Nuremberg, em 1937, revivia entre os nazistas o paganismo ancestral do povo ariano, surgindo um místico laicismo como um dos tópicos centrais de discussão: para que a Alemanha voltasse à sua antiga fé, não bastava a separação da Igreja e do Estado; as Igrejas cristãs teriam que ser destruídas, e o Estado transformado numa nova Igreja; impunha-se uma nova religião Nacional.

O ano de 1938 veio a revelar-se como um dos pontos altos de manifestação dessa nova religião pagã. No festival nórdico do Solestício de Verão, Julius Streicher, director do Strümer e amigo pessoal de Hitler, perante uma enorme multidão de alemães reunidos em Hesselberg (montanha a qual o Fuhrer declarou sagrada), ao lado de uma grande fogueira simbólica, disse: "Se olharmos para as chamas deste fogo sagrado e nelas lançarmos os nossos pecados, poderemos baixar desta montanha com as nossas almas limpas. Não precisamos nem de padres nem de pastores".

Este neo-paganismo romântico, gerado pela acção dos responsáveis e órgãos nazistas, com destaque para, além de Goebbels, Heinrich Himmler e Reinhard Heydrich, entrava então já em clara ruptura com as igrejas cristãs, protestante e católica. Em 1938, depois das perseguições aos judeus que vinham desde a subida ao poder de Hitler, a perseguição aos cristãos passava então também a ser sistemática.

Mais tarde, ao estudar o fenómeno totalitário, o filósofo Herbert Marcuse identifica na ideologia do nazismo várias camadas sobrepostas, considerando precisamente o paganismo, a par do misticismo, racismo e biologismo, uma das componentes essenciais da sua "camada mitológica". A perspectiva de Marcuse foi partilhada pela "Escola de Frankfurt", especialmente por Max Horkheimer e Erich Fromm. Segundo Paul Tillich, no paganismo do nazismo estava o elemento essencial que explicava o seu anti-semitismo, no enfoque colocado nos "laços de sangue arianos". Para Emmanuel Levinas, o Nazismo apresentava uma forma de religiosidade pagã que se opunha a toda uma civilização monoteísta.