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  • Não passará o Diabo de um criado de Deus?
    Iniciado por Templa
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Eram duas mulheres quase prontas para morrer. A mais idosa tinha 94 anos, a outra um pouco menos e cuidava da amiga, numa solidão conjunta de quem quase só tem isso para partilhar. Quis o acaso, ou sei lá o quê , que, depois de uma vida mais ou menos  vazia,  passassem parte da que ainda ficara por preencher em Vila Nova de Gaia, onde moravam juntas.
Foi daí que veio a notícia. Não na necrologia, mas na página de polícia. Era mais uma história de velhos, velhos abandonados por novos, às vezes filhos, sobrinhos, enfim, gente de qualquer idade que não tem tempo, nem nada para se dedicar a empresas que tenham os idosos como prioridade.
E eu li o nome das duas mulheres no jornal, no dia em que a tragédia lhes bateu à porta, acoitada naquele incêndio voraz que as matou sem dó nem piedade, sem que os bombeiros ou alguém pudesse fazer alguma coisa para as salvar.
Não me disse nada o nome de cada uma e eu juntei-as ao rol dos milhares de idosos que vivem sozinhos por esse país fora, pelas razões que vivem, embora nem eu nem ninguém conheçamos nenhuma. Cada um sabe de si e Deus sabe de todos. Foi aqui que fiquei, no meu lamento por duas mortes horríveis, no dia em que duas mulheres foram notícia de jornal pelos piores motivos e quando iniciaram a última viagem,  a que não tem regresso.
E eu cá deste lado, com vida suficiente ainda para umas quantas jornadas, umas tantas viagens. Gosto disso. Gosto de ver casas onde tenha morado gente, gosto de lhes imaginar a vida de outrora e gosto principalmente de, depois de um período de decadência e miséria, as ver restauradas e lindas, prontas para uma nova geração que possa dar-lhes novas histórias, de amor, ódio, sofrimento e todas as coisas de que se compõe a existência humana. Mais amor do que qualquer outra coisa, de preferência.
E foi assim umas das minhas primeiras peregrinações a uma aldeia da Serra da Estrela, há quase dois anos, quando quase fiz o inventário das casas restauradas e das que precisam desesperadamente de o ser. Soube a história de cada uma e quase conheci quem lá vivera e porque eram agora as coisas assim. Umas tinham tido um final feliz e outras nem por isso. Como aquela do centro da aldeia, toda em granito, alta e imponente. Essa tinha, verdadeiramente, um drama para me contar. E eu ouvi-o com a máxima atenção, em todo o caso, verdadeiramente compungida pela desgraça que se abatera sobre aquela família.
Era um casal que nos anos 60 tinha um único filho na idade da tropa. O moço fora para Angola no tempo de uma guerra perdida mesmo antes de ter começado. Foi ele e um primo, se não simultaneamente, ao menos em épocas com algum intervalo entre elas,  e quis o Deus ou sei lá quem que, de uma aldeia densamente povoada,  por entre outros rapazes que foram para o ultramar português, fossem os únicos a morrer por lá.
Depois, os pais do moço, quando conseguiram secar as lágrimas, para que o rapaz nunca fosse esquecido, colocaram na frontaria restaurada da casa uma placa com o nome,  a patente dele, assinalando as datas de nascimento e morte: Aqui viveu o Alferes João Manuel Abrantes que uma guerra estúpida levou sem ter pedido licença a quem tanto o amou.
Enquanto isso, a rua ganhava o nome de Rua dos Heróis do Ultramar e no largo da igreja, que até aos anos 40 do século XX fora um cemitério de onde haviam sido trasladados todos os corpos para outro lado, era erigido um monumento aos dois mortos da terra na Guerra de África.
O  tempo passou, o marido morreu e a mulher que já tinha ficado sem o filho ficou sozinha, sem ninguém.
Um dia cansou-se de viver numa terra onde lhe tinha sido roubada a vida e os sonhos, cansou-se de ter saudades ali e foi embora sentir saudades para outro lado. Foi para o Porto, deixou de ser vista na aldeia. Não deixou grandes saudades, daquelas que só quem ama sente. Apenas lhe sentiam a falta, a ausência, a não presença.  Era mais um lugar vazio, uma casa e uma placa com uma simples memória que, só por isso, o tempo não apagaria nunca.
E eu, com muitas viagens ainda por fazer, fui de novo à terra onde, entre alguns que foram parar à guerra do Ultramar, morreram dois jovens.
As casas continuam a ser restauradas ao ritmo do dinheiro dos donos. Gosto sempre de dar uma e outra volta à aldeia, revendo os recantos onde uns foram felizes e outros desgraçados, tiro apontamentos das que estão à venda e imagino-lhe novas histórias que lhes mitiguem o sombrio presente. Enfim, actualizo-me com um ou outro novo facto decorrido entretanto.
- Lembra-se do que lhe contei acerca desta casa e da dona? – Pergunta a minha interlocutora, ao passar pela casa onde nasceu o Alferes João Manuel Abrantes.
- Sim, claro! Como poderia esquecer isso?
- A senhora morreu há cerca de um mês num incêndio em Vila Nova de Gaia. Li no Jornal. Morreu ela e uma prima, se não estou em erro. Tive tanta pena dela! Que vida infeliz!
- De facto! Eu também vi – respondo, pensativa e quase indignada com semelhante destino.
Depois, dei comigo a pensar em Deus e sobre a pobre mulher, sobretudo nela. Agora, no final da vida, não lhe bastava ser velha, ter sofrido uma vida inteira e ainda tinha de acontecer um maldito incêndio para lhe provocar uma morte atroz?
O Diabo deve existir mesmo e é certamente um criado ao serviço de Deus para desactivar os corações que o próprio Deus deve ter  dotado com grande resistência para tanto sofrimento junto.

Templa - 24 de Outubro de 2012



Título alterado devido à utilização excessiva de maiúsculas. Consultar Regras Gerais do Fórum, alínea 12. Obrigado.

Templa - Membro nº 708

Epah Templa! Excelente!! Fiquei sem palavras! :)
"Nada é absoluto, tenho um relógio avariado que está certo duas vezes por dia"

"Sejas uma pedra ou um grão de areia, na água ambas se afundam"

Sandrareginabr

Olá, Alex e Sandra. Já eu, durante o meu fim de semana na Serra da Estrela vim cheia de palavras e com duas ou três histórias para contar... ;D

Obrigada, bjs.


Templa
Templa - Membro nº 708

#4
Mensagem alterada

Sandrareginabr
#5
Citação de: Abrunhosa em 24 outubro, 2012, 21:41
Mensagem alterada

Não entendi. O texto da Templa foi apagado e postado novamente ::)

#6
Citação de: Abrunhosa em 24 outubro, 2012, 21:41
Mensagem alterada



Não é verdade. Este texto  é inédito e foi escrito hoje durante a tarde. A única coisa que foi modificada foi o título, que estava em maísculas e passou a minúsculas... Ok. Sandra.

Bjs.

Templa
Templa - Membro nº 708

Sandrareginabr
Citação de: Templa em 24 outubro, 2012, 23:42


Não é verdade. Este texto  é inédito e foi escrito hoje durante a tarde. A única coisa que foi modificada foi o título, que estava em maísculas e passou a minúsculas... Ok. Sandra.

Bjs.

Templa

Templa querida, minha pergunta não foi dirigida a ti, pois pelo que tenho acompanhado do fórum as postagens permanecem com a data de publicação, me dirigi a Abrunhosa, pois não entendi o comentário dela  ;)

Citação de: Sandrareginabr em 25 outubro, 2012, 00:07
Templa querida, minha pergunta não foi dirigida a ti, pois pelo que tenho acompanhado do fórum as postagens permanecem com a data de publicação, me dirigi a Abrunhosa, pois não entendi o comentário dela  ;)

Ele, certamente, confundiu-se.

Bjs.

Templa. E o teu braço, está melhor?
Templa - Membro nº 708

Sandrareginabr
Citação de: Templa em 25 outubro, 2012, 00:40
Ele, certamente, confundiu-se.

Bjs.

Templa. E o teu braço, está melhor?

Vai melhorando... voltei a trabalhar hoje, ainda dói muito.
Beijos

#10
Mensagem alterada

Sandrareginabr
#11
Citação de: Abrunhosa em 25 outubro, 2012, 15:40
Mensagem alterada

Não conheço as leis portuguesas, mas no Brasil o ônus da prova é de quem acusa.

#12
ATENÇÂO


Nomeadamente ao membro " Abrunhosa", e a eventuais outros, com o mesmo tipo de comentário.

O PortugalParanormal, pauta-se por ser integro, dentro das possibilidades humanas, no que diz respeito
a manter este fórum, na maior harmonia possivel.


A membro Templa é sobejamente conhecida pela sua postura irrepreensivel, quer nos comentários,
quer nos textos de SUA AUTORIA .


Assim, e notando uma tentativa de difamação, em relação aos mesmos e uma acusação de plágio,
fica o membro "Abrunhosa" avisado, que não será tolerado esse tipo de provocação, nem de difamação,
pelo qual eu, assim justifico a eliminação dos seus comentários.


Caso resolva reincidir nos mesmos, tomaremos medidas adequadas.

Obrigado
Causa Debet Praecedere Effectum -  ( Não há efeito sem causa )

De Nihilo Nihil - ( Nada vem do nada )

trasladados todos os corpos para outro lado,


Olha, e não é que está aqui um grandecíssimo pleonasmo???

Acontece...
Templa - Membro nº 708

Sandrareginabr
Citação de: Templa em 01 novembro, 2012, 22:30
trasladados todos os corpos para outro lado,


Olha, e não é que está aqui um grandecíssimo pleonasmo???

Acontece...

Aos grandes autores é permitido, torna-se figura de linguagem e não vício  ;D