Minha terra ...

Filho nascido em terra selvagem,
Nas Terras Altas, fui gerado ...
Ainda sonho com sua paisagem,
Como animal selvagem, na selva criado ...

Depois o grande tormento,
Guerra, injustiça e morte ...
Foi um pesadelo, um momento,
Triste e malograda sorte...

Sem tecto apareci,
Barriga curta..vazia
Vi desgosto caído ali,
Que corrói a alma, razia...

Olhos humildes chorando,
Crianças, sedentas sofrendo...
Desesperados pais orando,
Multidão de gente gemendo...

Houve de tudo e de nada,
Coisa típica das gentes...
Ilusões á chegada,
Verdades e mentiras abrangentes...

Foi no Negro Continente,
Que um dia eu vi ...
Tantas cores, tanta gente,
E mil emoções eu senti...

Terra feita de simplicidade,
De gente grande e pequena...
Ora era uma barbaridade,
Um grande alarde, ou coisa serena...

Uma primeira alusão,
Que meus olhos prendeu...
O céu e sua imensidão,
Raiar do dia e noite breu...

Todos tem sua vaidade,
Gente pobre, gente abastada ...
Qualquer um desfila,
Apesar da fome alargada...

Terra de contrastes,
Terra de todas as tias...
A terra de bons e de trastes,
Das Kitandeiras e kitías ...

O gosto do pirão,
Da kissangua, katchibenba ...
Do funge, milho e feijão,
E kizomba do Prenda. ...

Há também Peixe Seco,
A picante Malagueta ...
A preço de um chaveco,
Uma qualquer pirueta....

Uma Cuca bem gelada,
Está sempre á La Carte...
Assim como o Déndém,
Da Muamba faz parte...

Mil sabores tropicais,
Da Mãe África sua essência...
Mil paisagens geniais,
Sua magia por consequência...

Muita gente conheci,
Boas e más, na verdade ...
Foi na alma que recebi,
O carinho e simplicidade...

Vou do meu bando falar,
Coisa rara de entender ...
Meia dúzia de encantar,
Era digno de se ver ...

Tenra idade dos canucos,
Tudo faziam para agradar...
Pretendendo, trocos miúdos
Para poderem amealhar...

Nunca eu lhes dei,
Ordem de pujança ...
Pois também sei,
Que é a fome de criança...

"Tio, um dinheiro, por favor",
Tenra idade do petiz ...
Todo o dia ao calor,
Sem torcer o nariz...

Candengues, pequenas crias,
Todo o dia, baldes carregar...
Cheios de pó e sem manias
Para o kuanza guardar...

Meu carro não lavam,
Sou disto incapaz...
Para onde vou eles não passam,
Mas não sou capataz...

Chamo então,"ó candengues !",
Eles já estão á minha espera...
Não me dão palavras eloquentes,
Olhos alegres, isso ...impera ...

Andam sempre em calções,
Tronco nu, sem excepção ...
Não é pelos Verões,
Mas da crua condição...

Contentam-se com migalhas,
Coisas pequenas, impressionantes ...
Culpa de pais e outras falhas,
Culpa do governo e dos beligerantes...

Chamo todos numa roda,
Quero que fiquem por ali ...
Prometo uma pequena boda,
Se esperarem por mim...

Olhares emancipados,
Do meu bando de crianças...
Olhares bonitos, mas magoados,
De vidas e andanças....

Volto depressa, correndo,
A fome não lhes dá trégua ...
Não comeria sabendo,
Que esperam á légua...

Assim que chego, uma canção,
Com sorrisos me recebem ...
Rodeiam-me em emoção,
Dou-lhes o que querem...

Os meus miúdos são assim,
São assim os meus dias...
Seja no começo, ou no fim,
São as tristezas, e alegrias...

Deles tenho saudades,
Pois é longa a distância...
Também tenho saudades,
De seus risos e inocência...

Cinco cidades conheci,
Luanda, Namibe e Lubango...
Depois para cima eu vim,
Em Benguela e Lobito, morando ...

Foi dura a despedida,
Pois nem tudo é terrível...
Foi uma dor , moída,
Qual amor impossível...

By: Seth

opa já nem sei o que dizer olha parabéns

Estava a ler o teu poema e logo fui assaltado por esta voz intemporal  
Dedico-a às tuas palavras.

Cesária Évora - Saudade

opa já nem sei o que dizer olha parabéns

Obrigada rita 

Estava a ler o teu poema e logo fui assaltado por esta voz intemporal 
Dedico-a às tuas palavras.

Boa escolha Mephisto ...

Realmente são saudades .... 

Abraços

Mais um para o livrinho

Mais um para o livrinho

Sim ... um dos muitos ...

Obrigada 

Obrigada rita 

de nada

Também sinto muita saudade de Luanda... da Corimba, do Mussulo, dos merengues dançados, do ritmo.... dos corpos suados, dos passeios de piroga, das mariscadas no Restinga e dos gelados do Baleizão!

Também sinto muita saudade de Luanda... da Corimba, do Mussulo, dos merengues dançados, do ritmo.... dos corpos suados, dos passeios de piroga, das mariscadas no Restinga e dos gelados do Baleizão!

Uiii... eu sei...e como sei ... 

Eu nasci em Portugal. Mas passei uma boa parge da minha infancia e juventude em Angola.
E ainda hoje não resito a um bom ritmo: a corpo balança, os pés pateiam, as ancas movem-se.......

E hoje, África morre lentamente.... É muito triste voltar, muito!

Eu nasci em Portugal. Mas passei uma boa parge da minha infancia e juventude em Angola.
E ainda hoje não resito a um bom ritmo: a corpo balança, os pés pateiam, as ancas movem-se.......

E hoje, África morre lentamente.... É muito triste voltar, muito!

É sim ... estive lá em 2009, e é triste realmente.
Foi duro ver todo aquele País mergulhado em 8 e 80, lado a lado ...

Enfim..ao menos deu para relembrar cheiros e paisagens ... 

Seth, hoje estás imparável, na "minha onda".
Infelizmente nunca lá fui. Os teus versos lembram-me umas fotos de criança negras, tiradas por quem lá esteve à muitos anos atrás, que nunca esqueci porque ao vê-las, sinto como que um misticismo, que não sei explicar...
Agora me lembro... amanhã é domingo, dia de Cachupa aqui ao lado, humm... acho que já sei o que vou almoçar amanhã  

Seth, hoje estás imparável, na "minha onda".
Infelizmente nunca lá fui. Os teus versos lembram-me umas fotos de criança negras, tiradas por quem lá esteve à muitos anos atrás, que nunca esqueci porque ao vê-las, sinto como que um misticismo, que não sei explicar...
Agora me lembro... amanhã é domingo, dia de Cachupa aqui ao lado, humm... acho que já sei o que vou almoçar amanhã 

Há dias assim ...mais voltados para memórias e histórias ... 
É a magia que África tem ... e que não tem explicação !!

Cachupa ou Muamba, são excelentes escolhas !! 

Obrigada Tina