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  • Mosteiro de Leça do Balio, Matosinhos
    Iniciado por karoxa
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O SANTO HOMEM BEM CHEIROSO E UMA INFIDELIDADE EM BRASA


Texto. Joel Cleto e Suzana Faro (in O Comércio do Porto. Revista Domingo, Porto, 31 Outubro 1999, p.21-22.)

Um monge convertido em santo pelos seus dotes bem cheirosos e a sua intervenção num caso escaldante de infidelidade conjugal. O palco é o Mosteiro de Leça do Balio, às portas do Porto, onde é ainda possível observar, além do sarcófago do "Santo Homem Bem Cheiroso", a Capela do Ferro do tecto da qual penderia o objecto que, em brasa, a acusada teve que empunhar.


O medieval Mosteiro de Leça do Balio, cujas origens remontaram, seguramente, aos finais do século X, é por muitos considerado o melhor exemplar da transição do românico para o gótico, devido às profundas transformações que sofreu em meados do século XIV. Mas, para lá da sua importância arquitectónica e patrimonial, o velho Mosteiro esconde muitas histórias, lendas e tesouros, cada uma delas merecedora, por si só, de uma visita.

Assim, hoje programamos a nossa máquina do tempo para uma viagem que se inicia em 1306. Nesse ano morre D. Frei Garcia Martins, balio que durante muitos anos se encontrou à frente dos destinos do Mosteiro. Ora, segundo a tradição, consta que cerca de quarenta anos depois, porque do túmulo saía um odor que, com o passar dos dias, se ia tornando cada vez mais intenso e agradável, foi este aberto, constatando-se que o corpo do antigo balio se mostrava quase intacto. Quase... que a barba e as unhas tinham continuado a crescer durante aqueles anos. O povo, que acudiu em grande número para ver tal maravilha, não hesitou em passar a designar o monge por Homem Santo e outros por Santo Homem Bem Cheiroso – pois há características que é justo salientar!

O santo, nunca reconhecido como tal pela Igreja, e hoje esquecido, terá realizado muitos milagres e foi bastante prestigiado. Em 1758 refere-se mesmo como "tendo obrado muitos milagres, em sinal dos quais lhe oferecem os fieis algumas ofertas de cera".

Um dos milagres mais famosos deste bem cheiroso Santo ficou perpetuado na lenda da prova do ferro-caldo. Segundo esta narrativa popular, acusada de adultério com um Frei do Mosteiro, a mulher de um ferreiro do vizinho lugar do Souto, vê-se obrigada a ser submetida à referida prova como meio de afirmar a sua inocência. Consistia esta em marchar pelo menos oito pés com um ferro em brasa nas mãos, sem o largar ou emitir qualquer queixume. Submetida a tal teste, a mulher não só não gemeu, como andou muitos mais metros do que seria necessário para provar a sua inocência, reforçada ainda pelo facto de, no final, não ter ficado com qualquer marca de queimadura nas mãos. Tudo isto porque avançara com a brasa em direcção ao túmulo do bem cheiroso D. Frei Garcia Martins.

O sarcófago ainda hoje é visível. Depois do primeiro impacto imposto pela monumentalidade do templo, composto por três naves, o visitante que penetrou no interior da igreja do Mosteiro de Leça do Balio não terá dificuldade em detectar a referida sepultura. Para tal desloque-se ao longo da parede da nave esquerda que, fica a saber, se designa do Evangelho. A meio do caminho encontrará o túmulo granítico, assente em três animais pétreos, de uma cativante fealdade. Hoje, da sepultura já não sai qualquer odor perfumado e não consta que o "Santo" ande muito activo, mas a estória que anteriormente narramos motiva-nos a continuar a visita. Assim, deixe para trás o túmulo de D. Frei Garcia "Bem Cheiroso" Martins e prossiga ao longo da nave do Evangelho até atingir, no final, a absidíola, que melhor é chamá-la por Capela do Ferro, pois é por este nome que é popularmente conhecida. Tal designação resulta do facto de, segundo a tradição, no tecto da capela ter estado pendurado durante séculos o ferro utilizado na prova da mulher do ferreiro.

Já que aí se encontra, não resistimos à tentação de alertar a atenção do leitor para diversos pormenores. Nas paredes são ainda visíveis algumas das pinturas e frescos que originalmente recobririam uma parte significativa das paredes. No chão desta capela é notória também a sepultura de Frei Estevão Vasques Pimentel, o balio responsável pelo aspecto actual do monumento na sequência das profundas obras que mandou executar no século XIV. E se a sua sepultura é modesta, o mesmo não podemos dizer de uma inscrição evocativa da sua vida, em bronze, e datada de 1374. De origem flamenga e profusamente decorada, esta lâmina sepulcral é um dos maiores tesouros da região. A ela voltaremos numa próxima "Viagem no Tempo".

Finalmente, e ainda na Capela do Ferro, sobressai o sarcófago com estátua jacente, embutido num arcossólio, de D. João Coelho Prior do Crato, falecido em 1515. A autoria deste monumento deve-se ao grande artista da época Diogo Pires, o Moço.
Quando sou boa, sou boa, mas quando sou má, sou melhor ainda.

Este fim de semana houve uma feira medieval. Estive quase para ir mas...


Abraço


Templa
Templa - Membro nº 708

Citação de: Templa em 09 setembro, 2012, 23:05
Este fim de semana houve uma feira medieval. Estive quase para ir mas...


Abraço


Templa

Pois houve e foi bem giro, adorei. Para o ano tens de ir.
Beijinho  ;D
Quando sou boa, sou boa, mas quando sou má, sou melhor ainda.