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  • Espectros da Guerra
    Iniciado por Etcetra
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Espectros da Guerra

Se a morte violenta pode levar um espírito a permanecer no lugar do último suspiro, então não há no mundo local mais mal-assombrado que um campo de batalha. E, de fato, há muitos relatos em vários países de exércitos fantasmas e soldados espectrais.
Escribas da antiga Grécia registraram os medonhos combates nas planícies de Maratona, ao norte de Atenas, quando soldados atenienses rechaçaram os persas, em 490 a.C. Durante anos, muita gente comentou ter ouvido o silvo de lanças e os gritos de agonizantes ao visitar o campo; alguns chegaram até a afirmar que viram a luta dos atenienses ataviados de bronze contra os persas protegidos por escudos de vime. A história britânica é farta de relatos semelhantes – o que prova a natureza paranormal daquelas ilhas brumosas ou a paixão inglesa por uma boa historia de fantasma. Só a guerra civil de 1642 – 1648 rendeu pelo menos três cenas especiais -- os combates de Naseby, Marston Moor e Edgehill – duas delas supostamente encenadas no céu. Na idade moderna, duas guerras mundiais teriam deixado rastros fantasmasgóricos de Dieppe até a Birmânia.
Quem crê e busca motivos para o aparecimento dessas cenas tem suas teorias. Alguns acham que o imenso terror e dor experimentados num campo de batalha deixam resíduos psíquicos. Outros falam em retrocognição,ou deslize do tempo, momentos raros em que passado e presente colidem. Sejam quais forem as explicações, as histórias são testemunho vivo dos horrores da guerra.

Ecos aéreos da Batalha de Edgchill
No dia 23 de outubro de 1642 ocorreu a primeira batalha campal da guerra civil inglesa, entre as forças do rei Carlos I e as forças parlamentaristas, comandadas por Robert Devereu , terceiro conde de Essex. O combate foi tramado nas cercanias de uma pequena elevação chamada Edgehill, a uns 50 quilômetros de Oxford, mas não foi decisivo. Durante todo o longo e cansativo dia, armados com espadas e pistolas, soldados atacaram e recuaram num torvelinho desordenado. Na manhã seguinte,sem que nenhum dos dois exércitos pudesse reivindicar vitória, as tropas recuaram.
Cerca de dois meses depois, viajantes passando por Edgehill à noite assustaram-se ao ouvir o troar de tambores distantes. Segundo um folheto de 1643, intitulado "Um Grande Misterio no Céu", as testemunhas viram "No céu os soldados incorpóreos, responsáveis por aquele clamor (...) um dos exércitos (...) portando as corres do rei e o outro a insígnia parlamentar na cabeça. (...) Até as duas da manhã (...) persistiu tenebrosa luta, o chocar-se de armas , o ribombar de canhões , os gritos de soldados (...) surpreendendo e apavorando os pobres homens." Os viajantes relataram a batalha aérea às autoridades municipais, que voltaram até lá com eles na noite seguinte e viram a mesma cena repetida. Oficiais monarquistas com ordens do rei Carlos para ir até Edgehill e pôr fim aos boatos também viram os exércitos fantasmas e "reconheceram do lado monarquista vários amigos pessoais mortos em combate". Todas as testemunhas juraram ter dito a verdade.


Fonte: livro Encontros Espectrais da Editora Time -Life Livros


Nota: encontrei algo mais
Passadas cerca de três horas de combate, os soldados do rei fugiram, deixando o campo em poder dos vitoriosos parlamentares. Depois, a visão desapareceu. Os que a tinham presenciado correram até junto do juiz de paz e do sacerdote mais próximo e contaram-lhes o que tinham visto. Na noite seguinte, véspera de Natal, o juiz, o sacerdote e outras personalidades acompanharam os pastores até ao local da aparição, que voltou a manifestar-se. A batalha fantasmagórica repetiu-se nos dois fins-de-semana seguintes, chegando a notícia da sua ocorrência aos ouvidos do rei Carlos I no seu quartel-general em Oxford. O rei enviou uma comissão no fim-de-semana seguinte, e os seis enviados puderam testemunhar o fenómeno.

«O que isto significa só Deus sabe, e talvez o tempo o venha a revelar», disse o escritor que registou os factos num panfleto publicado pouco depois, em Janeiro de 1643. Ele interpretou-os como sinal da ira de Deus contra a Inglaterra. A Guerra Civil era considerada pela maioria das pessoas não apenas uma revolução política, mas antes uma mudança da ordem estabelecida por Deus – uma época em que tudo era possível, desde castigos divinos a manifestações e eventos sobrenaturais.

Campos de batalha dos mortos
Entre 15 e 22 de Dezembro de 1517, muitos habitantes de Verdello, em Bérgamo, Itália, viveram aterrorizados por visões de uma batalha renhida várias vezes por dia. Onofrio Bonnuncio escreveu a Bartholomeo de Villachiara a 23 de Dezembro descrevendo batalhões de cavalaria, infantaria e artilharia avançando em trajes de batalha, com figuras reais à cabeça. A carta afirma que os dois exércitos se confrontaram com grande ferocidade, «e no meio da batalha mais terrível foram todos cortados em pedaços ... Meia hora mais tarde, tudo fica calmo, e não se vê mais nada ... excepto marcas na terra de muitos homens e cavalos, carroças, lugares queimados e árvores despedaçadas».

As visões repetidas, que se deram no campo de batalha de um anterior confronto entre Franceses e Suíços, eram consideradas avisos de guerras horríveis que estavam para vir. O papa Leão X interpretou-as como ataques turcos e escreveu imediatamente aos príncipes da cristandade, incitando-os a tomar parte numa cruzada. Em Janeiro do ano seguinte, os Turcos avançavam rapidamente, vencendo todos os exércitos que encontravam.

As visões de exércitos tem sido tradicionalmente consideradas arautos de acontecimentos futuros, mais do que fantasmas. Eram conhecidas tanto dos Judeus como dos Romanos, e apareceram durante a Revolta dos Macabeus (167 a. C.) e antes da queda de Jerusalém (70). Durante a Idade Média, foram referidas em várias partes da Europa.

Na véspera do solstício de Verão de 1735, um exército fantasma apareceu sobre uma montanha da Cúmbria, Souther Fell, em Inglaterra. Um relato desta visão foi publicado em Gentleman's Magazine em 1747 por alguém que tinha falado com testemunhas. Em 1737, também na véspera do solstício de Verão, outras pessoas viram o mesmo exército. Na véspera do solstício de Verão que precedeu a Rebelião Escocesa de 1745, cerca de 26 pessoas viram de novo o exército fantasma.

Aquilo que distingue a maioria dos exércitos fantasmas de outros fantasmas militares é que aqueles não são vestígios de um passado remoto. Os seus uniformes são contemporâneos, ou quase contemporâneos, sendo essa a razão pela qual parecem tão reais.

Guerreiros Fantasmas no Coração da Colina
Inúmeras lendas envolvem o tranqüilo oeste inglês. Talvez a mais poderosa das lendas da região seja a do castelo Cadbury,no condado de Somerset. O forte abandonado da Idade do Ferro fica no topo de um morro que tem a fama de ser não só oco, como habitado.
Uma professora primária contribuiu para a fama misteriosa da região ao relatar ter visto uma estranha procissão na colina Cadbury, na década de 30. Ao passar de carro por lá, com um companheiro, afirmou ter visto várias luzes brilhantes descendo devagar o morro. Aproximando-se, verificaram tratar-se de tochas, presas á ponta de lanças de um batalhão de guerreiros. Um enorme cavalheiro liderou os volta para a escuridão e todos sumiram.

O relato da professora poderia ser apenas mais uma história de fantasmas, se não fossem os lendários ocupantes de Cadbury. Segundo a crença local, a colina foi, em uma certa época, sede da corte do rei Arthur. Arqueólogos confirmam que o antigo forte pode ter sido a morada de algum chefe do século VI, na época em que o guerreiro Arthur lutou contra os saxões. Há séculos que os moradores da região dizem que Arthur mora com seus soldados dentro da colina Cadbury e que patrulha o forte a cavalo, nas noites de luar. Está à espera, dizem eles, de que a Inglaterra entre em guerra e convoque uma vez mais seus serviços.

A Busca dos Mortos dos Mortos da Batalha de Nechtansmere
Fazia uma noite desagradável, a chuva se transformara em neve e a estrada estava perigosa. A senhorita E. F. Smith saíra de uma festa e ia voltando para casa, no remoto vilarejo escocês de Letham, no dia 2 de janeiro de 1950, quando o carro derrapou e caiu num barranco. Ela não teve outra alternativa senão percorrer o resto do caminho a pé, com seu cachorro.
Eram umas duas da madrugada quando se aproximou de Letham. levando o cãozinho de estimação no colo. Num grande campo, viu o que mais tarde classificaria como "fantástico". Vultos com tochas acesas na mão movimentando-se em círculos, como se estivessem andando à beira de uma barreira invisível. Ao se aproximar, a senhorita Smith constatou que se tratavam de homens vestidos com roupas às antigas, procurando alguma coisa no chão. O cão começou a rosnar, fazendo com que a senhorita Smith saísse o mais rápido possível, pois tinha de medo de interromper a busca daquelas pessoas estranhas.

A história acabou chegando até a Sociedade de Pesquisa Psíquica, cujos investigadores concluíram que a senhorita Smith poderia ter visto uma reencenação da Batalha de Nechtansmere. Travada às margens de um lago raso, em 685 d.c, o confronto brutal entre os habitantes da Escócia e da Nortúmbria acabou com a morte de Ecgfrith, Rei da Nortúmbria, e uma vitória total dos escoceses. Talvez, especulam-se os pesquisadores e historiadores, a cena espectral representasse os celtas recolhendo seus mortos nas margens do lago, há muito desaparecido.

O soldado que ficou em Galipoli
As montanhas da península de Gelibolu, ou Galípoli, na Turquia, ainda estava escalavradas pelas trincheiras individuais da Primeira Guerra Mundial quando Leon Weeks chegou lá, no começo da década de 50. O arqueólogo norte-americano esperava encontrar relíquias da desastrosa campanha aliada de 1915-16... mas encontrou muito mais.

Uma noite, fumando um cigarro em frente à barraca, viu um homem descendo o morro vizinho. O vulto puxava um burro, cujo fardo desajeitado bem parecia um corpo. Weeks foi atrás, chamando o homem em voz alta, mas eles desapareceram na rochas antes que pudesse alcançá-los. Na noite seguinte, o arqueólogo viu-os de novo, de modo mais claro. e pôde até distinguir o brilho das botas de couro no fardo que o burro levava, o homem que puxava estava vestido como um soldado. Essas imagens estavam deixando Weeks muito confuso, pois tal situação não fazia sentido. Noite após noite os dois apareciam, mas Weeks nunca conseguia alcançá-los. Teve que deixar a região sem resolver o mistério.

Em 1968, por acaso Weeks teve a oportunidade de ver a coleção de selos de um amigo britânico. Ali, entre os selos comemorativos australianos, topou com uma cena familiar. Um homem puxando um burro que levava um ferido . O selo, explicou o amigo, fora lançado em 1965 em homenagem ao heroísmo do soldado raso John Simpson Kirkpatrick, um soldado inglês que servira como padioleiro na campanha de Galíopi. John e seu burro eram figuras conhecidas entre os soldados e oficiais, pois haviam salvado centenas de feridos em Galíopi, até ser morto por estilhaços, em maio de 1915. Os registros mostram que fora enterrado entre as rochas de Galíopi.


Os atiradores sem repouso de Hollandia
Todas as batalhas da Segunda Guerra travadas no Atlântico Sul foram sombrias e impiedosas.E talvez para alguns o pesadelo nunca tenha acabado. no final da década de 50, um repórter da BBC de Londres noticiou que havia uma casa em Kuala Selangor, na Malísia, ocupada outra por outrora por oficiais japoneses, onde ainda se ouviam ecoar os passos de intruso de botas pesadas. Outras fontes informaram que pescadores da ilha filipina de Corregidor, ferozmente disputada, continuaram vendo patrulhas espectrais durante anos, após a guerra. Até a Reuters, a respeitada agência de notícias britânica, deu ouvidos a uma história vinda da costa norte da Nova Guiné.

Na primavera de 1944, o porto de Hollandia foi palco de uma grande invasão aliada. A ilha, ocupada por japoneses, era um trampolim para as Filipinas e foi atacada pelas forças sob o comando do general Douglas MacArthur. Pegos de surpresa e vencidos, os soldados japoneses fugiram para o leste e os aliados entraram.
Os moradores locais disseram, porém, mais tarde, que alguns dos japoneses ficaram,pelo menos em espírito. Em1956, a Reuters noticiou que os moradores de Hollandia tinham pedido a membros de uma comissão japonesa para exorcizarem um canhão anti-aéreo abandonado na praia. Diariamente, à meia-noite, diziam eles, fantasmas de japoneses esqueléticos com capacetes enferujados apareciam para manejar o velho canhão. Talvez, sugeriram eles, os monges budistas conseguissem apaziguar os espiritos enraivecidos. Não se sabe se essa cerimônia foi realizada, nem se as almas perturbadas encontraram descanso.


Coleção "Mistérios do Desconhecido" da Ed. Abril..