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  • Ficheiro mitológico sobre Set (Antigo Egipto).
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chacalnegro
#15
Citação de: LaraKlum em 27 junho, 2012, 12:55
O chacalnegro tem razão relativamente à etimologia da palavra, mas é importante ter em atenção que 'st refere-se simplesmente à forma como a palavra para o nome de Isis era representada em hieróglifos, que como é conhecido não incluem vogais sendo como tal impossíveis de serem vocalizados sem conhecimento adicional, conhecimento esse que está em grande parte perdido. Ha estudiosos que acreditam que essa ausência de fonética no legado Egípcio é também uma forma de protecção, numa sociedade altamente ligada à magia, ao oculto e ao poder da palavra, garantindo assim o secretismo de vários mantras e palavras tidas como de poder nas crenças antigas. Tendo isso em mente, é bem possível que o 'st hieroglífico para Isis fosse na realidade pronunciado como Aset no tempo do império antigo. Claro, é impossível provar isso, mas é sem dúvida uma possibilidade a ter em aberto e uma razão que explicaria o uso da palavra Aset por ordens como a Aset Ka.

Como tal, temos de nos cingir às fontes mais antigas onde a palavra aparece vocalizada, que são gregas do periodo ptolomaico. Não é impossível que no Império Antigo se pronunciasse Aset, mas nada nos garante que não se pronunciava Asut, Usat, Usut, Isat, Asit e todas as combinações de vogais possíveis. Relativamente à ausência deliberada de fonemas nos nomes próprios, tens razão. O nome era (e é) algo que revelava a verdadeira essência do seu portador, logo, tornava-o vulnerável a ataques de magia e malefícios vários. Saber e pronunciar correctamente o nome de alguém era sinónimo de poder comandar esse alguém. Isso é bastante notório no judaísmo em que o nome de Deus não pode ser pronunciado por estarem propositadamente omissas as vogais. Isso seria equivalente a conhecer a verdadeira natureza de Deus.
No entanto, tal como na escrita fonética egípcia, os alfabetos semitas, de que o ugarítico e mais tarde o fenício são os mais antigos, as vogais breves não são grafadas. Coisa que permanecerá no hebraico, no árabe e no siríaco. Creio que se trata mais de uma imposição prática (com vista a reduzir o número de fonemas) do que mágica, até porque não é só verificável nos nomes próprios, mas igualmente nos comuns.

Citação de: LaraKlum em 27 junho, 2012, 12:55
Aqui descordo da opinião do chacalnegro, pois não vejo o Asetianismo como um fenómeno contemporâneo, pelo menos enquanto cultura que acredito ser algo realmente milenar. Enquanto fenómeno esotérico e influência ocultista consigo compreender a sua contemporaneidade, mas enquanto legado histórico e cultural a nível de espiritualidade penso ser algo realmente muito mais antigo, não devendo ser associado a fenómenos modernos como por exemplo o Satanismo ou mesmo a tradição Luciferina.
Relativamente ao Kemetismo que foi referido como tendo a sua origem no século XX, penso a referência ser para o Kemetismo Ortodoxo recriado por Tamara Siuda, com alguma influência do renascimento Kemético do século anterior. Isso é verdade mas não creio ter qualquer relação genética com o desenvolvimento da cultura e tradição Asetianas.


O Asetianismo é um fenómeno contemporâneo, senão teríamos referências anteriores. Não vale a pena usar o argumento da perseguição e de ser uma ordem oculta que se escondeu ao longo de milénios. 1º Os relatos dos perseguidores são o melhor para conhecer os perseguidos porque dissecam-nos e identificam-nos para que se possa conhecer os seus "erros". Isto é bastante visível nos detractores do Cristianismo primitivo. É graças a relatos como os de Clemente de Alexandria, que hoje conhecemos os Valentinianos, ferozmente perseguidos no séc. III.
2º Se se trata de uma ordem que prima pelo ocultismo, quer de crença, quer da própria existência física, não teria necessidade de publicar uma "bíblia" nem um manifesto assim tão recentemente. Ou se teria essa necessidade, sendo algo milenar, tê-lo-ia feito há muito.

Volto a dizer, a presença de Ísis será sempre muito forte enquanto arquétipo da Deusa Mãe, mesmo que metamorfoseada. No entanto o arquétipo é esse mesmo, a Grande Deusa, adorada na Pré-História, na figuras das várias "vénus" paleolíticas e hoje na figura da Virgem Maria. Mas, mais uma vez, não estou a pôr em causa os fundamentos de crença e ética do Asetianismo, ou a sua validade enquanto caminho espiritual.

Deixo ainda uma achega relativamente ao culto de Ísis. O cristianismo copta (egípcio) absorveu boa parte da liturgia do Antigo Egipto, para além da língua. Curiosamente, até há alguns 100 anos, as celebrações incluíam o canto e a dança à porta das igrejas, utilizando um instrumento musical herdeiro directo do culto a Ísis o sistro. Hoje isso já não é possível ver na igreja egípcia, mas continua vivo e pungente nas celebrações da igreja copta etíope.

Já agora, muito bom comentário o teu Laraklum. :)

Ligeia
Perdoem a intromissão, mas não resisti ao "apelo":

Citação de: chacalnegro em 27 junho, 2012, 12:35
(...)
Notícia de última hora: também há uma lápide, do séc. II, dedicada por uma sacerdotisa de Ísis e dedicada a esta deusa, em Braga. Também éstá registado o culto a Ísis em Sevilha, Guadix e Antequera, na Andaluzia. ;)

Existe, nas traseiras da Sé de Braga e Átrio do Episcopado, uma escultura em pedra dedicada a Ísis - a escultura de Nossa Senhora do Leite, sita na mesma rua:

«Rua de Nossa Senhora do Leite
Saindo do Largo Dom João Peculiar, para a traseira da ábside Sé, penetramos na rua de Nossa Senhora do Leite, antigamente denominada como rua das Oussias. Aqui teremos que nos de demorar um bom bocado. Há por aqui coisas que merecem a nossa atenção. Assim, logo à entrada deparamos com uma torre ameada, que serviu de sacristia à Capela Gótica de Nossa Senhora da Glória e, possivelmente, segundo alguns cronistas, deve ter sido uma das primeiras, senão a primeira Câmara Eclesiástica, e onde o Dr. Alberto Feio veio a descobrir, por entre camadas seculares de pó, pergaminhos de grande interesse para a história de Braga e da sua Igreja e, segundo informações que reputamos de fidedignas, o "LIBER FIDEI", um cartulário medieval que, graças ao incansável labor do insigne estudioso e investigador Prof. Doutor Avelino de Jesus Costa, foi publicado em três volumes.
Seguindo esta rua vamos deparar, nas traseiras da Capela de Nossa Senhora da Glória, (onde se encontra a maravilha do gótico, o túmulo do Arcebispo Dom Gonçalo), com as três janelas ogivais onde se sobressaem os lindos vitrais desta capela.
Um pouco abaixo, antes do soco, uma inscrição latina chama a nossa atenção. Trata-se de um documento epigráfico, estudado por vários epigrafistas e arqueólogos, de entre os quais vamos dar a interpretação de grande mestre que foi J. Leite de Vasconcelos :
"LUCRÉCIA FIDA, SACERDOTIZA PERPÉTUA DE ROMA E DE AUGUSTO DO CONVENTO BRACARA-AUGUSTANO DÁ (ou dedica ) ESTE MONUMENTO Á AUGUSTA ISIS".» - Luís Costa, Diário Anacrónico

Na Igreja do Salvador de Unhão (em Felgueiras) existe também uma Nossa Senhora do Leite dedicada a Ísis (da qual não encontro, de momento, nenhum texto associativo):

Prossigam, Senhores Doutores, prossigam... ;)






chacalnegro
#17
Citação de: Stalker em 29 junho, 2012, 22:59
Já reli esse tópico várias vezes, devo admitir que o grau de conhecimento aqui é muito bom. Aprendi muito com vocês. Obrigado.

chacalnegro: O tipo de provas que procuras não sei até que ponto ficarias satisfeito ou esclarecido. Já tentaste procurar saber a opinião de algum professor teu sobre o tema? Por exemplo: As Piramides de Gizé é uma Arte Asetiana e como sabemos do Antigo Egipto até aos dias de hoje vão muitos anos. a Aset Ka só apartir de 2007 é que foi "conhecida" pelo mundo devido aos livros publicados e website, mas, dentro do mundo oculto a Ordem é muito respeitada com o seu devido valor. É sempre dificil mostrar dados de uma forma "pública". Como pudeste ver, sou um estudante e tento aprender ao máximo possivel sobre os detalhes do Antigo Egipto, e, foste uma grande ajuda neste momento porque pude aprender mais contigo e com a Lara sobre o Asetianismo.

Obrigado novamente.

Stalker, as provas que procurava encontrei-as esta semana.
Todos aprendemos aqui e é um privilégio poder trocar opiniões com todos vocês. :)

Se abordasse um professor meu e falasse de pirâmides e Asetianismo, no mínimo ria-se na minha cara. As pirâmides não podem ser uma obra asetiana, porque o asetianismo conforme aquilo que nos é revelado pelo próprio movimento (que não é tão oculto assim) não existia no Antigo Egipto. As pirâmides evoluem a partir de uma coisa que pouco tem que ver com elas, excepto na base quadrada. Nem todas foram geometricamente perfeitas e evoluem, numa primeira fase, a partir das mastabas (que têm esse nome devido à forma de banco) que alguém (Imhotep) se lembra de empilhar em degraus. A primeira pirâmide, é portanto uma falsa pirâmide, resultante de 6 níveis de mastabas. Serviu de monumento funerário ao faraó Djozer. Depois há uma série de tentativas falhadas de construir pirâmides, sendo que duas delas pertencem ao faraó Snefru (pai de Khufu): uma foi construída com um ângulo errado e a certa altura lembraram-se de continuar a construção com um ângulo diferente dando uma pirâmide quebrada; outra, o ângulo ficou demasiado aberto, e a pirâmide ficou com um ar "acachapado". Nenhuma destas pirâmides de Snefru (que podem ser vistas em Dashur) foi usada como túmulo, porque ambas têm problemas estruturais graves e o faraó achou melhor não se fazer sepultar aí. Isto tudo para dizer que as pirâmides, por mais espectaculares que pareçam, não surgem do nada como se viessem de uma revelação. Desenvolvem-se e aperfeiçoam-se ao longo de 300 anos.





Pirâmides falhadas de Snefru