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    Iniciado por Templa
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" É lamentável tudo o que está a acontecer no ensino do português, incluindo o acordo ortográfico! A carta do João Abelhudo do 8º C é digna de ser retransmitida retransmitida....retransmitida...até que chegue a quem de direito COMO É DIFÍCIL PERCEBER O PORTUGUÊS!!!!!!!!!! Redacção   Declaração de Amor à Língua Portuguesa Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta. Por exemplo, isto: No ano passado, quando se dizia  ele está em casa ,  em casa  era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o predicativo do sujeito. O Quim está na retrete  :  na retrete  é o predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos  ela é bonita . Bonita é uma característica dela, mas  na retrete  é característica dele? Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito, e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo. No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de um complemento oblíquo . Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto, é tudo  complemento oblíquo , já está. Simples, não é? Mas qual, não há simplex nenhum,o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a outra: há por exemplo verbos transitivos directos e indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento,e os verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados, almoçar por exemplo é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, perceptivos, psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver? E isto é só o princípio. Se eu disser: Algumas árvores secaram,  algumas  é um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim sucessivamente. No ano passado se disséssemos  O Zé não foi ao Porto , era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa. No ano passado, se disséssemos  A rapariga entrou em casa. Abriu a janela , o sujeito de abriu a janela  era ela,subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço? A professora também anda aflita. Pelo vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português,que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas. Por exemplo,o que acham de adjectivalização deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer. Dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com 6 letras e a acabar em  ampa , isso mesmo, claro.) Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou : a gente vamos à rua. Puseram-me erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens,ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead, parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero. E pronto, que se lixe, acabei a redacção - agora parece que se escreve redação.O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa nenhuma, não nos quer impôr a sua norma nem tem sentimentos de superioridade em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que se escrevermos ação e redação nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem, andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem feita, para não sermos burros. E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: Ó João, onde está a tua gramática? Respondo: Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito. João Abelhudo, 8º ano, turma C (c de c r o, setôra, sem ofensa para si, que até é simpática)."
Templa - Membro nº 708

#1
Gostei. Sempre tive muito cuidado com o português e orgulhava-me de escrever correctamente, agora nunca sei se estou a dar erros. Apesar de ter comprado o livro com o novo acordo ortográfico, quando dou por mim estou a escrever como me ensinaram na escola. ::)


Mephisto
Espectacular Templa  ;)
Eu quero lá bem saber é do acordo ortográfico. Acho esta nova maneira de escrever um esterco de todo o tamanho. Foi digno de se ler.  ;)

tirando metade dos palavrões de gramática que ele refere ali em cima  ( e que verdade seja dita que não me lembro já de metade), so posso dizer que ja mandei a minha para la e desisti do acordo. Se me dizem que estou a dar erros, respondo muito elequentemente "erros não, português arcaico que não gosto dessas modernidades"... >:D
Homem!... Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses.»

TinaSol
Obrigado por partilhar Templa, deu gosto ler.
De acordo com o menino João Abelhudo, com os colegas de fórum, com o meu filho, com muitos professores... (e certamente com muita mais gente), e não me preocuparia minimamente com o novo acordo ortográfico se não tivesse o meu puto na escola.

Citação de: Nita em 19 junho, 2012, 22:58
e muito sabe este aluno,estou impressionada ;)

Ok. Juro que não fui eu. E também acredito que a setôra o tivesse ajudado na correção. Eu também o ajudaria, se o joão tivesse assim ideias tão brilhantes.... ;)

E concordo com os meninos que responderam,  o português e a matemática estão uma  ....pa. Até porque essas cabeças pensantes ainda não repararam que, com as novas e complicadas terminologias,  têm vindo a afastar de dia para dia os pais e encarregados de educação do ensino dos seus filhos. Eu não sei o que é um complemento de evento prolongado e outras tretas assim.

Por isso é que, um dos meus sobrinhos, péssimo aluno a português, quando era eu a ensiná-lo tinha sempre positiva. Mas pronto.

Abraço

Templa
Templa - Membro nº 708

Citação de: Templa em 20 junho, 2012, 15:36
ainda não repararam que, com as novas e complicadas terminologias,  têm vindo a afastar de dia para dia os pais e encarregados de educação do ensino dos seus filhos. Eu não sei o que é um complemento de evento prolongado e outras tretas assim.


Pois aí é que está...como é que eu vou explicar ao meu filho, que a mamã que até era óptima aluna, não o pode ajudar, porque já não percebe patavina de nada!!!

Que se dane o acordo ortográfico, eu continuo a falar e a escrever conforme aprendi!!

Abraço
Alpha