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  • da alma dos animais e de cantigas
    Iniciado por chacalnegro
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chacalnegro
A doutrina Cristã, de certo modo alheia-se da imortalidade a alma dos animais, negando-a, uma vez que se tratam de seres não racionais e de consciência ausente. As Escrituras são omissas quanto a essa questão, pelo que se depreende que esta omissão é uma negação factual da existência de alma nos animais. Não obstante existir no Velho testamento uma história em que uma jumenta pode ter consciência por inspiração divina. Esta história é contada no livro de Números, sendo relativa a Balaão, profeta de Israel que é conduzido ao "bom caminho" pela sua jumenta, que a certa altura o admoesta por palavras.

Curiosamente, quando analisava algumas das Cantigas de Santa Maria, deparei-me com um caso deveras curioso ocorrido na vila alentejana de Terena.
Convém dizer que as "Cantigas de Santa Maria" são uma colectânea de poesia trovadoresca galaico-portuguesa, dedicada à Virgem Maria. Esta colectânea é constituída por 427 "cantigas", com as respectivas pautas de modo a que os poemas possam ser cantados e acompanhados por música. Trata-se do maior conjunto lírico musicado da Idade Média, sendo atribuído a Afonso X de Leão e Castela (avô de D. Dinis) e  composto em meados do séc. XIII. Para este efeito foram utilizadas numerosas "colecções" escritas dos milagres da Virgem, bem como antigas tradições orais. Uma parte dos milagres relatados nas Cantigas ocorreram em Portugal, sendo a vila de Terena o que apresenta maior número de milagres.
É de acrescentar que este sítio era a Fátima da Idade Média e recebia peregrinos não só de Portugal, mas de diversas localidades castelhanas da raia. No mesmo local existiu um santuário romano dedicado ao deus lusitano Endovélico.

A cantiga nº 228 é referente a Terena e refere-se ao milagre da cura de um macho. Até aqui nada de espantoso, no entanto, a cura ocorre, não por rogativas humanas à Virgem, mas por iniciativa do próprio macho! Segundo o poema, há vários anos que o animal estava tolhida das patas traseiras e, não havendo remédio o seu proprietário resolveu abatê-lo. Pouco antes do abate, o macho vendo a morte aproximar-se resolveu levantar-se do estábulo e ir a coxear até à igreja. Não é explícito na cantiga, mas supõe-se que o macho terá ido à igreja rezar à Virgem pela sua cura!?
A Virgem assentiu e, para provar que às pessoas que estavam na igreja que, de facto, havia sido curado, deu 3 voltas ao edifício, acabando por se ajoelhar diante do altar em agradecimento.

O refrão é bastante revelador:

Tant' é grand' a sa mercee | da Virgen e sa bondade,
que sequer nas beschas mudas | demostra sa pïadade


"Tão grande é a mercê da Virgem e a sua bondade, que até nas bestas mudas demosntra a sua piedade"

O que este relato tem de surpreendente é o contexto católico em que se insere, teoricamente adverso à capacidade de raciocínio e de fé entre os animais. Em última análise, adverso à existência da alma entre seres não racionais...
Note-se ainda que o homem medieval apesar de viver numa sociedade eminentemente teocêntrica, tal como o de hoje era capaz de actos de extrema intolerância mas também de grande de compaixão e carinho pelos seus animais.













Ilustrações originais da cantiga 228.





TinaSol
Omissão não quer dizer negação, pelo que é questionável, depende do ponto de vista, presumo.
No entanto apenas me recordo da bíblia fazer referências a animais, utilizando-os até para representar o mal (como a serpente), mas que estes devem ser respeitados pois são criaturas de Deus.

chacalnegro
#2
Citação de: TinaSol em 27 março, 2012, 12:27
Omissão não quer dizer negação, pelo que é questionável, depende do ponto de vista, presumo.
No entanto apenas me recordo da bíblia fazer referências a animais, utilizando-os até para representar o mal (como a serpente), mas que estes devem ser respeitados pois são criaturas de Deus.
Sim Tina, tens razão. Onde queria chegar era ao facto de os animais poderem ter pensamento racional, honrar o sagrado e poderem ter alma. É por aí, de qualquer modo pelo seu estado de pureza serão sempre inocentes e criaturas de Deus. Aliás, sendo parte da Criação são sempre criaturas de Deus antes de qualquer outra coisa.

TinaSol
#3
De qualquer forma, o que nos distingue do animais é a cultura, no caso do cão por exemplo, eles aprendem a viver em sociedade, quer na deles, quer na nossa, e têm capacidade de resposta ou adquirem "esperteza", tive um cão que ia ás minhas aulas da primária, quer dizer não para aprender a matéria ;D, mas sabia como se comportar, recordo-me tb que quando era pequena, esgueirei-me para a praia e o meu pai foi dar comigo a morder as orelhas ao cão porque me puxava pela roupa e não me deixava entrar na água (ah que saudades daquele canito, este parecia mesmo uma pessoa). Os budistas assumem que os animais têm alma. E há também os irracionais de duas patas (já estou a divagar...). Bem lá está, depende né...
Mas parece-me que, pelo que me recordo não afirmo com certeza, a bíblia mencionava animais mais para representar algo ou então para castigo, por exemplo os monstros ou as pragas.
Em todo o caso, agora que começava a pesquisar este assunto surgiu: "Como havia necessidade de distinguir entre animais limpos e imundos, os animais limpos se deram a conhecer através do rebaixamento diante de Noé à medida que eles entravam na arca. Uma opinião diferente sustenta que a própria arca distinguia os puros de impuros, admitindo sete dos primeiros e dois dos segundos." - mas não define quais os puros e os impuros, será que alguém sabe?

chacalnegro
Sim, Tina é isso. Quando fiz este post não foi com intenção de validar a existência de alma ou razão nos animais, mas mostrar o paradoxo entre a doutrina religiosa e a interpretação popular sobre as "capacidades" animais. Mostrar que na Idade Média como hoje havia quem maltratasse os os animais, mas quem os acarinhasse e visse neles bondade e "razão espiritual".
Em relação a Noé, considerando o contexto em que o Génesis foi escrito, o porco será definitivamente um animal impuro.

#5
Eu acredito que os animais, têm alma, e que quem perdeu os seus animais de estimação. que um dia quando morrerem, os vão encontrar no outro plano espiritual. Têm acontecido casos, em que os cães, gatos, porcos, cavalos, etc...,têm salvo a vida dos seus donos, e muitos cães têm morrido em cima das campas dos donos que faleceram. Os animais têm sentimentos puros e verdadeiros. Por isso acredito mesmo que eles têm alma, e que quando morrem, os seus espiritos vão para um plano superior.
Aqui vai um video de exemplo, que vi no youtube.
Mesmo com 2 tiros , cão salva o dono na Serra Gaucha - "RUBENS"

chacalnegro
Quem sabe, amiga gitana, quem sabe...

Citação de: chacalnegro em 27 março, 2012, 14:20
Sim, Tina é isso. Quando fiz este post não foi com intenção de validar a existência de alma ou razão nos animais, mas mostrar o paradoxo entre a doutrina religiosa e a interpretação popular sobre as "capacidades" animais. Mostrar que na Idade Média como hoje havia quem maltratasse os os animais, mas quem os acarinhasse e visse neles bondade e "razão espiritual".
Em relação a Noé, considerando o contexto em que o Génesis foi escrito, o porco será definitivamente um animal impuro.

Pois, por isso os judeus não comem carne de porco...
Templa - Membro nº 708

chacalnegro
Citação de: Templa em 02 abril, 2012, 19:55
Pois, por isso os judeus não comem carne de porco...
É uma imposição religiosa decorrente do Levítico (11). Esta proibição é extensível a todos os quadrupedes que não têm cascos fendidos, peixes sem escamas (pelo menos visíveis), todo o tipo de moluscos e crustáceos, repteis e animais carnívoros. Suponho que os coelhos também estão excluídos.

Ligeia
Citação de: chacalnegro em 25 março, 2012, 20:32
A doutrina Cristã, de certo modo alheia-se da imortalidade a alma dos animais, negando-a, uma vez que se tratam de seres não racionais e de consciência ausente. As Escrituras são omissas quanto a essa questão, pelo que se depreende que esta omissão é uma negação factual da existência de alma nos animais. Não obstante existir no Velho testamento uma história em que uma jumenta pode ter consciência por inspiração divina. Esta história é contada no livro de Números, sendo relativa a Balaão, profeta de Israel que é conduzido ao "bom caminho" pela sua jumenta, que a certa altura o admoesta por palavras.

...E depois ainda temos o caso alegremente paradigmático de S. Francisco de Assis (cujo Cantico del Sol era obrigatório nas aulas de Filosofia no Secundário, de onde fui expulsa tanta vez) e, já mais distante dos animais em sentido literal por se tratar de uma alegoria, o sermão aos peixes de Santo António pelo Padre António Vieira. Se no segundo é fácil perceber o papel dos animais (enquanto personificação dos vícios humanos), já no primeiro como compreender à luz da doutrina de então, o enorme respeito e diálogo de S. Francisco para com o irmão burro, com a irmã vaca e com todos os outros irmãos do reino animal?...

chacalnegro
Nem me tinha lembrado de S. Francisco de Assis!!! Pois aí o caso ainda é mais flagrante. Apesar de ter lançado este tópico não tenho a certeza do que diz a Igreja oficialmente acerca da existência ou não de alma nos animais. A pesquisa que fiz esbarrou sempre com sites espíritas e/ou da temática da reencarnação. Suponho que a Igreja tolere quem afirma que os animais têm alma, mas não confirma nem desmente.

Segundo opinião de um padre aqui da paróquia, que tem um lado espiritual, cães e outros animais têm alma sim.
O que acontece, nas palavras dele, é que a alma deles, por ser pura, não padece da incerteza da nossa.
Quando morrem, a sua alma é chamada de imediato a Deus e portanto, deixam de estar junto da alma dos que partiram, deixam de poder ser contactados.

Vocês podem rir-se, mas quando o meu cachorro morreu, eu quis saber onde ele estava e se tinha partido bem, e se estava bem.
Uma pessoa, que até hoje merece toda a minha confiança, disse-me que o espirito dele estava junto de Deus.
Ele sofreu muito cá, viveu 2 anos, necessitou de viver pouco tempo pois era um cachorro muito puro.

E eu, teria dado a minha vida pela dele :'( :'( :'(

chacalnegro
#12
Citação de: maxx2 em 04 abril, 2012, 18:37
Segundo opinião de um padre aqui da paróquia, que tem um lado espiritual, cães e outros animais têm alma sim.
O que acontece, nas palavras dele, é que a alma deles, por ser pura, não padece da incerteza da nossa.
Quando morrem, a sua alma é chamada de imediato a Deus e portanto, deixam de estar junto da alma dos que partiram, deixam de poder ser contactados.

Vocês podem rir-se, mas quando o meu cachorro morreu, eu quis saber onde ele estava e se tinha partido bem, e se estava bem.
Uma pessoa, que até hoje merece toda a minha confiança, disse-me que o espirito dele estava junto de Deus.
Ele sofreu muito cá, viveu 2 anos, necessitou de viver pouco tempo pois era um cachorro muito puro.

E eu, teria dado a minha vida pela dele :'( :'( :'(

Boas, quando o padre da tua paróquia refere "os outros animais", está a estender o conceito de alma a todos?
Também sempre tive a convicção de que os animais tinham alma e por não estarem sujeitos às solicitações da consciência encontravam-se no estado de pureza original da criação. É curioso que no mundo islâmico os animais, em teoria, devem ser tratados com respeito exactamente devido a esse estado de pureza. Os egípcios acreditam que os gatos quando estão a ronronar, na verdade estão em oração. Os galos, quando cantam na alvorada, na verdade estão a responder a um galo que está no céu, para exortar os humanos à oração da madrugada; o cacarejo que ouvimos é em rigor a afirmação "Allahu akbar (Deus é imenso)". Por outro lado, os animais para consumo humano, devem ser abatidos manualmente e com o mínimo de sofrimento, colocando as patas dianteiras viradas para Meca, como se fizessem a derradeira oração. Todos os muçulmanos estão interditos (mais uma vez em teoria) a consumir carne de cujos animais não tenham sido abatidos desta forma.
Não tem nada de mal afeiçoares-te aos teus cães, em casa dos meus pais há um gato que é tratado quase como se fosse o elemento mais novo da família. Tive um cão durante 11 anos, do qual me custou muito a morte.. :-\.
Isto foi só um aparte... ;)

Ele falou em animais.
Presumo que sejam todos.
Não aprofundei o assunto com ele, porque na altura só quis falar do meu cachorro.
E porque ele apesar de ter dito isso, não quis grande conversa.
A única coisa mais que referiu, foi o facto de um tio dele também ter tido um cão do qual gostava imenso, e de o ter sepultado numa campa e ir visitar a campa do cão frequentemente.
Mas foi logo mudando de assunto.
Na verdade eles sabem, e sabem, e sabem, mas não querem dizer nada (na minha humilde opinião)
Se eles dissessem tudo o que sabem deixariam de exercer controle sobre as pessoas, da forma como o fazem actualmente.

chacalnegro
#14
Sim, eles sabem bem mais do que parece. Ele deve ter tido medo que se valorizasse demasiado o caso, acabarias por lhe solicitar que rezasse missas de 7º dia pelo teu canito. Depois disso tinha o bispo à perna. ;D