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  • Vida de médium
    Iniciado por Templa
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O interruptor há muito apresentava deficiências, e a lâmpada do quarto, quando acesa, apagava-se muitas vezes, como se um fantasma invisível quisesse brincar com quem lá dormia. Mas ninguém tinha medo. Era ponto assente, o problema residia no interruptor, sem que o outro mundo tivesse interferência no piscar da luz. Era aborrecido, mas era só. Tivesse embora a casa às costas uma história pouco feliz, isso não era suficiente para os mortos virem lá da tumba assustar os vivos, sobretudo quando não tinham qualquer afectividade com eles.
Não, não era uma casa assombrada. Era apenas uma casa, mais uma, com histórias de amor, de raiva, de ódio e de sofrimento, como têm todas as casas normais. É assim a vida, é disto que ela se faz. E, quem quisesse chegar às memórias do passado, tinha de ter olhos especiais, daqueles que vêem para lá da matéria, voltam atrás no tempo e alcançam o futuro no mesmo instante.
Até que um dia, a Ana foi parar à casa com uma história pouco feliz, ao quarto onde um interruptor há tempos andava a fazer mau contacto, apagando a luz não se sabe por que concreta razão.
O que faltava ao interruptor em contacto, no mundo da luz artificial, sobrava naturalmente à Ana no mundo do espírito. Ela era o interruptor ,sempre ligado entre duas dimensões e, os do lado de lá, acotovelavam-se quantas vezes para a comunicação, sem a Ana saber muito bem como descortinar o conflito daquela alma, o que queria e que resposta dar ao assunto. Tinha apenas 23 anos.
Desde que se conhecia como gente, pessoas transparentes, vindas nem ela sabia de onde, foram visitas que nunca lhe faltaram, sob os mais variados pretextos. Ela pensava até que toda a gente era assim, que todos tinham aqueles olhos de raio x e que eram capazes de ver a vida até ao osso.
Até ao dia em que começou a via-sacra pelos médicos. Sobretudo pelos psiquiatras, aqueles para quem tudo tem uma razão científica, apoiada num método capaz de provar cabalmente que nada mais existe para além da matéria.
Depois de muito penar, finalmente, abriu-se uma porta. Um médico disse que a Ana não era maluca, não senhora, e mandou-a bater a outras portas. Foi a mãe quem a levou...
A Ana ficou então a saber que era médium, tal como a avó.
O problema, contudo, continuava a ser como haveria ela de lidar com esse assunto, num mundo onde raramente, na casa ao lado, se encontra alguém com quem se falar de coisas estranhas e inexplicáveis sem se correr o risco de ser apelidada de doida.
Diz  ela que "eles", de vez em quando, lhe pedem coisas e lhe fazem coisas. Até já a trancaram no quarto imensas vezes, até se fartarem, abrindo-lhe a seguir a porta. Ela já nem lhes liga...
Foi o que lhe fizeram no quarto do interruptor com mau contacto. Não a queriam deixar sair...
Então a Ana pediu ao jovem dono da casa, um rapaz mais ou menos mediúnico, que lhe abrisse a porta pelo lado de fora.
O moço apressou-se a cumprir o pedido, numa altura em que a casa, com dois contactos dentro e sempre ligados àquela outra dimensão na medida das suas capacidades, estava supra vulnerável às investidas do outro mundo, sem se saber que resultados seriam hoje conseguidos.
Foi quando uma mão gelada e invisível se colocou sobre a mão do rapaz, enquanto este, transido de medo, sentiu o corpo ser atravessado por uma força inexpugnável...
É habitual os fantasmas andarem atrás da Ana. Ela diz que também a ajudam na faculdade. Tem boas notas e um dia sabe que terá de dedicar-se por inteiro a esse mundo invisível, onde a morte não existe.
Mas desta vez ela, no quarto do interruptor com mau contacto, não viu o fantasma. Ele tinha ficado do lado de fora a assustar um elo mais fraco na cadeia da mediunidade...

Templa - 09-09-09
Templa - Membro nº 708

Templa, escreves muito bem!

Muito obrigado por partilhares connosco estes textos fantásticos, continua assim! :)

Obrigada Ice. Como deves calcular, este foi escrito expressamente para nós, aqui no fórum, ontem à hora do almoço.

Abraço


Templa
Templa - Membro nº 708

Uau! tens imenso jeito! :laugh: :laugh:
Parabéns!  :-*


Encantada com o teu conto :laugh:


sem ofensa tens uma enorme imaginação!!! 

já pensas-te em escrever um livro?


:-* :-* :-*



Muito bom o teu conto, obrigado por partilhares ;)

ANA
Muito real. Muito bonito.
Já pensaste em editar um livro de pequenas historias? :-*


Já editei, no Brasil, como uma grito de revolta por ter sido plagiada em Portugal... E não tem nada a ver com este tema. Sou muito versátil... risos

Chama-se cãodómino e é uma história toda "prá frentex". Um dia destes tenho que o editar em Portugal. Diz quem o leu que era só uma editora querer e seria um sucesso de vendas....
Templa - Membro nº 708

Ó "Anjinho" Perdido! Quem disse que é imaginação?! Nunca ouviste dizer que a realidade é bem mais rica do que a ficção?! Um dia destes posto aqui um dos contos,  baseadas nos meus sonhos ( pesadelos). Estes são vulgares de lineu,  e só acontecem quando eu estou algo mal disposta, normalmente com problemas de digestão.
Depois,  ainda tenho sonhos fruto de situações, se não mal resolvidas, pelo menos que me marcaram o suficiente para ter sonhos recorrentes.
Finalmente, há um ou dois dos "outros" que eu já partillhei aqui, nomeadamente, na noite em que o meu pai morreu e sonhei que a minha mãe, à altura também já falecida. Estava viva e pronta para tratar do meu pai, muito doente, de acordo com a "conversa" que tive com ela...
A gente sabe quando é que sonhar não é apenas dormir, não é verdade?!...
Abraços
Templa - Membro nº 708

Olá Nita e Angel (desculpem mas às vezes tenho de abreviar porque me esqueço de algumas coisas). Obrigada pelo vosso estímulo. Escrever, é um dos meus grandes prazeres. E, de facto, estas duas ou três coisas que escrevi  fluiram muito bem.

Xi coração
Templa - Membro nº 708


Olá Templa,concordo contigo quando disses que a realidade é mais rica «e eu que o diga» :laugh:

espero que tenhas mais probelmas de digestão«estou a brincar ;D »para poderes partilhares com nós :)

beijinhos :-* :-*

Esta não nasceu dos problemas de digestão... A que vou enviar amanhã é que sim. Foi um pesadelo e peras...
Templa - Membro nº 708


Oky cá estarei para o ler :D

obrigada por partilhares «digestões,pesadelos e realidade» :laugh:


:-* :-*

MissB
gostei imenso! escreves muito bem! :) continua a postar, pfv, gosto de ler o que escreves! :)

A Lunática voltou, já a vi por aqui e a MissB, será que, de vez em quando, não dá aqui uma espreitadelazinha?

Curiosa a data em que escrevi o conto - 09-09-09

E isto é igualmente um "relato e experiência",  embora não pessoal
Templa - Membro nº 708