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  • As projecções do "eu" no meio em que se insere. Exercícios de reflexão.
    Iniciado por Mephisto
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Citação de: Mephisto em 21 fevereiro, 2012, 12:23
Excelente ponto de vista Sharkuel.
Quando dizes não poderes julgar-te, não será isso fruto de uma determinação/imposição social resultando num preconceito de afirmação pessoal?
Repara que uma pessoa naturalmente segura de si, é habitualmente apelidada de convencida.

Boa questão. Aquilo a que chamamos "personalidade" é um conjunto de caracteristicas reunidas conforme o convivio com outros elementos, e o ambiente/cultura envolvente. Esta varia conforme a adaptabilidade de cada um, e conforme certas e determinadas circunstancias que cada um eventualmente encontra no seu percurso de vida.

Ser convencido normalmente é uma pessoa que auto-valoriza em demasia, muitas vezes nem corresponde a qualquer sentimento de auto-consciencialização do "EU". Muitas vezes tentam ser (exageradamente) algo que ambicionam ser, e tentam sê-lo a força toda, gabando-se do que são como se as outras pessoas atribuissem o mesmo valor a dedicação que tens ao te evidenciar socialmente como alguem "auto-consciente das suas capacidades".

Mas eu posso falar somente de mim, e simular esses mesmos sentimentos de terceiros, imaginando-me no lugar dessas mesmas pessoas para puder eventualmente construir um cenário, mas claro, esse mesmo cenario tendo como alicerces conceitos (pré-concebidos talvez) criados por mim, ou seja, o acto de opinar.

Mas a sociedade em si influencia imenso o caracter de cada um, a maneira como vemos as coisas, etc. Essas barreiras são colocadas pelo meio em que o "EU" se insere. Tudo é materia prima para a nossa construção, ficamos é dependentes de como a nossa personalidade reage aos elementos disponibilizados, pois varia de pessoa para pessoa o que esta assimila como "produto".
A vida é efémera, a morte inevitável mas a palavra é eterna...

Mephisto
#31
Compreendo a noção de 'convencido' apresentada na tua perspectiva. Não a aceito integralmente, pois não tem necessariamente de ser esse conjunto de ideias comum. Melhor dizendo, não obdece obrigatóriamente a um padrão tão evidenciado como gostariamos. Porém perfeitamente aceitável.
Afastando-nos então, dessa ideia geral, centrando-nos novamente no complexo de afirmação pessoal, por via de uma imposição dissimulada da sociedade. Pegando no teu exemplo de guerra, focando o comportamento colectivo dos soldados.
Poderá isso denotar um acto cobarde para com a individualidade?
Vejamos; muitos dos soldados, senão grande parte, são contra a guerra, no entanto lutam nela alheios às motivações ou vontades que as provocam.
Porque achas que isto se verifica?

Acho que aí é a necessidade de te sentires inserido em algo grandioso, e fazer parte de algo que é bem mais superior a algo que tu nunca irias conseguir sozinho, mesmo que para tal fim as tuas ideologias e crenças sejam postas em causa.

Dito isto, por exemplo, o regime Nazi. Foi um regime com excelentes ideias, o grande cerne aqui foi a omissão/difusão de informação por parte das cabeças que lideravam, corrompidos por ideais distorcidos e desumanos. Muitos dos assustadores soldados Nazis que foram para o campo de batalha, e mataram milhares de polónios, franceses, ingleses, etc, eram certamente excelentes pessoas, chefes de familia que iam para uma luta colectiva para assegurar talvez o futuro do meio onde este se insere (a Soberania Alemã), pois este mesmo meio assegura o futuro dos seus. Pode ser um de muitos motivos.

Mas é engraçado a questão da guerra. Pois o "EU" como individuo evita e censura a guerra em si, mas o "EU" colectivo já marcha para o campo de batalha, independente do motivo. Somos animais de rebanho.

Mas aqui há uma desfragmentação curiosa que me ocorreu. Não há "EU" sem o "TU" e o "ELE/As", pois se não existir ninguem para alem de ti, o eu deixa de fazer sentido, pois és unico. Agora a evidencia da unidade do "EU", a necessidade de ser distinto reside basicamente na necessidade de viver em comunidade, mas dentro desta fazer algo que nos distinga, apesar de desejares a mistura com outras pessoas, construindo uma rede de "EU"s, cada uma distinta da outra, mas que abraça muitas das mesmas caracteristicas, de modo a adoptar uma postura colectiva, para dar sentido a postura singular.

Somos um entre todos, todos como um e entre todos somos só um.
A vida é efémera, a morte inevitável mas a palavra é eterna...

Mephisto
#33
Sem sombra de dúvida, uma conclusão muito interessante.
Na minha perspectiva, após reflectir (e muito) na tua resposta, acho impossível reduzir o significado do Eu, ou da individualidade, por contraste com o Tu como dizia o Chacalnegro e tu evidencias novamente.
Ocorre-me que, a formação do Eu colectivo terá um inicio mais evidenciado a partir da instrução escolar, sendo que o Eu como individuo já se destaca desde que nasces. (A predisposição natural da pessoa).
Revi mentalmente a minha filha a titulo de exemplo mais próximo. A personalidade dela enquanto o meio se reduzia a casa-infantário (relações próximas família-amigos). O processo de desenvolvimento individual estritamente condicionado pelos valores base da moral.
E agora penso nela, enquanto miúda que frequenta a escola com consequentes alterações na personalidade. Um e outro são intimamente ligados mas o segundo destacando-se afasta-se do primeiro. Isto é uma realidade. O que tem se debatido até agora.

Citação de: Sharkuel em 21 fevereiro, 2012, 15:05
Acho que aí é a necessidade de te sentires inserido em algo grandioso, e fazer parte de algo que é bem mais superior a algo que tu nunca irias conseguir sozinho, mesmo que para tal fim as tuas ideologias e crenças sejam postas em causa.

Dito isto, por exemplo, o regime Nazi. Foi um regime com excelentes ideias, o grande cerne aqui foi a omissão/difusão de informação por parte das cabeças que lideravam, corrompidos por ideais distorcidos e desumanos. Muitos dos assustadores soldados Nazis que foram para o campo de batalha, e mataram milhares de polónios, franceses, ingleses, etc, eram certamente excelentes pessoas, chefes de familia que iam para uma luta colectiva para assegurar talvez o futuro do meio onde este se insere (a Soberania Alemã), pois este mesmo meio assegura o futuro dos seus. Pode ser um de muitos motivos.
Será então, o inicio de construção do Eu colectivo (na estrutura de formação da sociedade no geral) responsável por isto?
Qual a necessidade de alguém se sentir inserido em algo superior por via da destruição, da morte, do sofrimento? (isto em cenário de guerra e crimes) Por humilhação, gozo etc...(no geral)
Que motivações levam o individuo a querer sentir-se parte de algo superior a ele, se tudo o que lhe é superior, (à excepção da Natureza) é também humano e sobretudo um Eu individual de um alguém projectado nas massas?  

Deixo por enquanto apenas estas questões em aberto.

Citação de: Sharkuel em 21 fevereiro, 2012, 15:05
Mas é engraçado a questão da guerra. Pois o "EU" como individuo evita e censura a guerra em si, mas o "EU" colectivo já marcha para o campo de batalha, independente do motivo. Somos animais de rebanho.
Permite-me acrescentar: movidos a dinheiro >:D

chacalnegro
Na minha modesta opinião, o Eu colectivo é a expressão de 4 factores: 1º o Eu animal que procura satisfação individual pela ascenção no meio do grupo, coisa que sozinho não conseguiria; 2º Imposição, ou seja, o indivíduo é obrigado a participar e estar presente no seio um grupo, contra sua vontade e para o qual não tem a mínima vocação; 3º Medo da solidão; 4º altruísmo. É de notar que alguns destes factores podem agir em simultâneo.

Citação de: chacalnegro em 24 fevereiro, 2012, 15:07
Na minha modesta opinião, o Eu colectivo é a expressão de 4 factores: 1º o Eu animal que procura satisfação individual pela ascenção no meio do grupo, coisa que sozinho não conseguiria; 2º Imposição, ou seja, o indivíduo é obrigado a participar e estar presente no seio um grupo, contra sua vontade e para o qual não tem a mínima vocação; 3º Medo da solidão; 4º altruísmo. É de notar que alguns destes factores podem agir em simultâneo.

Sim, se levarmos o que estamos aqui a discutir, a tua observação é um resumo muito objectivo. Concordo plenamente.

A Humanidade em si é piramidal, e isso é algo que sempre aconteceu, desde dos tempos em que andavamos a viver em cavernas, a atear fogos com pedras e a matar bichos com paus. Como elementos indíviduais, não conseguimos trepar essa mesma piramide, ou muito dificilmente. Precisamos sempre de um apoio, uma "mão amiga" para nos ajudar a subir, devido a insatisfação que cada individuo sente em estar na base.

Independentemente da religião, cronologia, geografia, o padrão é o mesmo. É a natureza do "EU" humano.
A vida é efémera, a morte inevitável mas a palavra é eterna...

chacalnegro
#36
Citação de: Sharkuel em 24 fevereiro, 2012, 16:25
Sim, se levarmos o que estamos aqui a discutir, a tua observação é um resumo muito objectivo. Concordo plenamente.

A Humanidade em si é piramidal, e isso é algo que sempre aconteceu, desde dos tempos em que andavamos a viver em cavernas, a atear fogos com pedras e a matar bichos com paus. Como elementos indíviduais, não conseguimos trepar essa mesma piramide, ou muito dificilmente. Precisamos sempre de um apoio, uma "mão amiga" para nos ajudar a subir, devido a insatisfação que cada individuo sente em estar na base.

Independentemente da religião, cronologia, geografia, o padrão é o mesmo. É a natureza do "EU" humano.
Sim, é isso, o Ser Humano, pura e simplesmente não consegue viver sozinho, quer seja por uma questão de sobrevivência básica, quer por uma questão de sobrevivência mental.
A Humanidade é piramidal, embora esse estado de coisas só se torne flagrante a partir do momento em que há uma explosão demográfica e a criação de excedentes. Isso aconteceu há cerca de 10000 anos naquilo a que chamamos Crescente Fértil (Próximo Oriente e Anatólia). Talvez, a partir daqui se verifique um dos factores determinantes do Eu Colectivo: a imposição. Nesta altura, a que chamamos Neolítico, geram-se as primeiras elites organizadas que têm a capacidade de impôr a guerra e a paz, fazer produzir ou destruir. O Ser Humano passa a dispôr de tempo que antes estava condicionado aquilo que a Natureza lhe podia oferecer, portanto, para obter recursos passava numa busca incessante por caça e frutos sazonais.
Se passa a cultivá-los, podemos dizer de uma forma simplista que o tempo de crescimento dos recursos era empregue noutras actividades, sustentadas pela acumulação do excesso dos mesmos nos anos anteriores. Em traços gerais tudo funciona melhor, há abundância e um consequente aumento demográfico. Quem organiza esta sociedade em crescimento? As elites e a religião. A segunda fundamenta a primeira e ambas impõem.
O Neolítico é comparável à metáfora da expulsão do Paraíso, em que a Natureza é abandonada em prol das regras sociais. :-\