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  • Incorporação -relato clinico
    Iniciado por MARTA-R
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LUTO:
Estava 45 minutos atrasada para a consulta com a Carla. Ela aguardava pacientemente ser chamada para a consulta de hipnose clínica enquanto via pacientes, para outras práticas clínicas, entrar e sair da sala de espera. .
Quando eu entrei na sala a Carla conversava com uma paciente que vinha pela primeira vez á cogitoclínica. Desfiz-me em desculpas, contrariada com o atraso.
Apercebi-me de que não a cumprimentara ao entrar e fi-lo de imediato, dando-lhe dois beijos. Nessa altura reparei que estava outra pessoa na sala e, cumprimentando-a também, disse-lhe:
- Boa tarde.
Ela, inclinou-se para a frente sorrindo abertamente, como se já me conhecesse e disse-me:
- Olá "Marta".
Surpreendi-me com a sua mudança de atitude e com o facto de me tratar pelo nome, quando eu a desconhecia.
Saí para o corredor que dá ligação ao consultório e ali, olhando-me espantada, a Carla disse:
- Que estranho..., conhece-a?
Respondi-lhe igualmente intrigada:
- Nunca a vi...
Ela reforçou a sua estupefacção dizendo:
- Muito estranho mesmo. Acabou de me dizer que é a sua primeira consulta de psicoterapia com o Dr Jorge.
A Carla decidiu ir á casa de banho e eu optei por voltar á sala de espera e confrontar a rapariga que me fez o cumprimento tão familiar e perguntei:
- Desculpe, há pouco quando me cumprimentou, disse, "Olá Marta"?
Olhando-me intrigada ela corrigiu:
- Não, eu disse "boa tarde"
Se não houvesse outra testemunha do sucedido, diria que estava cansada e não teria escutado bem, mas não foi o caso.
Regressei ao meu consultório e ao questionar a Carla sobre os exercícios que ela deveria ter feito em casa, percebi que estava um pouco perturbada, pois nessa semana ao tentar faze-los, logo após deitar a cabeça no sofá, ouviu um "olá" bem nítido. Vivendo só com a mãe e não estando ninguém na sala, apanhou um grande susto e não voltou a tentar fazer qualquer exercício nessa semana.
Perguntei-lhe se estava interessada em perceber quem a teria cumprimentado. Ela disse que sim e iniciámos o relaxamento.
Carla estava a fazer terapia para ultrapassar o luto do pai que falecera há um ano e, na consulta da semana anterior, tinha-o visto e conversado com ele, num contexto em que ele se mostrara mais novo e bem disposto, permitindo-lhe uma nova despedida.
Nesta consulta, durante o exercício, eu tinha a imagem de um homem que, colocando uma mão por cima outra por baixo, segurava a sua entre elas. Estava inclinado, olhando-a nos olhos e sorria abertamente, dizendo repetidamente "Vou estar sempre aqui para te proteger, filha".
No final, para não a influenciar perguntei:
- Quem estava consigo?
Ela respondeu-me que era o pai, que este sorria olhando-a e segurando-lhe a mão. Perguntei ainda:
- Disse-lhe alguma coisa?
- Não ouvi nada, mas fiquei com a sensação que queria transmitir que me ia proteger.
Eu sorri-lhe contando-lhe o que vira e ouvira.
A consulta terminou e a Carla foi tranquila para casa. Eu é que não conseguia deixar de pensar no que havia sucedido na sala de espera, com a outra paciente.
Passadas duas semanas tive um "flash."A expressão com que a rapariga da sala de espera me olhou era a mesma com que o pai da Carla sorria para ela e, ao cumprimentar-me ela não disse "boa tarde", mas sim "olá", a mesma expressão com que o pai da Carla a tinha saudado há umas semanas na sala da sua casa, ao deitar-se no sofá, para iniciar o exercício. Percebi que o pai da minha paciente utilizou a rapariga que aguardava na sala de espera para se manifestar, sem que esta se apercebesse, cumprimentando-me pela segunda vez, pois eu e a sua filha, já havíamos interagido com ele na sessão da semana anterior.

Marta, não me parece o caso. Olá é um cumprimento muito frequente. A pessoa concerteza já ouvira falar de ti e cumprimentou-te de forma um pouco demasiado informal. Quando voltaste para a questionar, envergonhada, tentou corrigir-se. Não vejo aqui nada de estranho. Foste sugestionada pela semelhança de atitudes. O mais provável é a tua paciente ter utilizado o episódio da sala de espera para construír a imagem do pai durante a hipnose. Se és terapeuta sabes que há muito nos estados de hipnose que é construído por nós.

OLÀ". Rebuscada, mas poderá ser uma coincidência. No entanto, a expressão dela não consolida com o que é comentado, pois no momento do curioso cumprimento a Carla já estava de pé, de costas para a outra paciente, a expressão não foi construída pela paciente, pelo facto, que esta expressão era comum no pai, que era uma pessoa muito alegre e extrovertida. Desta característica de personalidade do pai eu e a paciente já sabíamos, a rapariga da sala de espera é que não.
Por outro lado, quando a confrontei ela não se mostrou constrangida, fez uma expressão de estranheza explícita.
Ainda assim, poderiam ser coincidências... não fora o facto de eu visualizar (sem qualquer sugestão a posição do pai em relação a paciente, a forma como ele a segurava na mão e a frase – vou estar sempre aqui para te proteger filha _ que no final da sessão a paciente relatou ter sentido como se fosse algo que ele transmitisse, embora não o tivesse escutado. Mas comunicação mediúnica, não me surpreende tem sido comum nas praticas clínicas. Note-se que nesta sessão o meu trabalho foi apenas de aprofundar a paciente e leva-la até ao cenário da sua sala, todo o resto da sessão foi uma interacção dela com o pai e onde eu só tive novamente interferência no despertar.
Quanto ao transe, eu não trabalho com hipnose condicionativa, estudei numa escola bastante formal, onde as praticas clínicas são cuidadosamente orientadas no sentido de não induzir sugestões em psicanálise, pois a forma como as próprias questões são elaboradas em transe podem comprometer a espontaneidade (e consequentemente a qualidade) da sessão.
Quanto á medunicidade em breve publicarei tambem um caso curioso.
Obrigada pelo comentário apollinnaire  :angel: