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  • Pedro,o lobisomem
    Iniciado por MissTiny
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Dizem pelos sertões que a aparência de um lobisomem é assustadora. Uns dizem que ele parece um cão. Negro, de olhos vermelhos, com orelhas pontiagudas, caninos e unhas enormes. Outros dizem que ele é como um porco. Peludo, com olhar ameaçador e grandes dentes afiados saindo pela boca. E todo mundo pode virar lobisomem: se tivermos o azar de sermos a sétima pessoa a deitar num lugar em que o bicho se deitou ou se formos o sétimo filho de um casal. Quando a pessoa vira lobisomem sente-se um bocado esquisito nas noites de lua cheia, especialmente às sextas-feiras. Em noites assim, a pessoa-lobisomem fica inquieta não suporta ficar em casa ou em qualquer outro lugar fechado e sai pelo mundo, desnorteada e se passar por uma encruzilhada é que a coisa acontece: a pessoa-lobisomem cai no chão, se contorce, rosna e aos poucos se transforma em uma fera terrível, a correr desembestada, percorrendo, da meia-noite às duas da manhã, sete cemitérios ou sete vales ou sete outeiros ou sete encruzilhadas e, ai Jesus, se encontrar pelo caminho um leitãozinho, cachorro ou criança.
Lobisomem tem sede de sangue! Se você, numa noite dessas, der de cara com um lobisomem por aí, só tem um jeito de se defender: ferir a besta com uma espingarda carregada com balas untadas na cera de uma vela que foi acesa durante três missas dominicais ou, melhor ainda, na cera de uma vela que foi utilizada na Missa do Galo (aquela que acontece no Natal). É tiro e queda! Ferido com balas bentas o bicho vira homem novamente.
O primeiro lobisomem que chegou ao Brasil chamava-se Pedro Gonçalves, ou melhor, ninguém sabia ao certo se era lobisomem ou não. Uns diziam que era, outros que não era... bem, vou contar o que sei sobre ele e você tire as suas próprias conclusões... Dizem que Pedro Gonçalves fora um próspero comerciante em Lisboa que por causas desconhecidas deixara tudo: mulher, filhos e propriedades para morar no Brasil. É certo que acumulou um bom dinheiro para a viagem, pois assim que chegou comprou um pequeno sítio, muito ajeitado, onde se ocupava em tratar de uma horta que soube tornar variada e farta.
Pedro era um homem muito peludo, suas sobrancelhas espessas, ligavam-se uma à outra e possuía uma barba cerrada e negra. Talvez, fosse a sua grave aparência, aliada ao seu carácter reservado, o que tenha iniciado as suspeitas de que seria vítima e que os mexericos do povo só fariam aumentar. Eu, particularmente, tinha simpatia por ele. Era, sobretudo, um homem solitário. Via-o semanalmente fazer compras na cidade. Olhar seco, passos firmes, gestos calmos e no contacto com as pessoas, por trás daqueles pêlos todos, revelava-se um homem polido e atencioso.
O fato de Pedro Gonçalves ser um sujeito quieto, que nunca falava de sua vida, acabou criando uma aura de mistério em torno dele. Sabe, no interior, todo mundo se conhece, uns sabem da vida do outro e não saber nada da vida de Pedro deixava muita gente incomodada e as pessoas falavam muito dele de forma que um comentário aqui, outro acolá acabaram tecendo um passado pra ele. Mas não bastavam os mexericos sobre seu passado, muito se falava sobre sua personalidade estranha, misteriosa. Diziam que Pedro evitava o sol e o calor, preferindo as sombras; que tinha a pele amarelada, que tinha uma sede insaciável, que não escovava os dentes, que havia fugido de sua terra, que odiava gatos, que não chupava sorvete... tanta coisa se falava sobre aquele homem que pareciam existir vários Pedros Gonçalves.
Tá certo que depois que ele chegou, algumas coisas muito esquisitas começaram a acontecer. Se não sei até que ponto era invenção do povo. Mas a família inteira da Dona Nenê garante que viu seu Pedro uivando no telhado e enterrando um osso no quintal. Seu Olavo, o sapateiro, disse certa vez, que Pedro Gonçalves tentou morder sua mão quando foi cumprimentá-lo. E todos comentavam o dia em que um casal de turistas, que passara perto de sua casa, garantiu tê-lo visto desfigurado, com a fascie de um cão e que ele os havia perseguido com clara intenção de feri-los. Virou até caso de polícia. Seu Pedro foi chamado à delegacia para prestar esclarecimentos. Ele disse que tudo não passara de uma brincadeira de assustar a que ele se entregava de modo a aliviar as tensões depois de um dia extenuante de trabalho. O casal de visitantes acabou indo embora e Pedro se safou com suas explicações. Aí a converseta se tornou insuportável, não sei se foi isso que fez com que Pedro vendesse tudo o que tinha e ir embora da cidade, mas as pessoas diziam que ele foi pois era um Lobisomem e temia ser descoberto. Eu vi, numa clara manhã, Pedro ir embora da cidade. Parecia triste e abatido. Nunca mais voltou.
Cá pra nós, que triste sina a de um lobisomem, não é? Mas tem um jeito de alterar o destino: é preciso ter coragem de ferir o bicho com um espinho fazendo-o sangrar. Outro jeito é ficar de vigília, esperando o homem virar bicho e sair desembestado pelo mundo, pra pegar suas roupas abandonadas durante a metamorfose e queima-las. Agora, pra você não virar lobisomem, preste atenção no que vou dizer: tem gente ruim no mundo. Tem gente ruim, capaz de muitas maldades. Tem pessoa lobisomem que gosta de ser lobisomem. Gente assim, quando presente que vai morrer, fica doidinho pra passar sua malfadada sina a alguém, por isso, quando estiver amparando um moribundo em seu leito de morte e essa pessoa olhar bem dentro dos teus olhos, como se quisesse ganhar sua alma e perguntar: "Tu Queres?" nunca respondas "- Eu quero." Pode ser lobisomem. Acredite, se quiser!


Fonte: pt.shvoong.com

Uma história interessante, sem dúvida. Sabes o que aconteceu ao Pedro depois de vender o que tinha e sair da terra?