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  • [Sines] Lenda da Senhora das Salas
    Iniciado por IceBurn
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Dona Vetaça (ou Betaça) Lescaris, princesa grega, vem para Portugal para servir como dama de honor de Dona Isabel, que ia casar com o rei Dom Dinis. Entrando em águas portuguesas, o seu barco é recebido por uma tempestade. No desespero, Betaça promete construir uma capela em louvor da Virgem no primeiro porto que encontrar. E que o castelo mais próximo fica com a relíquia do Santo Lenho que traz consigo. Dona Vetaça salva-se e as promessas são cumpridas.

Sines, o porto, fica com a capela (construção primitiva da Ermida de Nossa Senhora das Salas). Santiago do Cacém, de cujo termo Vetaça será dona, fica com o fragmento da Cruz de Cristo. A primeira ermida é uma construção austera, um pouco mais a leste do que a actual, sobre a nascente que hoje alimenta a Fonte da Dona Betaça.

Origem do nome. Salas ou Salvas?
Ao longo dos anos, os historiadores têm-se debatido com a questão do nome correcto da santa de Sines. O mais recente texto publicado sobre a sua ermida ("A Ermida da Senhora das Salas", incluído no catálogo "Da Ocidental Praia Lusitana", de José António Falcão e Ricardo E. Pereira) defende a contaminação pela proximidade de uns armazéns de sal ou de uma fábrica de salga (sala) que ali terá existido.

Dos que defendem a grafia "sala", há também quem remeta para uma derivação de "salir", termo utilizado no sentido de "morrer". Nossa Senhora das Salas será, então, outro nome para a Senhora dos Defuntos. O termo "salvas" tende a substituir "salas" a partir do século XVIII. Não há nenhuma fonte documental que forneça as razões da mudança. Pode, no entanto, ser uma homenagem às mulheres "salvas" da tempestade da lenda (Dona Vetaça, sua mãe e irmãs). Pode ainda designar as salvas com que Vasco da Gama saudava a "senhora de Sines" de cada vez que passava por este troço de costa.

Lenda de São Torpes, Santa Celarina e do primeiro templo cristão da Europa
Salvio Torpes foi um valido de Nero, convertido por São Paulo ao Cristianismo e martirizado por isso. Foi flagelado e decapitado pelos seus pares. O corpo foi metido numa jangada e lançado ao rio Arno, em Pisa, com um galo e um cão.

A lenda sineense diz que o corpo lançado ao Arno atravessou meio Mediterrâneo e parte do Atlântico para vir parar a Sines, à costa da Junqueira-Provença, no ano de 67.

A lenda tem três versões:
1) a cabeça deu à praia portuguesa e o corpo à praia francesa de Saint Tropez, na Provença – a relação com os topónimos portugueses é evidente;
2) o inverso;
3) a Junqueira recebeu o corpo todo.

Consta que a cabeça do santo está actualmente no mosteiro dos frades mínimos de São Francisco de Paulo, em Itália.

A interveniente feminina da lenda é Celarina (ou Celerina, ou Catarina), uma mãe de família romana, víuva de um governador. Quando o marido morre, retira-se de Évora para Sines. Um anjo avisa-a em sonhos para ir receber o corpo do mártir à praia. Encontra-o na jangada de junco, velado pelo cão e pelo galo.

A parte com interesse histórico da lenda começa aqui. Sobre um corpo santo ou não, terá sido erguido em Sines um dos primeiros templos cristãos da Europa? Celarina sepulta o cadáver junto da ribeira da Junqueira. Informado por ela, São Manços, bispo de Évora, manda erigir uma basílica no local [Arnaldo Soledade].

Vários autores medievais e modernos referem a existência e falam da importância do templo (Gerfou, Santo Andou, Usuardo, etc.). Alguns descrevem, inclusivamente, as suas qualidades arquitectónicas e artísticas. Muitos colocam-no na posição de primeira igreja cristã europeia (em competição com uma igreja em Saragoça e outra em Avinhão).

Vítor Torres Mendonça, n'"A Jangada de São Torpes", acha pouco crível que o templo tenha existido no local indicado. José Leite de Vasconcelos acredita que se tomou pelo templo o dólmen da Junqueira. A ter existido, são apontados dois agentes possíveis para o desaparecimento da igreja: os Bárbaros e os Mouros.

No final do século XVI, o Papa Sisto V ordena ao arcebispo de Évora que se certifique da existência das ossadas do mártir São Torpes na Junqueira-Provença. É descoberto um túmulo de mármore com um esqueleto humano, mas sem cabeça. Uma lápide certifica a autenticidade dos ossos. As mesmas escavações descobrem um crânio – os trasladores afirmam ser de Celarina. Um século depois, os ossos são removidos para a Igreja Matriz.

Ao longo dos anos, os devotos vão levando, cada um, a sua costela – e as relíquias, de São Torpes ou não, acabam nos altares domésticos dos sineenses. Uma ermida erguida a Celarina na ponta leste de Sines, à beira-mar, ainda está de pé no século XVIII. Mas já não no nosso. Em 1969, o historiador Arnaldo Soledade identifica algumas pedras na casa de um particular.

Nota: O lugar de São Torpes tem outra lenda. Onde agora existem dunas, houve uma aldeia que, certo ano, uma chuvada de areia soterrou; oito dias depois da tempestade, um galo ainda cantava debaixo da terra.



Já conhecia estas lendas muito interessantes.
Iei Or (faça-se luz)
Shalom Aleichem

As lendas são uma forma de contar as histórias que, com um fundo de verdade, foram passando de boca em boca através de gerações.

Muito interessante. Não conhecia bom tópico parabéns iso também é cultura geral :)