Ver a vida passar

De que me serve a vida senão para vê-la passar?
Algures fui outro que não sei ser e algures acreditei n'outro que fui antes de sê-lo.

Para que sou eu se não me sou sem dó nem só? Será esta imagem que passa apenas uma viagem dos outros intocável a mim mesmo? Algures serei alguém que não passou em mim.

E sorrio, porquê? E acredito, porquê? Tento, ainda, para quê? Porque me vejo na pele do outro; para ver o raiar de outro sol, n'outro horizonte, n'outro cosmos impossível.

Sou eu, apenas, em pequenez pseudo-divina, em inexistência quase inerte, em rasgos claros do outro que não me cabe; num lago aqui longínquo, mergulhado há espera que esta vida comece para vê-la passar e fingir que um fragmento de mim respira enfim.

SaraRS

Já não lia nada da tua autoria há algum tempo!... belíssimo texto poético, profundo, introspectivo...! Parabéns Sara!

Maravilhoso Sara... isto "cheirou-me" a Pessoa... arrepiei-me mesmo!

Muito bom e quero mais

Muito obrigada às duas