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  • A Alma Gémea - Miguel Esteves Cardoso
    Iniciado por SaraRS
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(...)
As almas gémeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se. Naqueles momentos em que alguém diz uma coisa, que nunca ouvimos, mas que reconhecemos não sei de onde. E em que mergulhamos sem querer, como se estivéssemos a visitar uma verdade que desconfiávamos existir, de onde desconfiamos ter vindo, mas aonde nunca tínhamos conseguido voltar.

O coração sente-se. A alma pressente-se. O coração anda aos saltos dentro do peito, a soluçar como um doido, tão óbvio que chega a chatear. Mas a alma é uma rocha branca onde estão riscados os sinais indecifráveis da nossa existência. Não muda, não se mostra, não se dá a conhecer. O coração ama. Mas é na alma que o amor mora. Todos os amores. Toda a vida.
A alma deixa o coração à solta, como tonto que ele é, e despreocupa-se e desprende-se do corpo, porque tem mais que fazer. E o que faz a alma? Mandar escondidamente na parte da nossa vida que não tem expressão material ou física. Está mal dito, mas está certo, porque estas coisas não se podem sequer dizer.

(...)
A alma não é uma essência ou um espírito; é a fonte, o repositório, a configuração interior. Expressões horríveis, onde as palavras escorregam para se encontrarem. Só resta repetir. A alma é de tal maneira que é aquilo, exactamente, de que não se pode falar.
A não ser que se encontre uma alma gémea. Gémea não é igual. É parecida. Não é um espelho. É uma janela. Não é um reflexo. É uma refracção.

(...) O desejo de encontrar uma alma gémea não é o desejo de reafirmarmos a unicidade da nossa existência através de outro que é igual a nós. É precisamente o contrário. É poder descansar dessa demanda. No fundo, todos nós duvidamos que tenhamos uma alma. Senão não falávamos tanto dela. Os melhores ainda são aqueles que a deixam a Deus.
Uma alma gémea é a prova que não estamos sozinhos. Ou seja: é a prova de que a alma existe. Não faz nem diz o mesmo que fazemos e dizemos — mas tem uma forma de fazer e dizer tão parecida com a nossa, que deixa de interessar o que é dito e feito. Uma alma gémea faz curto-circuito com os fusíveis corpo/coração/razão. Não é o «quê» — é o «porquê». O estado normal de duas almas gémeas é o silêncio. Não é o «não ser preciso falar» - é outra forma de falar, que consiste numa alma descansar na outra. Não é a paz dos amantes nem a cumplicidade muda dos amigos. Não precisa de amor nem de amizade para se entender. As almas acharam-se. (...)

Como é que se reconhece a alma gémea? No abraço. O coração pára de bater. A existência é interrompida. No abraço do irmão, do amigo, da amante, há sensação, do corpo, do tempo, do coração. Há sempre a noção dum gesto posterior. No abraço de duas almas gémeas, mesmo quando se amam, o abraço parece o fim. Uma pessoa sente-se, ao mesmo tempo, protegida e protectora. E a paz é inteira - nenhum outro gesto, nenhuma outra palavra, é precisa para a completar. Pode passar a vida toda. Não importa.

Quando duas almas gémeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter de viver. Não há necessidade, nem desejo, nem pensamento. A sensação é de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso que perdêramos desde a nascença.


Miguel Esteves Cardoso


Quando duas almas gémeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter de viver...

Profundo Sara e belo demais!
..."no woman no cry... cause when one door is closed, many more is open"...
Membro nr. 34334

Eu tentei seleccionar uma parte do texto que gostasse mais..mas não consegui.
Todo ele é belo, todo ele é verdadeiro, todo ele me toca.
Nem fazia ideia desta faceta do autor, tratando de assuntos mais profundos.

#3
Quando duas almas gémeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter de viver. Não há necessidade, nem desejo, nem pensamento.

Como é que se reconhece a alma gémea? No abraço. O coração pára de bater.
Então acho que já tenho a minha "tarefa" concluída, só não sei é quando é que o meu coração vai voltar a "parar de bater"...  :-\

Lindo texto, adorei!

sofiagov
Miguel Esteves Cardoso, adoro a escrita deste homem fenomenal mesmo...muito bom Sara.

Tu sabes escolher textos, Sara... é lindo lindo! :)

Este texto é algo de extraordinário! Lindo mesmo!!! :)

Quando duas almas gémeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter de viver. Não há necessidade, nem desejo, nem pensamento. A sensação é de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso que perdêramos desde a nascença.

Isto para mim é uma das melhores sensações que alguma vez se pode sentir
I see now that the circumstances of one's birth are irrelevant, is what you do with the gift of life that determines who you are"

Citação de: SaraRS em 10 maio, 2015, 21:33
As almas gémeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se. Naqueles momentos em que alguém diz uma coisa, que nunca ouvimos, mas que reconhecemos não sei de onde. E em que mergulhamos sem querer, como se estivéssemos a visitar uma verdade que desconfiávamos existir, de onde desconfiamos ter vindo, mas aonde nunca tínhamos conseguido voltar.

As coisas boas são para se ler e reler e reler...

"Cedo ou tarde você vai perceber, como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho". 
(Morpheus, The Matrix)

Citação de: cody sweets em 14 maio, 2015, 20:57
Este texto é algo de extraordinário! Lindo mesmo!!! :)

Quando duas almas gémeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter de viver. Não há necessidade, nem desejo, nem pensamento. A sensação é de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso que perdêramos desde a nascença.

Isto para mim é uma das melhores sensações que alguma vez se pode sentir

Todos estamos à procura destas sensações ...
Iei Or (faça-se luz)
Shalom Aleichem

#9
Encontrei minha alma gêmea e com certeza afirmo que se reconhece no abraço.
O tempo e espaço desaparecem, a cabeça fica vazia, só sinto uma grande paz, aconchego e leveza.
Sinto que tudo pode acabar naquele instante porque me reencontrei.
A parte que faltava em mim foi encontrada e sinto-me completa, inteira, plena!

Adorei o texto Sara!

Ainda bem que gostaste Quelinha :)

Fico feliz por todos aqueles que experimentaram a sensação.
Acho que quando há Amor verdadeiro, há sempre uma certa Paz no abraço.