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  • Hyeronimus bosch e o Túnel
    Iniciado por chacalnegro
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chacalnegro
Aproveito para colocar aqui uma pintura de Hieronymus Bosch, para quem não sabe é conhecido como um "antepassado" dos surrealistas, apesar de este movimento só aparecer 400 anos depois. A pintura representa a "ascenção dos abençoados", foi pintada por volta de 1490 e encontra-se no Palácio dos Doges em Veneza.

Bosch nasceu na cidade de s'Hertogenbosch, no sul da Holanda por volta de 1450 e morreu em 1515. Pouco se sabe da sua vida e admite-se que poucas vezes terá saído da sua cidade natal.
As sua obras estão cheias de demónios e monstros fantásticos, combinados com cenas de extrema devoção. Entre as suas obras mais importantes estão o Jardim das Delícias, que se encontra no Museu do Prado (Madrid) e as Tentações de Santo Antão (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa).

Mas voltando ao referido quadro, ele representa sem sombra de dúvida uma das imagens mais difundidas do fenómeno de EQM - o túnel com a luz ao fundo, acompanhado por seres angélicos. É a representação mais fiável e mais antiga que conheço sobre o assunto e para quem está habituado às iconografia desta época, verá que não é de todo coincidente com o que existe sobre as entradas no Paraíso.

Por outro lado, exclui a hipótese de alucinações provocadas por substâncias anestésicas como a ketamina que, obviamente não existiam no final da Idade Média.

#1
E cá está a famosa e infame "luz ao fundo do túnel". Só conheço uma pessoa que teve uma EQM: o meu tio que sofreu uma paragem cardíaca e esteve em coma durante 3 semanas.
Assim que acordou do coma e começou a agir normalmente contou que esteve num túnel muito escuro e que após andar um bocado viu a luz ao fundo do túnel, só que em vez de ir em direcção á luz deu a volta, e depois disso não se lembra de mais nada.
Pelo que ouvi este é um factor comum em EQM's, só gostava de saber porquê.  :)  

Já agora, bom post  ;)

chacalnegro
Citação de: ScaredyCat em 13 fevereiro, 2012, 16:59
E cá está a famosa e infame "luz ao fundo do túnel". Só conheço uma pessoa que teve uma EQM: o meu tio que sofreu uma paragem cardíaca e esteve em coma durante 3 semanas.
Assim que acordou do coma e começou a agir normalmente contou que esteve num túnel muito escuro e que após andar um bocado viu a luz ao fundo do túnel, só que em vez de ir em direcção á luz deu a volta, e depois disso não se lembra de mais nada.
Pelo que ouvi este é um factor comum em EQM's, só gostava de saber porquê.  :)  

Já agora, bom post  ;)
Olha, pois não sei, mas a verdade é essa, quase todas as pessoas que tiveram EQM, falam do túnel, só não sei se alguém esteve para lá dele e voltou... Mas é demasiada coincidência acontecer tantas vezes, o mais interessante é que não faz parte de nenhuma imagem (pelo menos que eu tenha conhecimento), que faça parte da iconografia do tema.

Quando vi esta pintura, lembrei-me automaticamente das descrições de EQM.

Também acho que seja muita coincidência... Será que alguém tem uma explicação para esta "visão"? Amanhã se tiver um bocadinho vou ver se encontro alguma explicação plausível.

Para mim faz todo o sentido, acho bastante pertinente o fato desse caminho ser descrito como um tunel (um caminho fechado, com apenas duas direções).  :) Ou se aceita a morte e continua em frente, ou não se aceita, temendo o que vem de novo e estagnamos, talvez até regridamos. Imaginem como isso seria de uma forma abstrata, e não no sentido literal da visão.

A alma é luz, logo, naturalmente é atraída para ela. Pensamentos ligados ao plano carnal, desviam, desorientam e confundem uma alma que foi entregue novamente ao plano espiritual. Pois, após esse acontecimento traumático, tal como mencionaste no outro tópico, chacalnegro, o nosso lado espiritual torna-se consciente e mais real, variando a dificuldade de adatação.

Demónios... e se nossos pensamentos/sentimentos forem uma barreira para pececionarmos o que realmente está perante nós? Não seria uma forma válida de os representarmos?

Quantas vezes, mesmo no plano carnal, não nos sentimos na "escuridão", porque tudo o que acreditamos/sentimos nos leva a crer que uma opção não é mais a mais correta, mas que as circunstâncias assim o exigem?

;)
""Ha no homem algo de fundamental, que nao se consegue."

Existem outras obras com a temática do túnel :



Gustave Dore - Deant e Beatrice

"Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta."
Carl Jung

chacalnegro
Citação de: amcsilva em 10 junho, 2012, 18:07
Existem outras obras com a temática do túnel :



Gustave Dore - Deant e Beatrice


Sim, claro, no entanto a de Bosch é a mais antiga, no panorama da arte ocidental

A visão do tunél, julgo que será o mesmo a subir as escadas para o céu. É quando sua alma deixa a terra/ corpo para viver uma viagem mistica, regressar ao plano Astral.

Ligeia
Mais um belo post, Chacalnegro ;) Pese embora o terror que as obras de Bosch me inspiram...  :P

Citação de: chacalnegro em 13 fevereiro, 2012, 14:46
(...)
Por outro lado, exclui a hipótese de alucinações provocadas por substâncias anestésicas como a ketamina que, obviamente não existiam no final da Idade Média.
(...)

Mas não exclui a hipótese de alucinações provocadas, por exemplo, pelo claviceps purpurea (esporão do centeio), muito comum na dita Idade e que, inclusivamente, levou a autênticos surtos epidemológicos de "avistamentos" de lobisomens  ;D Este fungo, além de alucinações pode causar o coma com as suas subsquentes "visões do túnel"... Não explica plenamente (nem todas, como é óbvio) tais experiências, porém foi causa de umas quantas EQM's medievais.

chacalnegro
Claro, alucinogéneos não faltavam. Por exemplo os contos popularem em que a princesa beija o sapo e este se tranforma em principe. Uma das hipóteses pode residir nas toxinas da pele dos sapos que poderia induzir tais alucinações.
A questão mesmo nem é o facto de haver alucinações, é o porquê desta em específico.

Ligeia
Citação de: chacalnegro em 30 junho, 2012, 10:14
(...)
A questão mesmo nem é o facto de haver alucinações, é o porquê desta em específico.

Arquétipos do incosnciente, passados ao longo de gerações graças a uma cultura que nos condiciona mais do que se fossemos cães de Pavlov?  ;D
(esta barbaridade deve-se a uma brutal dor de cabeça, é favor dar um pequeno desconto, lol)


TinaSol
#11
Também tenho uma amiga que teve uma experiência do género, no caso dela havia uma luz muito bonita, que não tinha medo, e que sentia escorregar pelo túnel, mas que se agarrava a ele a todo o custo e a pensava nos filhos que na altura eram pequenos.

Citação de: Ligeia em 29 junho, 2012, 20:41
Pese embora o terror que as obras de Bosch me inspiram...  :P

Fiquei curiosa.. a ver se dou uma vista de olhos nestas obras... :P

Lendo um pouco acerca do autor, este era cátaro (e assim à primeira vistas as obras dele são mesmo surreais) e associavam-no ao ocultismo. O Catarismo foi uma das maiores heresias da época medieval, tendo sido, entre as maiores, a última. Etimologicamente, o termo catarismo provém da palavra grega Katharos, que significa "puro". Os que aderiram a este movimento de reforma religiosa, que depois redundou em heresia, pretendiam, de facto, atingir esse estado de pureza absoluta.
Sabe-se que a Inquisição para prevalecer criava uma séria de "monstros" para intimidar as pessoas, alé da perguição que fazia e dos seus castigos.
Deduzo que as obras estejam associadas à mentalidade desta época e à obtenção do estado que os cátaros tanto queriam.

chacalnegro
#12
Não Tina, quando Bosch viveu, os cátaros estavam extintos há 200 anos. Além do mais, o catarismo não teve expressão no norte da Europa. Parece-me é que ele deve ter feito parte daqueles movimentos de renovação católica do séc. XVI, como os "Irmãos da Vida Comum". Se fosse cátaro, não se notava a profunda devoção aos santos, sobretudo Sto. Antão. Sabe-se que ele fazia parte de uma das confrarias mais importantes da sua cidade, a confraria de Nª. Senhora. Este misticismo quase alucinatório, parece-me que é uma característica dos artistas flamengos, também visível em Quentin Metsys e, sobretudo em Pieter Brueghel. Mas tens razão, uma das principais razões da espectacularidade demoníaca das obras dele, seria infundir terror.

TinaSol
Citação de: chacalnegro em 01 julho, 2012, 10:45
Não Tina, quando Bosch viveu, os cátaros estavam extintos há 200 anos. Além do mais, o catarismo não teve expressão no norte da Europa. Parece-me é que ele deve ter feito parte daqueles movimentos de renovação católica do séc. XVI, como os "Irmãos da Vida Comum". Se fosse cátaro, não se notava a profunda devoção aos santos, sobretudo Sto. Antão. Sabe-se que ele fazia parte de uma das confrarias mais importantes da sua cidade, a confraria de Nª. Senhora.

Já li uns artigos acerca de Bosch, havia quem questionasse se seria o último cátaro, se seria um cristão fervoroso, e num outro artigo refere que se acreditava que pertencia a uma das mais persistentes heresias a chamar a atenção da Inquisição, a dos Irmãos do Livre Espírito. Pelo pouco que tive oportunidade de ler, de facto, há muita incerteza acerca do significado ou da razão das imagens do pintor.

chacalnegro
Há uma edição da Taschen que explica bastante bem a origem dos temas de Bosch. Está pejado de alegorias e provérbios medievais flamengos. Por exemplo o peixe que aparece num dos volantes do retábulo do "jardim das Delícias" é uma alusão ao órgão sexual masculino, que na gíria flamenga da altura se metaforizava como peixe. Os cátaros nunca chegaram aos Países Baixos. Preferiam dispersar-se pelo sul de França e norte da Itália