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  • A Invisibilidade Pública
    Iniciado por cleopatra
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Aqui fica à consideração de cada um de nós:
:-\


Através de dados materiais, subjetivos e intersubjetivos, caracterizamos e discutimos um problema de Psicologia Social: a invisibilidade pública. O pesquisador conduziu-se pelo caminho da observação participante segundo o regime de uma pesquisa etnográfica, um dos procedimentos metódicos dos mais encarecidos em Psicologia Social. Tal método supôs o desempenho do oficio de gari pelo próprio pesquisador, durante seis anos e semanalmente. A invisibilidade pública é fenômeno que não pode ser suficiente e certeiramente investigado à distância do oprimido, à distância de quem vive por dentro sua ação corrosiva. Esta pesquisa inscreveu-se em dois níveis de investigação psicossocial: 1) Investigação participante de uma modalidade de trabalho não qualificado e subalterno (o trabalho de garis). Descrevemos, narramos e analisamos a operação de mecanismos sociais de reificação e subalternização no trabalho dos garis: o modo como são reprodutores e geradores de invisibilidade pública. Será reconhecível, em conteúdo e extensão, o quanto foi este o nível privilegiado de investigação nesta dissertação de mestrado. 2) Investigação participante da aproximação entre pesquisador e trabalhadores pobres. Buscamos descrever, narrar e analisar a existência de barreiras e aberturas psicossociais operantes no encontro e na comunicação entre o pesquisador e os garis. Será reconhecível, neste nível de investigação, o caráter de um exame apenas preliminar: seu desenvolvimento mais satisfatório, acompanhado de informações de campo ainda inéditas, corresponderá ao que pretendemos melhor desenvolver em regime de doutorado. Os dois níveis de investigação que discriminamos, todavia, comunicam-se: o exame do trabalho dos garis e o exame de nosso encontro com eles, como verificamos, são exames que várias vezes exigem-se e iluminam-se mutuamente; a despeito da ênfase posta sobre o primeiro exame, impossível que não antecipássemos já algo a espeito do segundo (...)

UMA LIÇÃO DE HUMILDADE !!!
                                         
Um Psicólogo fingiu ser varredor durante 1 mês e viveu como um ser invisível.

O Psicólogo social FB da Costa vestiu a farda de varredor durante 1 mês e varreu  as ruas da Universidade de São Paulo, onde é Professor e Investigador, para concluir  a sua tese de mestrado sobre "Invisibilidade Pública". Ele procurou mostrar com a sua investigação a existência da "invisibilidade publica", ou seja uma percepção humana totalmente condicionada pela divisão social do trabalho, onde se valoriza somente a função social e não a pessoa em si. Quem não está bem posicionado sob esse critério, torna-se uma mera sombra social. Constatou que, aos olhos da sociedade, os trabalhadores braçais são "seres invisíveis, sem nome"...
Ele trabalhava apenas meio dia como varredor, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas, mas garante que teve a maior lição de sua vida : "Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como varredor, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência", explica o investigador. Acrescenta que sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano.  "Os meus colegas professores que me abraçavam diariamente nos corredores da Universidade passavam por mim e não me reconheciam por causa da farda que eu usava."

- O que sentiu trabalhando como varredor?
Uma profunda angústia. Uma vez, um dos varredores convidou-me para almoçar no refeitório central, entrei no Instituto de Psicologia para levantar dinheiro, passei pelo piso térreo, subi as escadas, percorri todo o segundo andar, passei pela biblioteca e pelo centro académico, onde estava muita gente conhecida.  Fiz todo esse percurso e ninguém em absoluto me reconheceu. Fui inundado de uma indescritível tristeza.

- E depois de um mês a trabalhar como varredor, isso mudou?
Fui-me habituando a ser ignorado. Quando via um colega professor a aproximar-se de mim, eu até parava de varrer, na esperança de ser reconhecido, mas nem um sequer olhou para mim.

- E quando voltou para casa, para o seu mundo real, o que mudou?
Mudei substancialmente a minha forma de pensar. A partir do momento em que se experiencia essa condição social, não se esquece nunca mais. Esta experiencia mudou a minha vida, curou a minha doença burguesa, transformou a minha mente. A partir desse dia, nunca mais deixei de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe, que é importante, que tem valor.
         


Nota: gari significa - varredor de rua.           

fonte FB Costa - psicologo - tese de mestrado em 2002 - bv.fapesp.br
Iei Or (faça-se luz)
Shalom Aleichem

Excelente post

Quem já alguma vez vestiu uma farda de serviços sabe exatamente o que isso é... os srs doutores... vivem lá naquele mundinho... nem fazem ideia...  :( ...e o homem indica a causa do problema: "doença burguesa"...
a minha religião é a verdade...

sofiagov
Citação de: incertus em 04 janeiro, 2015, 21:05
Excelente post

Quem já alguma vez vestiu uma farda de serviços sabe exatamente o que isso é... os srs doutores... vivem lá naquele mundinho... nem fazem ideia...  :( ...e o homem indica a causa do problema: "doença burguesa"...

pois!!! concordo